Matemática. Evidências. Lógica. Há quem diga que 2(dois) somados a 2 (dois) são 5 (cinco). Tese defendida por mentes brilhantes como René Descartes, Fiódor Dostoiévski, Victor Hugo, Albert Camus e George Orwell. Embora na álgebra constitua, nítida e facilmente, compreendida que o resultado seja 4 (quatro). O enredo de afirmar que 2 + 2 = 5 não é hodierno.

Desde sempre a sociedade caminha para o abismo da incerteza. Apesar da tecnologia e toda a modernidade que temos, no campo cognitivo estamos perto de uma loucura social. Nada é verdade, tudo são aparências e pontos de vista. Frisa-se que fomos alertados por pensadores, porém ninguém prestou atenção.

O russo Fiódor Dostoiévski no romance “Notas do Subsolo” (1864) com sua capacidade ímpar de mostrar feridas sociais escondidas, através do protagonista do enredo, descreve o livre-arbítrio que temos para fazer escolhas, quando ele aceita a falsidade de 2+2=5 e considera as consequências de negar a verdade de que 2+2=4. Quantos de nós já aceitamos uma inverdade, mesmo sabendo a realidade?

No mesma época, em 1852, mas na França, no panfleto Napoléon le Petit ("Napoleão, o Pequeno", 1852), segundo a jornalista Dalia Ventura, da BBC, Victor Hugo minou a credibilidade do sistema ao escrever: "Agora, obtenham 7.500.000 votos para declarar que dois e dois são cinco, que a linha reta é o caminho mais longo, que o todo é menos do que a sua parte."

É 2024 d.C. Se um líder (presente) ou influenciador (digital), seja dos vídeos games, fitness, religioso ou político defender que a terra é plana, as pessoas irão acreditar. Se eles pronunciarem que são inocentes de qualquer crime, mesmo com provas robustas e concisas, assim será. Absurdos são uma questão de opinião. Presentemente, impera o 2+2=5.

Este ano temos eleições. Nunca foi tão fácil falar com o povo. Não há necessidade de enganar o eleitor com promessas de campanha, isso é passado. Hoje, o próprio povo se engana. A personalidade pública pode ter feito ato reprovável, filmado e provado; se ela negar, uns acreditam e outros não. O inverso é tragicamente verdadeiro, se uma fake news aparecer sobre uma personalidade, ninguém irá investigar os fatos, apenas tomar lado conforme convicções pessoais.

Paixões e egos são os nossos termômetros. Sócrates aceitou morrer para tirar as pessoas da caverna, como escreveu Platão, na República. Jesus Cristo aceitou morrer, como um cordeiro, para tirar e mostrar o pecado dos homens. No final, será que morreram à toa? Saímos e voltamos: estamos dentro de cavernas novamente, vivendo uma vida medíocre, uns por ação outros por omissão. No meu caso, são os dois motivos: ação e omissão.

As profecias acertaram 2+2=5. A matemática não é uma deusa, mas algo meramente abstrato para o ser humano. Aritmética não está no centro de tudo, apesar de ser responsável diretamente por tudo. Sem a compreensão dos números nada existiria como é hoje. Matemática é a luz.

Felizmente. O tempo mostrou que os filósofos e escritores antigos estavam certos, hoje: 2 mais 2 são 5. É algo aceitável, afinal se impõe a liberdade de expressão. A matemática que lute! mas a vida social do ser humano tornou a lógica em mero achismo. Se eu acredito, é verdade. A dedução está fenecida, só há espaço para intuições delirantes.

Ronan Wielewski Botelho, advogado, estudante de física (UEL) e ocupa a 15° cadeira na Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina (ALCAL).