O recente temporal que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo expôs não apenas a força da natureza, mas também a fragilidade das cidades em tempos de mudanças climáticas. Os alagamentos, árvores caídas e, lamentavelmente, o registro de oito mortes confirmadas após as chuvas com rajadas de vento de mais de 100 km/h evidenciam a falta de preparo e ação eficaz por parte das autoridades. Mais uma vez, vimos que as populações mais vulneráveis são as que mais sofrem diante desses eventos climáticos extremos. É um cenário que nos choca e nos convoca a buscar soluções efetivas.

No entanto, após alguns dias do temporal, o que mais ganha destaque na imprensa é a falta de energia em centenas de milhares de domicílios. Isso nos faz refletir sobre como seria se Londrina estivesse enfrentando uma situação semelhante. Será que também estaríamos lidando com quedas de árvores e interrupções no fornecimento de energia?

O ano de 2023 parece ser um divisor de águas para a humanidade, marcado por recordes de temperatura que deixam claro a urgência de buscar Soluções Baseadas na Natureza para proteger nosso planeta. Um aspecto fundamental nesse cenário é a Arborização Urbana, peça-chave na adaptação das cidades aos dias cada vez mais quentes e desafiadores.

No entanto, o esforço necessário vai além de simplesmente plantar árvores. Devemos gerenciar de maneira mais eficaz os dados relacionados à arborização, investir em pesquisa e atuar de forma preventiva para evitar quedas de árvores. Isso significa realizar um manejo adequado, evitando podas desnecessárias e agressivas às árvores.

Outro aspecto que merece nossa atenção é a questão da fiação elétrica. Sempre que se menciona a possibilidade de fiação subterrânea, surge o argumento de que isso seria muito caro. No entanto, é essencial considerar os danos que as fiações aéreas causam às árvores e os prejuízos que poderíamos enfrentar em uma grande tempestade, quando árvores fragilizadas pela própria fiação podem cair, deixando a população sem energia.

Londrina tem em vigor um bom Plano de Arborização estabelecido pela Lei Municipal nº 11.996/2013, mas, passados dez anos, não dispomos de informações precisas sobre sua implementação. Além disso, o Artigo 39 do Plano prevê que, até 2028, a concessionária de distribuição de energia deve modernizar a rede elétrica na área urbana de Londrina. No entanto, em vez disso, vemos árvores em formato de "Y" nas vias onde a fiação está presente.

É crucial que Londrina aproveite seus ativos e recursos para se tornar um modelo de cidade adaptada às mudanças climáticas. O momento exige ação e planejamento eficaz. No entanto, Londrina ainda não conta com um Plano Municipal de Mudanças Climáticas e esta lacuna ressalta a necessidade urgente de estabelecer diretrizes e metas concretas para mitigar os impactos das mudanças climáticas em nossa cidade.

Não podemos ignorar o sofrimento da população e as lições que eventos climáticos extremos como o recente temporal nos oferecem. Londrina tem o potencial de liderar o caminho na busca por soluções sustentáveis, e isso começa com o cuidado com nossa arborização, o planejamento da fiação elétrica e a implementação efetiva de políticas climáticas. Autorizar novos loteamentos somente com fiação subterrânea e iniciar a adaptação da fiação no entorno dos hospitais da cidade são medidas práticas que podemos adotar para proteger nossa cidade e nossa população mais vulnerável.

Gustavo Góes é gestor ambiental, atua pela ONG MAE e pelo COPATI e é membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Londrina.