Educar. Ensinar. Viver. Todo mundo quer ensinar, poucos querem aprender. Queria eu, do fundo do coração, que apenas o título estivesse errado. Mas, como começo alinhavar, o erro não é grafia, mas sistêmico. O polivalente Mário Quintana dizia, com sua lucidez costumeira, que “o rico é o espetáculo predileto dos pobres”. Nosso sistema de ensino público não produz educação propriamente, porque está preocupado apenas em aumentar as carteiras e as matrículas.

Não é novidade a informação que a educação pública brasileira não atende suas obrigações básicas - ensinar. Os números nos mostram desde sempre. É ainda mais cediço, que gastamos muito com a educação pública para no máximo alfabetizar nossas crianças. A educação formal brasileira é definitivamente um fracasso.

Educação para aprender a viver é diferente da educação para aprender uma profissão, para ter renda. Ambas possuem importância, claro, mas a primeira são raízes, a outra geradora de frutos. Uma árvore sem raízes fortes não para em pé. O filósofo Jean-Jacques Rousseau sabia disso e escreveu “que a criança corra, se divirta, caia cem vezes por dia, tanto melhor, aprenderá mais cedo a se levantar.”

Segundo a OCDE, o Brasil investe mais em educação que a média de outros países, temos robusta quantia de 5,6% do PIB, contra a média mundial de 4,4%. Perdemos apenas para Suécia, Bélgica, Islândia, Finlândia e Noruega neste quesito. O mesmo organismo mundial, aponta, o que todos sabemos, em países onde os alunos têm melhor desempenho, a hipótese sugere que o sucesso está na forma como os recursos são usados em todo o sistema, incluindo infraestrutura escolar, incentivos públicos e até mesmo formação continuada de professores.

Como se vê, no mundo inteiro – todo lugar mesmo, não é a quantidade de recursos que faz a diferença, mas como é investido. Esta informação é pisoteada por especialistas sérios desde 1950, e nada é feito para mudar. Assim, embora o investimento no Brasil seja muito alto, também é, impressionante e paradoxalmente, mal distribuído pelo país todos os anos.

O Brasil investe no fim, mas não se preocupa com os meios. Bilhões de reais no ensino universitário, migalhas para o ensino fundamental. Como se o investimento no ensino superior fosse em dólares e a educação infantil em pesos argentinos.

Claro que flancos governistas, seja qualquer que for o líder presente, irá mostrar números de crianças que efetivamente frequentam as escolas atualmente no Brasil. E, de fato e direito, adicionamos todos os anos e em todos os governos mais crianças e adolescentes nas escolas; sim, aumentamos vagas e números.

Claro. O enredo até aqui é sobre os volumosos investimentos errados. É preciso lembrar que mesmo que acertem as torneiras dos investimentos, a criança não se desenvolve sem cooperação efetiva da família. A educação é direito de todos, sim, mas é dever do Estado e da família. Principalmente da família. O premiado escritor japonês Haruki Murakami tem a mesma percepção. “A coisa mais importante que aprendemos na escola é o fato de que as coisas mais importantes não podem ser aprendidas na escola.”

Já passou da hora da inversão dos valores. Focarmos na educação de crianças, na educação básica. Na educação formal, manter a responsabilidade do ensino fundamental com municípios, mas com investimentos robustos e complementares da União e dos Estados; inclusive com orçamento fixado. Na educação não-formal e informal, campanhas ininterruptas para famílias abraçarem a responsabilidade de educar as crianças em casa.

Ronan Wielewski Botelho, advogado, estudante de física (UEL) e ocupa a 15° cadeira na Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina (ALCAL)