Impacto da segunda lista assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode acirrar a insatisfação popular sobre o governo Temer
Impacto da segunda lista assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode acirrar a insatisfação popular sobre o governo Temer | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil



O impacto da segunda "lista de Janot" – como ficou conhecido o documento com pedidos de abertura de 83 inquéritos contra políticos, assinado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot – pode acirrar a insatisfação popular sobre o governo do presidente Michel Temer, como ocorrera com a ex-presidente Dilma Rousseff, logo após a primeira lista apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Janot, há exatamente dois anos.

Analistas ouvidos pela FOLHA apontam que a situação econômica do País, com leves sinais de melhora, e a ação "mais política do que técnica" do Judiciário em instâncias superiores ainda garantem certa sobrevivência política ao peemedebista. Mas o cenário pode mudar, com o avanço "transpartidário" da Lava Jato e o andamento das reformas impopulares impostas pelo governo.

Há dois anos, Dilma iniciava o seu segundo mandato sem condições de governabilidade, depois de acirradíssima disputa eleitoral com Aécio Neves (PSDB). Com a economia em forte retração e as delações citando semanalmente os principais líderes do PT, PMDB e PP, a então presidente não respondia mais aos interesses dos grupos políticos que a apoiavam.

O professor de ética e filosofia política da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Clodomiro Bannwart afirma que o "Fora Dilma" das ruas há dois anos deu fôlego para o ataque ao PT. "As manifestações contra o PT oportunizaram as condições para que o sistema político movimentasse as engrenagens do impeachment. O sistema político, então, expurgou o PT do poder, crendo que daria conta de recuperar a economia e estancar a crise política."

Entretanto, as sequências de revelações cada vez mais comprometedoras na Lava Jato não cessaram. "Com a intensificação das delações premiadas, o País tomou conhecimento da radiografia do poder, de suas estruturas promíscuas, da corrupção entranhada em nível transpartidário", avaliou Bannwart. O pesquisador do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Domingos Costa, afirma que a maior preocupação da sociedade hoje são as Reformas da Previdência e Trabalhista. "As ruas estão voltadas para a agenda reformista. Para esse movimento, a corrupção está em terceiro ou quarto lugar na lista de prioridades. Esse desgaste, com a inclusão de nomes do alto escalão do governo Temer, pode até levar os movimentos a começarem pressionar a estrutura que está no poder."

Segundo o sociólogo da Universidade Mackenzie Rodrigo Augusto Prando, a pequena melhora econômica do País nestes últimos dois anos ainda evita os gritos mais generalizados de "Fora Temer". "O Brasil está parado, mas com Dilma o Brasil retrocedia. O País está ruim como nunca esteve, mas é melhor o Temer buscando governar do que Dilma incapaz de governar."

Imagem ilustrativa da imagem Avanço 'transpartidário' da Lava Jato e reformas vão definir futuro de Temer



MESMA MOEDA
Prando diz não haver surpresa na sequência de ilícitos descobertos com as investigações nestes três anos. "O primeiro ponto positivo é que a Lava Jato continuou. Mas não nos esqueçamos que esse governo é a outra face da mesma moeda, Temer era vice de Dilma, tanto que a lista de Janot tem, até agora, 20 ministros de Dilma e cinco de Temer, parte da coalização PT e PMDB segue por aí." Para ele, um dos grandes empecilhos para alterar a Previdência é a falta de cultura da população. "É muito difícil explicar ao povo assunto tão complexo porque o brasileiro não tem o mínimo de cultura financeira, não sabe guardar dinheiro, então para ele é quase algo esotérico."

Os empresários, os "donos dos negócios", conforme Costa, estariam otimistas com o cenário reformista do Planalto. "Se esse governo que está sendo bem acolhido pelo mercado é atacado pelo Judiciário, cria-se uma celeuma. O Luiz Fachin e o Supremo vão esperar para ver se o governo terá condições de aprovar as reformas, para só depois investigar" aposta ele. "E quando isso acontecer, todos devem cair, incluindo Temer." Crítico do STF, Costa diz que essa "celeuma" trava o Judiciário.

Para o professor Clodomiro Bannwart, Temer enfrenta resistência pelo "déficit de legitimidade", já que não teve qualquer projeto de governo debatido com o povo. "Nesse intervalo de dois anos, fica a impressão que os presos na Operação Lava Jato, em sua grande maioria, ficaram limitados aos empresários, não possuidores de foro privilegiado. Os políticos, protegidos pelo foro privilegiado, estão soltos e muitos deles no comando do atual governo. Talvez isso justifique a quantidade de delações premiadas da parte dos empresários, colocando o sistema político ainda mais na berlinda."