O que você diria se visse um pai de família pedir o fim da monogamia ou da fidelidade conjugal? Não veria com maus olhos a ideia? Ou no mínimo suspeita a motivação do pedido?

Então, é mais ou menos esse o mal-estar que gera o texto “O celibato obrigatório dos padres sob escrutínio”, assinado por um padre, defendendo o fim do celibato que ele mesmo vive.

O problema, porém, não está só na ideia, mas também na forma como ela é apresentada. “Tudo que tem começo, tem fim”, ele diz. — Sério? Advoga-se acabar com uma disciplina milenar a partir de um mero chavão?

O começo do celibato, diz o padre, estaria mais perto de nós do que se pensa. E para mostrar que não está nem “nos tempos apostólicos ou mesmo entre os discípulos mais próximos de Jesus”, ele cita Mc 1, 29, a passagem em que Jesus cura a sogra de Pedro. — Trecho muito conveniente de se citar, quando sabemos que, ali, Simão Pedro ainda estava conhecendo Jesus.

Mais tarde, porém, ele mesmo dirá ao Senhor: “Olha, nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10, 28). Tudo? Como assim? A resposta de Jesus esclarece: “Em verdade vos digo: todo aquele que tiver deixado casa, mulher, irmão, pais ou filhos por causa do Reino de Deus, receberá muitas vezes mais, no presente, e, no mundo vindouro, a vida eterna” (Lc 18, 29-30).

Ora, esta menção a “mulher” não alude justamente ao celibato?

Ainda no Evangelho, Jesus fala daqueles que “a si mesmos se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus” (Mt 19, 12). Ora, “eunuco” — diz-nos o Caldas Aulete — é termo figurado para “estéril”. Cristo está falando das pessoas que se fizeram estéreis, incapazes para o casamento, por causa de Deus. Se isso não for uma referência óbvia do Senhor ao celibato — como a Igreja, aliás, sempre entendeu essa passagem —, nada mais é…

Dizer, portanto, que o celibato na Igreja só se entende à luz de “uma visão negativa do matrimônio” não tem absolutamente sentido algum. O mesmo Cristo que falou do celibato (e o viveu!) fez o seu primeiro milagre nas bodas de Caná, e elevou a sacramento a união entre homem e mulher.

A questão do sacerdote, porém, parece não ser tanto com o celibato, mas com a sua obrigatoriedade. Por isso, ele acolhe os pretensos “novos ares” vindos de Roma, convidando a “repensar” o celibato. Aí começa aquela cansativa conversa que somos obrigados a ouvir: que a Igreja deveria mudar, se adaptar ao mundo moderno, etc.

Cabe um comentário especial sobre a seguinte frase, aqui publicada, referente à possível abolição do celibato obrigatório:

“Como imaginar o nosso arcebispo, que gosta de transferir os padres a cada seis anos, fazê-lo com ‘tanta facilidade’, tendo a maioria dos seus presbíteros com família?”

Acontece que o referido sacerdote, há pouco tempo e com grande desgosto, foi transferido de uma comunidade onde era pároco na zona sul de Londrina. O que nos induz a pensar que, provavelmente, ele gostaria de ter uma família para que o bispo não o tivesse transferido.

E aqui fica a nossa pergunta: Será justo querer acabar com uma tradição milenar estabelecida pelo próprio Jesus Cristo para atender motivos particulares?

Leandro Nabhan, empresário; e Silvia Guimarães, engenheira

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