Rio de Janeiro - O ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro foi marcado por uma elevação no tom das críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Com discursos repletos de referências religiosas e exaltação a Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), a mobilização retomou a narrativa de que eventual decreto de estado de sítio no país não seria um ato golpista.

Em sua fala, o ex-presidente negou que tenha feito uma "minuta golpista" e afirmou que "estado de sítio é uma proposta que o presidente pode submeter ao Parlamento".

Ele pediu uma salva de palmas a Musk. Alvo de diversas investigações sobre uma trama golpista no Palácio do Planalto para reverter o resultado da eleição, Bolsonaro conclamou seus apoiadores a se mobilizar. "Temos que lutar, caso contrário iremos para o abatedouro como cordeirinhos", afirmou.

Da mesma forma que fez na avenida Paulista, voltou a pedir anistia aos participantes dos atos de 8 de janeiro que depredaram as sedes dos três Poderes.

"Temos pelo Brasil orfãos de pais vivos", disse o ex-presidente. "A anistia é algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de armas tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas e muitas com uma Bíblia embaixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e depredando o patrimônio, como se fossem terroristas, como se fossem golpistas."

Bolsonaro não mencionou sua estadia de dois dias na embaixada da Hungria em Brasília, revelada pelo New York Times.

Caso permanecesse dentro da missão diplomática, Bolsonaro não poderia, em tese, ser alvo de uma ordem de prisão, por exemplo, por tratar-se de prédio protegido pelas convenções diplomáticas.

Em discurso no ato deste domingo (21), Silas Malafaia chamou Moraes de "ditador da toga" e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de "frouxo, covarde e omisso" por não investigar o ministro do STF.

"Eu não vim aqui atacar aqui o STF. A maioria dos ministros não concordam com o Alexandre de Moraes. Vocês não podem se calar. Alexandre de Moraes está jogando o STF na lata do lixo da moralidade", disse.

O pastor atacou também a imprensa e disse que a consulta de militares para instaurar uma GLO (Garantia de Lei e Ordem) não seria um ato golpista. Em fevereiro, declaração de Bolsonaro no mesmo sentido foi entendida pela PF como um reforço à linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de Estado, pelo fato de ele dar a entender que sabia das minutas de decreto.

Malafaia ainda criticou ações da PF contra militares suspeitos de participação nos ataques golpistas de 8 de janeiro e os atuais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. "Se esses comandantes militares honram a farda que vestem renunciem dos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado", afirmou.

Em seu discurso, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro fez diferenças referências religiosas. Disse que os manifestantes estavam ali não por um homem ou uma mulher, mas por valores e "pelo reino de Deus estabelecido na Terra".

Conclamou as mulheres a fazerem uma "política feminina e não feminista" e iniciou uma oração.

Ela afirmou ainda que o país já vive o versículo Lucas 2:12, que diz "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".

O versículo deu nome à operação da Polícia Federal que investiga um esquema de desvio de joias recebidas como presentes de autoridades estrangeiras pela Presidência da República no mandato de Bolsonaro.

Os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) fizeram discurso exaltando Musk, que vem chamando Moraes de ditador devido a decisões de bloqueio de perfil no X (ex-Twitter).

No discurso, Ferreira defendeu que Musk é defensor da liberdade de expressão e afirmou que a direita domina a internet no Brasil. Gayer fez um apelo em inglês.

O tema já havia sido mencionado por Bolsonaro no vídeo de convocação para o ato.

Bolsonaro chegou ao evento ao lado do governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL) e do deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem (PL).

A mobilização ocupa cerca de três quarteirões lotados da avenida Atlântica, em Copacabana, e há apoiadores também na areia da praia. Em fevereiro, o ato em São Paulo ocupou quatro quarteirões da avenida Paulista.

Da mesma forma que fez antes da manifestação em São Paulo, no final de fevereiro, Bolsonaro pediu ao convocar seus correligionários que não levem bandeiras ou faixas. O objetivo é não piorar a situação do ex-presidente nos inquéritos em que é investigado. O pedido tem sido seguido até o momento.

"É difícil fazer encontro às 10h, talvez fosse melhor marcar à tarde. Com uma praia dessa é difícil. Mas as pessoas vão chegar", disse o presidente do PL Valdemar Costa Neto, que lamentou não poder se comunicar com Bolsonaro porque é alvo de investigação sobre uma suposta trama golpista.

Costa Neto e o general Braga Netto, também impedido de se comunicar, falaram rapidamente no microfone antes da chegada de Bolsonaro.

INELEGIBILIDADE

Ao escolher fazer a demonstração em Copacabana, o ex-presidente volta ao palco do evento que deu origem a uma das decisões que o tornaram inelegível —o ato do 7 de Setembro de 2022.

Na ocasião, houve uma solenidade oficial bancada com recursos públicos com oito horas de programação. Ao lado do palanque do governo foi instalado um carro de som bancado pelo pastor Silas Malafaia, onde os discursos de campanha foram proferidos. Bolsonaro foi para esse local quando aviões da Esquadrilha da Fumaça ainda faziam exibições previstas no ato oficial.

No julgamento do caso, Moraes classificou o comício como de caráter eleitoral e eleitoreiro e criticou fortemente o fato de o Exército ter cancelado o tradicional desfile militar no centro do Rio para engrossar o ato bolsonarista em Copacabana.

Malafaia, responsável pelo discurso mais duro no ato pró-Bolsonaro na avenida Paulista, também deve falar na manifestação no Rio.

Ele afirmou à coluna Mônica Bergamo que subirá ainda mais o tom neste domingo (21). "Em São Paulo meu discurso foi água com açúcar."

O governador Cláudio Castro (PL) também confirmou presença no evento.

O ato deve ser usado para ampliar a associação do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), escolhido como pré-candidato à prefeitura da cidade, com o ex-presidente.

Os organizadores defendem que o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não discurse para evitar acusações de propaganda eleitoral antecipada, mas ele deve ter lugar de destaque no carro de som.

O comício em Copacabana faz parte da série de atos marcados por Bolsonaro para mobilizar a militância em seu entorno para demonstrar apoio popular em meio às investigações de que é alvo no STF. Uma delas mira trama para um golpe de Estado articulada por bolsonaristas após a vitória do presidente Lula (PT) nas eleições de 2022.

O vendedor Claudinei da Silva Costa, 62, afirma que vende camisas e bandeiras do Bolsonaro desde 2018. Natural de Porto Alegre, ele afirma que viaja pelo país em busca de multidões nos eventos bolsonaristas. Neste domingo(21), em frente ao Copacabana Palace, já vendeu 60 bandeiras ao preço de R$90. "Alugamos um apartamento em Copa. Somos cinco vendedores. Já vendemos o mesmo que no ato de São Paulo", disse.