A Carta Pastoral elaborada pelo arcebispo Dom Albano Cavallin em agosto de 1994, para as eleições daquele ano, tem o título ‘‘Educação Política e Participação nas Eleições’’. Foi escrita com base em modelo inspirado em São Tomás de Aquino, segundo Dom Albano.
‘‘Em política, como em futebol, todos nos consideramos técnicos e entendidos. As opiniões são muitas vezes apostas. Foi então que me lembrei de tratar deste assunto, imitando o jeito de escrever sobre política de um dos maiores pensadores da Igreja Católica, que foi São Tomás de Aquino. O jeito dele escrever era dividir tudo em três partes, três reflexões, três passos’’, justifica.
Um exemplo é quando a Carta se refere ao conceito de política. ‘‘Dizem que a política é coisa suja e que gente boa não deve se meter em política’’, escreve o arcebispo na primeira parte. ‘‘Mas ao contrário, o certo é que a política deve ser entendida como a ciência e a arte do bem comum. Neste sentido, a política é uma tarefa nobre, pois oferece mais possibilidades para realizar o bem e contribuir para o desenvolvimento dos cidadãos em todos os aspectos’’, explica na parte dedicada à reflexão.
Quando trata dos passos a ser seguidos, a Carta recomenda: ‘‘Portanto o melhor caminho é levar todos os que amam o Brasil a interessar-se pela política e a educar-se para uma consciência crítica e participação ativa na política’’.
Outro aspecto é sobre o envolvimento da Igreja Católica na política. ‘‘Dizem que a Igreja não deve se meter em política, pois a Igreja deve tratar das coisas espirituais. Mas ao contrário, os documentos sociais recomendam que a Igreja deve seguir e continuar fielmente o exemplo de seu fundador, Jesus Cristo, que além de falar do Céu, do Pai Eterno, também falou de todas as coisas que se referem à vida humana, tais como o valor das pessoas, das crianças, do pecado e suas consequências, do sofrimento, da obediência às leis, da fome, dos impostos, do administrador infiel etc.’’
O caminho a ser seguido, portanto, ‘‘é saber que uma verdadeira Igreja, uma verdadeira evangelização, deve cuidar da totalidade da existência humana, incluindo ética e política, além da educação moral’’, segundo o documento da arquidiocese.
Quanto às relações políticas no Brasil, a Carta analisa: ‘‘Dizem que o Brasil não é viável e que precisamos de um governo forte. Mas ao contrário a ditadura, sob qualquer aspecto e forma, é uma tentação ingênua e antidemocrática e os papas rejeitam a submissão a qualquer tipo de ditadura de um grupo político, que dispõe, como classe dominante, dos meios de produção e também do pão e, portanto, da própria sobrevivência de todos’’.
A orientação aos católicos apela para a participação da comunidade na construção do País: ‘‘Nossa fé em Cristo ressuscitado, vencedor do pecado e da morte, nos dá a esperança de que devemos todos participar na construção de um Brasil melhor, a começar pela conversão de toda corrupção e ‘jeitinho’ em nossas consciências individuais, em nossas famílias e em nossas instituições cívicas e religiosas. Votar e votar bem é um dever religioso, inspirado no 4º mandamento da Lei de Deus, que diz amar Pai e Mãe e a Mãe Pátria, o Brasil que tanto amamos’’.