Tancredo Neves, ACM e o Sercomtel
José Tavares
O ano era 1985 e o Brasil se preparava para eleger seu primeiro presidente, ainda pelo voto indireto, deixando para trás longos anos de ditadura militar. Eu, como deputado federal, representante de Londrina e membro do colégio eleitoral tinha a missão de ajudar a escolher o primeiro presidente civil que substituiria o general Figueiredo. Era um momento muito importante. Naquele momento eu era um privilegiado. Um dos poucos brasileiros que poderiam exercer o direito de votar, de escolher o presidente do País. Por isso, a minha escolha deveria ser a expressão da vontade de todos aqueles que, votando em mim, nomearam-me seu representante naquele ato histórico.
E não tive dúvida: o homem tinha que ser Tancredo Neves. Era a vontade de Londrina, da Nação, a vontade do povo. Procurei o Dr. Tancredo e cobrei dele uma atitude firme para a solução de um problema sério que Londrina enfrentava. Condicionei meu voto ao Dr. Tancredo para que, se eleito, ele não deixasse a Telebrás encampar, acabar, exterminar com o Sercomtel.
O Dr. Tancredo topou. Ganhou as eleições e, mesmo não assumindo o cargo pelos motivos que todos sabemos, cumpriu o prometido.
Na época, o Sercomtel sofria uma enorme pressão da Telebrás e do Ministério das Comunicações, que não aceitavam uma companhia telefônica independente e, por isso, faziam de tudo para que Londrina entregasse o Sercomtel à Telebrás. A cidade precisava de mais telefones e o Ministério das Comunicações não autorizava expansão. Ficamos 12 anos sem poder instalar sequer uma nova linha telefônica.
Além disso, e também como medida de pressão, o Ministério das Comunicações, arbitrariamente, tirou, sequestrou 25% do faturamento do Sercomtel em tráfego interurbano, o chamado tráfego mútuo, sufocando a empresa e causando um enorme prejuízo para a cidade. Todas as demais companhias telefônicas do País ficavam com 75% dos interurbanos gerados nas suas cidades-sede. E o Sercomtel só ficava com 50% de tudo o que produzia. Só mesmo o presidente da República poderia acabar com essa odiosa discriminação contra a cidade de Londrina. E acabou.
Assim que foi eleito presidente (mesmo sem tomar posse) Tancredo ordenou ao ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, que atendesse ao meu pedido. O ministro me procurou. ACM veio a Londrina e, no Restaurante Planalto, assinou a portaria que autorizou de imediato a tão esperada expansão. Quarenta e sete mil novos telefones foram então instalados na gestão do prefeito Dr. Wilson Moreira. E ACM ordenou também o aumento de 50% para 75% da participação de Londrina no tráfego interurbano, liberando ainda todo o dinheiro referente aos 25% do que estava retido há anos.
Com essa bolada toda, que entrou de uma vez no caixa do Sercomtel, foi possível fazer a expansão tão necessária e colocar, de novo, Londrina no caminho do desenvolvimento.
Hoje, quando vemos e aplaudimos o governador do Estado, Jaime Lerner, e o prefeito Antonio Belinati promoverem importante parceria entre o Sercomtel (agora a Sercomtel) e a Copel, sentimos uma forte dose de orgulho por termos participado daquela luta naquele momento tão delicado da vida desta empresa que também faz parte da vida da gente e da nossa cidade.
Por tudo isso imagino o quanto funcionários e técnicos da Sercomtel, principalmente os mais antigos, que viveram naqueles tempos difíceis, devem estar orgulhosos hoje, pelos últimos acontecimentos.
Finalmente, por uma questão de justiça, passo a citar algumas pessoas que se empenharam de corpo e alma naqueles momentos difíceis e decisivos, para que Londrina não perdesse o Sercomtel: Wilson Moreira, prefeito na época; Délio César, vice-prefeito; Nivaldo Gotti, superintendente do Sercomtel, assim como toda a diretoria da época.
Também foram de grande importância as contribuições do Dr. Hosken de Novaes, ex-prefeito e fundador da empresa, Dr. Milton de Menezes, ex-prefeito, e tantas outras pessoas que lutaram com muita determinação para que a Sercomtel chegasse a ser o que é hoje: a melhor empresa de telefonia do Brasil e exemplo de competência e orgulho de todos nós.
- JOSÉ TAVARES é deputado estadual (PTB)