Vivemos tempos conturbados, já abordados neste espaço, por vários autores. O senhor Elon Musk, o excêntrico bilionário radicado nos Estados Unidos, não é um “homem qualquer”. Por óbvio, não me refiro somente aos atributos bancários. Um sul africano que ganhou dinheiro, muito dinheiro, nos EUA. Um executivo que chegou a dizer que para alguém ser bom, “teria que trabalhar 100 horas por semana”. Ele é o rei Midas do momento. Onde põe a mão, tudo vira ouro! Mas a maldição, como na mitologia grega, acaba também perseguindo-o. Amado e odiado, avança e recua nos seus projetos, fazendo muita gente ganhar e perder milhões de dólares, ao ritmo de suas fanfarrices e loucuras. Zip2, X.com e payPal, SpaceX, Tesla Motors, SolarCity, Neuralink, The Boring Company, Twitter, hyperloop, Open AI, Hyperloop pravduh.com, Teslaquila, eis o seu portfólio.

Parado no trânsito, é capaz de engendrar um projeto e pô-lo em prática em poucas horas. O seu resultado, isso é outra questão. Musk descobriu outra mina. Percebeu que a humanidade do século XXI vive uma fragilidade ontológica, apenas comparável a poucos momentos da sua história e que a ausência de fronteiras para os seus produtos (leia-se regulamentação legal), é um terreno fértil a explorar e a forçar.

Com essa premissa e com bilhões de dólares na conta, ele avança sobre governos, instituições e pasmem: sobre democracias. Em julho de 2020, após ser questionado no Twitter por um usuário que disse que "não estava no melhor interesse do povo" o governo dos EUA organizar um golpe contra Evo Morales, para Musk obter o lítio da Bolívia, o empresário respondeu: "Nós daremos golpe em quem quisermos. Lide com isso".

A mensagem foi apagada em seguida. Esse é o Musk do momento. Aquele, que morando num país que sempre viu a América latina como o seu quintal e as suas elites como subdesenvolvidas, ávidas pela Disney, não hesita agora em confrontar governos e outros Poderes da República, para mostrar o elementar da nossa civilização: quem tem dinheiro tem poder.

A Europa saiu na frente em 2022. Os internautas ficaram protegidos na Internet contra conteúdos ilegais e todo tipo de fakes. Todas as grandes plataformas como Facebook, Twitter, Microsoft e muitos outros, foram afetados pela legislação. O senhor Musk não gostou nem um pouco. Mas, Europa é Europa.

Aqui no Brasil ele enfrenta o STF. Mais concretamente o “Xandão”. Não passa desapercebido, que use os mesmos termos e tenha a mesma postura que a extrema direita local, na lida com o Supremo. O mesmo Poder que brecou o golpe e as tentativas de minar a democracia.

O senhor Musk é o paradoxo em pessoa, como a ideologia que defende, idolatra a liberdade, mas odeia o Estado de Direito. O terreno é pantanoso e a linha é tênue, sabemos disso. O presidente nacional da OAB referiu que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Musk também sabe disso e, portanto, força a barra. “Não se pode matar a liberdade em nome da liberdade”, eis a questão. Não sendo ela valor absoluto, também não existirão absolutismos contra ela. Não tenho como discordar. Mas é aí que entram os “senhores Musks”. As democracias são a porta fácil dos cavalos de Tróia. Contudo, a internet não é “uma terra sem lei”.

O Brasil pode até parecer, mas não é uma “república das bananas”. Temos instituições sólidas e eficazes. Erramos muito, mas não sucumbimos. Sabemos extraditar e aplicar penas decretadas no estrangeiro. O senhor Musk necessita saber que a última coisa que admitiremos é um “poder paralelo” alimentado por fake News e mensagens desestabilizadoras.

Com certeza, presidentes como o da Argentina, o farão crer noutra realidade. Porém, essa ilusão ótica logo se dissipará. Musk é um destruidor de democracias, aproveitando os ventos favoráveis do crescimento da extrema direita no mundo. Também isso passará. Se os funcionários de Musk quiserem ir embora, serão bem recebidos na argentina, com minúscula. Esse país tem 20% das reservas mundiais do lítio, metal usado em baterias de carros elétricos.

Pe Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina