A assessoria de Valdir Rossoni informou que o chefe da Casa Civil desconhece qualquer processo contra ele e garantiu não ter relacionamento com a Valor
A assessoria de Valdir Rossoni informou que o chefe da Casa Civil desconhece qualquer processo contra ele e garantiu não ter relacionamento com a Valor | Foto: Sandro Nascimento/Alep



Curitiba – A sessão de ontem na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná foi marcada por discursos inflamados acerca das investigações da Quadro Negro após matéria publicada na edição dessa segunda-feira (20) pela "Folha de S.Paulo". A reportagem informa que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Ministério Público (MP) estadual apuram o envolvimento do chefe da Casa Civil do Paraná, Valdir Rossoni (PSDB), no esquema de corrupção que teria desviado ao menos R$ 17 milhões da construção de escolas da rede pública. Rossoni chefiou o Parlamento entre 2011 e 2014, sendo sucedido por Ademar Traiano (PSDB), que também é citado pela publicação. Ambos negam qualquer irregularidade.
Há quase dois anos, a oposição na AL, formada por sete integrantes, tenta coletar assinaturas para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) relativa à operação, de desvio de recursos públicos de obras em escolas. Até agora, contudo, apenas 13 deputados endossaram o requerimento, sendo que o mínimo exigido é 18.
"Não há procedência, não há nenhuma afirmativa que comprometa a imagem do secretário [Valdir Rossoni]. Deve ser alguém que deva estar sem pauta", afirmou o presidente da AL, Ademar Traiano (PSDB). "Já afirmei por inúmeras vezes e reafirmo aqui: se quiserem fazer uma CPI que instalem o quanto antes para apurar isso. Não devo, não temo e não me intimido com esse tipo de atitude (...) Toda a e qualquer investigação tem o seu tempo. O que você está falando aqui é de uma matéria tendenciosa e não vou mais responder", completou.
Vice-líder da oposição, Requião Filho (PMDB) chegou a pedir, em discurso na tribuna, a demissão do secretário. "O governo sempre combateu com todas as suas forças a instalação dessa CPI. São tantas as coincidências na reportagem da Folha de S.Paulo que a gente começa a entender o porquê (…) Nós queremos saber o que realmente acontece com o dinheiro desviado da educação do Paraná (...) Se são inocentes, que peçam que o sigilo seja levantado do processo ou que deixem a Casa fazer uma CPI. Ele [Traiano], como presidente e muito próximo à bancada do governo, pode pedir que a base assine. Seriam 34 assinaturas em menos de 30 minutos", provocou.
Para o líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), a reportagem é "infamante". "Traz fatos que foram veiculados nas rodas de fofocas e que não se consolidaram. Nenhuma investigação há por parte do Ministério Público estadual que envolva o Chefe da Casa Civil em relação ao desvio de recursos que aconteceu na área da educação. O Rossoni é uma pessoa íntegra", disse. O parlamentar contou ainda que, particularmente, é contra a CPI, pois confia no MP. "Creio eu que as autoridades que têm competência para fazer essas investigações estão fazendo. A oposição é livre para colher assinaturas e cada parlamentar assina ou não de acordo com o seu entendimento".

O CASO
De acordo com a "Folha de S.Paulo", as investigações apontam que as construtoras contratadas pelo governo fraudavam as medições de desenvolvimento das obras por fiscais para conseguirem a liberação de recursos da Secretaria de Educação. A reportagem afirma que teve acesso a documentos em análise na PGR, incluindo indícios reunidos por funcionários da Valor, principal agente dos desvios. O caso corre em sigilo. Ainda de acordo com a "Folha de S.Paulo", uma das empresas investigadas operava no mesmo endereço do escritório político de Rossoni, no edifício Palladion, em Curitiba. "No 20º andar, funcionava a PB Construtora, empresa de fachada do mesmo dono da Valor, segundo registro na Junta Comercial. A PB, porém, não está nos arquivos do prédio comercial", diz trecho.
O escritório do secretário estaria no nome da companhoa J4RL Holding, de Jeferson Furlan Nazário. Ele é dono da Embrasil, que presta serviço de segurança na AL desde 2011. A matéria informa que o contrato foi prorrogado, sem licitação, até 2016, ano em que a Embrasil venceu uma concorrência para manter o serviço. "A PB teria funcionado entre julho de 2013 e dezembro de 2014. A suspeita é que Rossoni também usaria a sala nesse período. Ele alugou o imóvel três meses depois, com Nazário como fiador. O contrato acabou quando Rossoni foi para a Casa Civil, mas funcionários do prédio afirmam que ele continuou usando a sala", completa.

DEFESA
A responsável pelos pagamentos à Valor, Nilda Mattos Guerner, teria dito em depoimento ao MP que estranhava a construtura vencer todas as concorrências do governo. Ela teria afirmado ainda que recebia ligações de gabinetes de deputados para pressionar a liberação de pagamentos e que entre eles estaria Traiano. Ao jornal, Rossoni argumentou que alugou a sala comercial de modo legal e que não tinha conhecimento do funcionamento da PB Construtora no local. Procurada pela FOLHA no início da noite de ontem, a assessoria de imprensa do chefe da Casa Civil reiterou que ele não sabe de nenhum processo que o cite, nem de nenhuma investigação em curso no MP. Também garantiu que não tem qualquer tipo de relacionamento com a Valor, com seus sócios ou empresários.