"Sei que sou muito polêmico e vou continuar sendo, é fato na cidade que querem a minha cabeça na bandeja", afirmou Boca Aberta
"Sei que sou muito polêmico e vou continuar sendo, é fato na cidade que querem a minha cabeça na bandeja", afirmou Boca Aberta | Foto: Devanir Parra/CML



Com duas representações protocoladas na Câmara Municipal de Londrina (CML) contra ele, o vereador Boca Aberta (PR) pediu licença não remunerada das atividades parlamentares por até 120 dias. O documento foi protocolado na final da tarde de quinta-feira (4) e ainda precisa ser aprovado pelo plenário na próxima sessão, conforme o regimento interno. Geralmente, esses requerimentos de afastamento temporário passam com facilidade pelo crivo dos pares. Não está prevista a convocação do suplente, o ex-vereador Roque Neto (PR).

Boca Aberta negou que o seu interesse seja o de procrastinar as investigações contra ele. Afirmou que atende a um pedido de familiares para se afastar por causa de supostas ameaças de morte que sofre desde o último sábado (29). Segundo ele, o primeiro "recado" veio de um motociclista que o abordou na Avenida Saul Elkind (zona norte), "dizendo que eu ia levar uma rajada". "Achei que fosse brincadeira, mas depois vi que era sério. Sei que sou muito polêmico e vou continuar sendo, é fato na cidade que querem a minha cabeça na bandeja", afirmou ele, que foi o vereador mais votado no Paraná nas últimas eleições, com mais de 11 mil votos. Outro episódio suspeito ocorreu na quarta (3), disse o vereador, que registrou boletim de ocorrência junto à Polícia Civil.

Na Câmara, uma das denúncias por suposta infração parlamentar, já noticiada pela FOLHA, pode levar à abertura de Comissão Processante (CP) e à cassação do mandato parlamentar de Boca Aberta. Trata-se da representação feita pela servidora municipal Regina Amâncio acusando-o por supostamente ter se utilizado do cargo para obter "vantagens indevidas", quando publicou no seu perfil no Facebook um vídeo pedindo doações para pagamento de multa eleitoral imposta pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná.

Boca Aberta alegou que a licença "não é para ganhar tempo nem para procrastinar". É para cuidar um pouco da minha família. Mas é natural que tem relação também (com as investigações na Câmara)." O vereador admitiu que vai recorrer caso a CP seja instaurada. "Como vão abrir essa CP se eu não vou estar aqui?"

TRÂMITE NORMAL
O procurador jurídico da CML, Miguel Aranega Garcia, explicou que a licença solicitada por Boca Aberta se refere às atividades parlamentares, mantendo o trâmite normal dos procedimentos administrativos, como as denúncias contra o parlamentar. Ele lembrou que a eventual abertura de CP ainda depende da aprovação do plenário. "Vai ser respeitada a ampla defesa e o contraditório em todos os atos, inclusive altera-se a forma de notificação, pois, se aprovada a licença, ele não estará em plenário, então, será intimado pela Casa de outras formas para a sequência dos trabalhos."

De acordo com Garcia, os projetos de lei de autoria do vereador licenciado seguem a tramitação normal, desde que a interrupção do trâmite não seja solicitada por outro parlamentar.

Embora Boca Aberta deixe de receber o salário no período, Garcia afirmou que o gabinete parlamentar continua ativo, com assessores trabalhando normalmente. "Os servidores permanecem atuando, nós já tivemos casos aqui na Câmara assim, o vereador continua trabalhando da mesma forma porque a atividade parlamentar dele extra Câmara permanece", explicando que os assessores são vinculados ao departamento de Recursos Humanos (RH) da Casa.