Curitiba - A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro deverá avançar no segundo semestre sobre empresas apontadas como financiadoras dos protestos que resultaram na depredação das sedes dos três Poderes em Brasília. Os trabalhos serão retomados na próxima semana, quando termina o recesso no Congresso. Em minoria na comissão, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende apresentar um relatório paralelo após o término dos trabalhos.

A criação da comissão para investigar os atos golpistas era uma bandeira da oposição no início do governo. Na Justiça, um inquérito conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) já tornou réus mais de mil suspeitos, a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Em abril, o governo cedeu e decidiu apoiar a criação da comissão, que foi instalada no dia 25 de maio, com prazo de 180 dias.

A oposição acusa o governo Lula de ter permitido a ação dos invasores e argumenta que os participantes da depredação e os suspeitos de planejarem atos terroristas frustrados (como a explosão de bombas em um posto de gasolina e perto do aeroporto de Brasília) não eram integrantes dos acampamentos que pediam a intervenção militar para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Desde que os trabalhos começaram, no entanto, os oposicionistas não conseguiram avançar nessa linha de investigação.

Em maioria no colegiado, a base do governo conseguiu aprovar requerimentos para ouvir o ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques (acusado de ordenar a realização de operações para impedir eleitores de Lula de votarem no segundo turno das eleições do ano passado no Nordeste), do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que ainda não depôs. Também foi ouvido George Washington de Oliveira Souza, bolsonarista condenado a 9 anos e 4 meses de prisão por planejar um atentado a bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília em dezembro.

O depoimento de Torres é uma das apostas da oposição e da relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), na retomada dos trabalhos. Apesar de ocupar o cargo de secretário de Segurança do Distrito Federal quando os atos ocorreram, Torres estava nos Estados Unidos no dia 8 de janeiro. Ele foi preso no dia 24 daquele mês, por determinação do STF, e libertado em 11 de maio.

Mas a linha principal será a investigação dos financiadores dos atos. Na semana passada, a comissão recebeu um relatório da Agência Brasileira de Investigação (Abin) que lista 12 empresas suspeitas. “Juntas, elas têm R$ 412,6 milhões de faturamento anual; 132 caminhões dos 272 enviados a Brasília são de pessoas jurídicas, indicando que empresas financiaram o acampamento no QG do Exército”, disse a presidente do PT e deputada Federal Gleisi Hoffmann (PR).

Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), integrante governista na CPI, diz que fio sobre financiadores dos atos está sendo puxado
Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), integrante governista na CPI, diz que fio sobre financiadores dos atos está sendo puxado | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Integrante da CPMI, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ, foto acima) destacou que metade dos caminhões identificados na capital federal no dia 8 de janeiro pertencem a empresas ligadas ao agronegócio ou ao garimpo. “São 11 documentos que mapeiam quem propagou fake news sobre as eleições, estimulou os ataques e planejou novas ações violentas, mesmo após a invasão aos Três Poderes. Começamos a puxar esse fio”.

Relatório alternativo

Membro titular da comissão, o deputado federal Filipe Barros (PL-PR) disse à FOLHA que a oposição já começou a discutir um relatório paralelo ao que será apresentado pela senadora Eliziane Gama. “Temos que considerar que nós somos minoria, de qualquer forma faremos um relatório alternativo”, disse o parlamentar.

Um dos itens do relatório, de acordo com o deputado, será um comunicado da Polícia Militar do Distrito Federal a respeito de uma tentativa de depredação da sede da Polícia Federal em Brasília no dia 12 de dezembro, quando um líder bolsonarista foi preso. “A Polícia Militar afirmou que os autores do quebra-quebra não estavam nos acampamentos, mas hospedados em hotéis”, disse Barros. A oposição aguarda o depoimento do general Marco Gonçalves Dias, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) quando os ataques ocorreram. O militar foi exonerado por Lula após os atos.

A avaliação de Filipe Barros a respeito dos trabalhos é positiva. “Estamos contentes com o resultado, conseguimos demonstrar que nenhuma das narrativas da esquerda procede. O governo agiu dolosamente de modo a deixar que invadissem os prédios públicos para ter resultados políticos”. Sobre os participantes dos atos, no entanto, ele disse que ainda não há uma conclusão. “Até agora não há uma conclusão, mas a equipe de transição do governo sabia da possibilidade de manifestações no dia 8 de janeiro”.