A Câmara de Vereadores de Londrina voltou atrás e aprovou o projeto de lei que permite o aporte à Sercomtel, com a transferência de dois terrenos, sem as emendas propostas pela Comissão de Finanças na quinta-feira passada. O pedido foi feito pelo presidente da telefônica, Christian Schneider, que levou até representantes da Copel ao plenário para justificar a solicitação.
Na terça-feira da semana passada, os vereadores aprovaram, em primeira discussão, o texto do prefeito Alexandre Kireeff (PSD) que transfere duas áreas para a Sercomtel na Gleba Palhano e no loteamento Alphaville, no valor de R$ 7,6 milhões. A medida deve garantir o poder de investimento da telefônica e evitará possível intervenção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Entretanto, os parlamentares incluíram duas emendas. As alterações determinavam que os valores dos terrenos fossem atualizados no momento da transferência e que a alienação fosse autorizada pelo Legislativo. O presidente da comissão, Mário Takahashi (PV), justificou que a medida impediria futura manobra política.
Schneider afirmou ontem que a autorização da Câmara para a venda poderia atrapalhar a transformação dos terrenos em debêntures. Além disso, argumentou, os acionistas poderiam ter rejeição em aceitar o aporte devido à exigência.
As informações foram passadas aos vereadores em reunião a portas fechadas, na presença do presidente da Copel Participações, Julio Jacob Junior.
Com a derrubada das emendas, passa a valer o texto original enviado por Kireeff.

Palavra barrada
No momento da votação, o advogado Carlos Roberto Scalassara, representando o Conselho de Condomínios Residenciais da Gleba Palhano, pediu tempo aos vereadores para que pudesse se manifestar. Os parlamentares discutiram por cerca de 20 minutos a possibilidade da intervenção, uma vez que já haviam suspendido os trabalhos para ouvir Schneider e Jacob, mas não permitiram que o representante do conselho se manifestasse.
Scalassara afirma que os moradores da Gleba Palhano são contrários à transferência da área de 12,7 mil metros quadrados. Segundo ele, o bairro apresenta um crescimento populacional muito grande e a perda do espaço público vai prejudicar a possibilidade de instalação de praça pública ou equipamentos urbanos.
O representante do conselho disse ainda que a região não respeita o mínimo de espaços voltados para praças e equipamentos – respectivamente, 7% e 3% da área total da região – previsto no Plano Diretor.
Os moradores dos condomínios pleiteavam a discussão por meio de audiência pública ou plebiscito. "Essa discussão tem que ser aberta para toda a cidade. O que é de interesse público, tem que ser debatido abertamente", diz Scalassara.
Apesar da ampla discussão do projeto, que tramitava na Câmara desde 17 de setembro, não houve consenso na votação. A bancada do PTB, formada por Rony Alves e Tio Douglas, votou contrária.
Tio Douglas disse que não estava convencido para votar favorável. Segundo ele, um aporte de R$ 15 milhões (já incluindo um futuro aporte da Copel), para uma empresa que declara prejuízo mensal de
R$ 1,8 milhão, vai durar "por uns seis meses".
Ele chegou a sugerir transferir mais 4% das ações para a Copel para eliminar dívidas da telefônica com sua principal acionista como alternativa para solucionar o problema. "Eles (Sercomtel) colocam como se fosse a única saída, mas não é."