Previam isso bem antes, mas hoje o Londrina EC está oficialmente rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro. Isso não muda o nosso clube, no sentido mesmo na derrota “somos LEC”. Vamos torcer por um 2024 inspirador com o Tuba ressurgindo e se reorganizando, indiferente de quem esteja realmente dando as cartadas no clube.

Mais doloroso que o rebaixamento é ouvir dos próprios torcedores do LEC: “Nossa torcida acabou”. Não creio nisso. Todo time em fase ruim de campeonato tem pouca gente nas arquibancadas. Mas esse mesmo Estádio do Café esvaziado é o único do interior do sul do Brasil com 54 mil torcedores em um jogo. Isso ocorreu em 1978, quando o alviceleste Carlos Alberto Garcia desbancou o Corinthians (SP). Placar: 1 x 0, válido pela 1ª divisão do Campeonato Brasileiro. Ah, mas foi contra o “Timão”. Que nada. Isso foi LEC! O mesmo que em 2013 colocou 30 mil torcedores em um jogo contra o Coritiba, pelo Campeonato Paranaense. O mesmo que em pesquisa de 2015 apareceu na segunda colocação de preferência clubística na cidade, superando muitos grandes de São Paulo e Rio de Janeiro.

O que existe de errado, então? Os públicos vinham diminuindo antes mesmo da época da Covid-19. A briga é com o gestor? Grandes clubes “catequizaram” seus torcedores a reclamar no estádio. Ah, mas o time vai de mal a pior? Aqui fica minha pessoalidade, não resposta. O Londrina EC precisa se reerguer como clube, irmanando torcedores e famílias pra lamentar e festejar juntos, perto do time do peito. Ver mais que onze contra onze no futebol. Debater história no calçadão, lares, bares e no estádio.

Quer criticar a defesa? Relembre que Márcio Alcântara e João Neves foram a melhor dupla de zaga do futebol paranaense na década de 1990.

A base não produziu nenhum talento? Volte a 1979, quando um garoto de Florestópolis, no Paraná, chamado Everton Nogueira, enfrentava a Argentina com Maradona. Melhor cria do Tubarãozinho, foi parte da Seleção Brasileira de Novos. Isso que, em 1977, ele havia estreado entre os profissionais marcando três gols. Exercício de reflexão que vale também para os jogadores atuais da própria base do Londrina.

Ah, mas na virada das décadas de 70 para 80 o LEC contratava jogador chegando de avião na cidade. Um deles foi Paulinho Fonseca, o Canhão de Pinhal. Posteriormente artilheiro e campeão do Estadual 1981 e que beijou a taça de prata de 1980 ao furar as redes do goleiro oponente. Isso até o Celsinho foi, chegando de helicóptero no Estádio Vitorino Gonçalves Dias cerca de uma década atrás.

O que o LEC tem que fortalecer são torcedores do clube, não de campanha. Esses, ao invés de desfrutar o clube, ficam imaginando 77/78 como se tivessem parado no tempo. Pior: existem muitos que torcem por clubes milionários - mesmo que endividados - de São Paulo e querem as mesmas ambições no futebol. Uma tristeza, pois vejamos os argentinos. Viajam pra todos os lados seguindo seus clubes e seleção, mesmo sem ingresso, pra celebrar a existência e o gigantismo mesmo em tempos difíceis. Os turcos, então? Acompanham diversas modalidades e dão exemplo de amor ao clube que extrapola o time de futebol de cada temporada. Os ingleses são donos apenas da Copa do Mundo de 1966 e desfrutam Bob Moore de geração em geração.

Vida que segue. Bom 2024 a todos. Melhor o LEC na Série C…que um clube de portas fechadas por loucuras momentâneas que nem sempre valorizam o futuro. Força, Londrina! Apoie o futebol local.

Felipe Lessa, jornalista, pesquisador da história do futebol paranaense, torcedor do LEC e autor do livro "Destemidos de Azul e Branco - A história do Londrina contada por personagens"