“Desejar ver a vida de outra forma, seguir outro caminho, pois a vida é breve e precisa de valor, sentido e significado”. A frase da médica geriatra Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em cuidados paliativos e uma das principais defensoras da pauta no Brasil, ganhou um significado mais que especial neste mês. Londrina terá mais uma unidade do Hospital do Câncer de Londrina (HCL), que será construída na Zona Leste, em um terreno doado pela prefeitura e com aprovação da Câmara de Vereadores. Serão 60 novos leitos dedicados exclusivamente ao tratamento de pacientes em cuidados paliativos.

Um grande passo para humanizar a nossa saúde e, sobretudo, garantir dignidade aos pacientes e seus familiares que enfrentam doença que ameaça a continuidade da vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento. Esse termo foi definido pela Organização Mundial de Saúde e o tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos e tem por objetivo obter o diagnóstico precoce para tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e até mesmo espirituais.

Uma abordagem extremamente necessária e urgente, uma vez que o envelhecimento da população tem levado ao aumento das doenças crônicas. Estimativas indicam que nove em cada dez pessoas que estão lendo este texto serão acometidos por uma doença crônica, ou seja, precisarão de cuidados paliativos. Outro dado de preocupação é que um estudo realizado em diversos locais do mundo indica que o Brasil é o terceiro pior país para se morrer. Esse dado estarrecedor nos levou a iniciar as discussões no Congresso Nacional sobre a importância dessa abordagem no nosso sistema de saúde.

Conseguimos junto ao Conselho Nacional de Educação a obrigatoriedade da disciplina “Cuidados Paliativos” nos cursos de graduação de medicina. Agora, seguimos trabalhando para incluir a matéria em todos os cursos de saúde. No ano passado, criamos a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Cuidados Paliativos, da qual sou presidente, e aprovamos o Projeto de Lei 2.460/22, de nossa autoria, que institui a Política Nacional de Cuidados Paliativos.

E o anúncio da construção da nova unidade do HCL, dedicada exclusivamente aos cuidados paliativos, vem coroar todas essas ações. Será a maior unidade hospitalar da Região Sul do País dedicada exclusivamente ao tratamento em cuidados paliativos. Levantamento da Academia Nacional de Cuidados Paliativos apontou que, dos mais de 5 mil hospitais no Brasil, apenas 10% disponibilizam uma equipe com foco nessa abordagem. Dessa forma, este novo hospital contribui para fortalecer nosso município como polo de saúde e nos mantém na vanguarda em inovação. Londrina será reconhecida também como uma cidade que cuida e não deixa ninguém para trás.

Se o sofrimento humano só é intolerável quando não há cuidados, precisamos encontrar maneiras para atenuar esse sofrimento. E, sem dúvida, os cuidados paliativos são um desses caminhos. Além disso, precisamos aceitar e compreender a finitude da vida, melhorando o cuidado e a qualidade de vida do paciente em todas as áreas de atuação e especialidades, assim como ampliar a interação com doentes e familiares com compaixão, empatia e, sobretudo, respeito.

Luísa Canziani, deputada federal pelo Paraná e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Cuidados Paliativos.