O cenário político e econômico tem sido palco de intensos debates e movimentações, especialmente quando se trata da Petrobras, uma das maiores empresas do país. Recentemente, a decisão da petroleira de não pagar dividendos extraordinários gerou uma repercussão significativa, levando a uma queda de mais de R$ 50 bilhões no valor de mercado da empresa. É essencial analisar essa situação crítica e perceber como o governo, na figura do presidente Lula, tem utilizado a Petrobras como peça-chave em suas manobras políticas.

Em 2023, a estatal registrou um resultado 33,8% menor que no ano anterior, embora tenha anunciado um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da história da empresa. Contudo, a decisão do Conselho de Administração de não distribuir proventos extras aos acionistas gerou instabilidade no mercado, refletindo diretamente no desempenho dos papéis, que caíram quase 10%, impactando o Ibovespa.

O presidente Lula, em entrevista ao SBT, demonstrou uma postura desafiadora e provocativa em relação ao mercado financeiro, caracterizando-o como um "rinoceronte, um dinossauro voraz que quer tudo para ele e nada para o povo". Essa retórica, embora possa ressoar com parte da população, levanta questionamentos sobre a real compreensão do papel do mercado na economia e na geração de empregos.

Ao afirmar que não atenderá à "choradeira do mercado", Lula parece desconsiderar a importância do equilíbrio entre interesses privados e o bem-estar da população. É válido ponderar que o mercado desempenha um papel crucial na criação de empregos e no desenvolvimento econômico, sendo essencial para a prosperidade do país.

Vale recordar o período da ex-presidente Dilma Rousseff, marcado por investimentos ruins e escândalos de corrupção na Petrobras. A memória da população ainda carrega os traumas dessa época, com a economia fragilizada e a desconfiança no setor público. A reticência em relação às decisões do governo atual é compreensível diante desse histórico recente.

A afirmação de Lula de que a empresa não é apenas uma empresa voltada aos acionistas, mas sim para os 200 milhões de brasileiros, merece reflexão. Entretanto, é fundamental garantir que a gestão da empresa seja eficiente e transparente, considerando tanto os interesses dos investidores quanto o bem-estar da população, que é representada pelo governo, o maior acionista da estatal.

Em meio à controvérsia, é crucial evitar que a discussão se transforme em um mero embate público. O diálogo aberto entre o governo, a Petrobras e o mercado é indispensável para encontrar soluções que beneficiem a todos os envolvidos, equilibrando o desenvolvimento econômico com o atendimento das necessidades da sociedade.

A gestão da Petrobras não pode se tornar refém de manobras políticas, e o governo deve zelar pela saúde econômica da empresa, garantindo seu papel fundamental no progresso do Brasil. A superação dos desafios atuais requer um comprometimento efetivo com a transparência, a responsabilidade e a cooperação entre os setores público e privado.

Murillo Torelli é professor de Contabilidade Financeira e Tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

***

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.

COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]