A manchete desta Folha (30/10) "Centrão mantém pressão e Lula negocia cargos a cada votação" mostra fielmente o frenético ritmo das negociações políticas entre os poderes Executivo e Legislativo em Brasília, traduzidas em barganhas espúrias, envolvendo a execrável ocupação de cargos públicos sem mérito e qualificação, além da indiscriminada distribuição de verbas, na forma de emendas orçamentárias.


É nítida a estratégia de criar obstáculos para aprovar propostas do Executivo, quando não há contrapartida de verbas, indicações políticas, entre outras benesses aos parlamentares, mesmo que as matérias sejam prementes e de grande interesse público.

Curiosamente, essa resistência acaba incontinenti à liberação de cargos para apaniguados e de emendas orçamentárias. Satisfeitos os desejos dos gananciosos do parlamento, as matérias são aprovadas com facilidade, sem discussão e sem modificações das propostas originais. Essa manobra ardilosa demonstra claramente que a maioria dos nossos parlamentares trabalham exclusivamente pelos seus interesses pessoais.

Em consequência desse toma lá, dá cá vergonhoso, quadros importantes e de capacidade abalizada são sacrificados para dar espaço às indicações políticas geralmente desprovidas de formação técnica qualificada. O corolário disso são a alta rotatividade no comando de ministérios e de demais órgãos executivos, a descontinuidade de políticas públicas e a paralisação de reformas urgentes visando a aceleração do desenvolvimento do país.

Esse deplorável balcão de negócios, onde as negociatas contemplam trapaças, verbas com distribuição despropositadas e incompetência na gestão, geram focos de corrupção, negligências na aplicação de dinheiro público, entre outros flagelos que cada vez mais agravam a crônica desigualdade social entre os brasileiros.

Para ilustrar essa situação, citamos apenas dois de centenas de exemplos que ocorrem frequentemente nesse ardil montado por esses políticos desavergonhados. Recentemente, o filho de um influente deputado federal, dono de uma agência de propaganda, passou a negociar verbas publicitárias e campanha de mídia de um banco estatal que agora é comandado por um aliado político de seu pai.

Outra aberração foi a aplicação de 5 milhões de reais, com dinheiro advindo de uma emenda parlamentar, sem transparência, do orçamento secreto, para asfaltar uma estrada de 19 km no interior do Maranhão, que passa em frente à fazenda e pista de pouso particular de propriedades de um ministro do atual governo.

Reza a nossa Constituição a "independência e harmonia entre os poderes da República", mas isso não pode ser confundido com o conluio descarado, a pressão desregrada e as velhacarias para obter vantagens, como se descortina no cenário atual do jogo político brasileiro.

Ludinei Picelli (administrador de empresas) Londrina