A cultura é força econômica em muitas cidades brasileiras seja pelos eventos – a exemplo de Campos do Jordão (SP) e Ouro Preto (MG) com seus festivais de música - ou Gramado (RS), cujo festival de cinema é o mais conhecido do País, atraindo milhares de visitantes há décadas.

Mas a cultura se revela como força de desenvolvimento econômico não apenas pelos eventos, mas pela produção cultural que envolve e remunera centenas de pessoas, a exemplo de Paulínia (SP) que nos últimos anos firmou-se como polo nacional de cinema.

Londrina tem o privilégio de agregar as duas coisas. Reconhecida nacionalmente pelos seus festivais de arte, a cidade contempla todas as linguagens – do teatro à dança, da literatura à música, do circo ao cinema – e, em alguns setores, tem sua força reconhecida por oferecer empregos. Este é o caso da produção de cinema que vem ganhando espaço no cenário cultural e econômico da cidade.

Matéria da FOLHA desta segunda-feira (25) mostra que a partir da fundação da Kinoarte , em 2003, aqui foram feitos curtas e longas-metragens que recebem o selo Made in Londrina. Nem todo mundo sabe, mas por trás de cada filme há uma mão de obra local envolvida em todos os processos de produção: da fotografia à trilha sonora, dos figurinos aos cenários, o que faz do setor um negócio que incrementa o mercado e remunera pessoas.

Cultura não é apenas entretenimento, é um mercado que oferece trabalho e deve ser reconhecido como força geradora de empregos, sobretudo em tempos difíceis. Some-se a isso a grande oportunidade que o setor oferece a jovens trabalhadores, envolvidos em processos criativos de produção.

A Kinoarte despertou este mercado e atraiu para a cidade investimentos que transformaram Londrina também num polo de cinema. Hoje há pelo menos sete produtoras na cidade, além de um APL (Arranjo Produtivo Local) e um núcleo audiovisual , o NAV, que faz parte do Programa Empreender da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina).

Com a aprovação dos projetos atualmente em desenvolvimento, a cidade deverá receber R$ 12,6 milhões em investimentos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), sendo que R$ 4 milhões destes recursos já foram repassados ao município, além de R$ 2 milhões já aprovados para três projetos da Kinopus Audiovisual, produtora que pertence aos cineastas Rodrigo Grota e Guilherme Peraro.

A dupla já produziu longas-metragens e séries para a televisão, como “Super Família” e “Brincando com a Ciência”, feitos integralmente na cidade movimentando o setor produtivo como um negócio. Porém, a inciativa privada ainda precisa despertar não apenas para o cinema, mas para todas as artes cujo potencial revitaliza não apenas o desenvolvimento cultural, mas econômico.

O empresariado local precisa começar a enxergar a cultura como uma das luzes no fim do túnel numa cidade que há décadas firmou-se não só no cenário nacional, como também no exterior, por seu potencial artístico. É preciso fazer o pote de ouro brilhar aos olhos daqueles que podem investir em cultura como conhecimento, entretenimento e negócio.

Se por um lado, o cinema tem revitalizado a produção e o mercado cultural de Londrina, por outro lado é lamentável que a edição dos 50 anos do evento mais antigo da cidade, o FILO (Festival Internacional de Londrina) tenha ficado sem uma edição comemorativa em 2018 por falta de recursos.

O fato é que Londrina sempre foi amparada por leis de fomento à cultura – seja em nível local, estadual e, sobretudo, federal – ficando aquém quando se solicita um investimento privado com envergadura capaz de auxiliar e sustentar estas iniciativas quando governos deixam de prestigiar a cultura por conta de suas crises políticas. É assim, infelizmente, que iniciativas produtivas começam e morrem no embalo atribulado dos barcos furados das gestões políticas. Se a cidade puder contar com o investimento público e privado com o mesmo empenho, a cultura tem tudo para chancelar Londrina como um polo produtivo que não fica nada a dever a grandes cidades.

Se Londrina já é reconhecida nacionalmente como centro cultural, cabe à sensibilidade do poder público e da iniciativa privada sustentar esta fama que não apenas dá prestígio, mas principalmente empregos. Esta compreensão é fundamental nos tempos em que a produção de filmes, espetáculos de teatro, dança e música movimenta um grande contingente de mão de obra especializada para produzir e usufruir da arte, porque nem só de carros, imóveis e tecnologia vive o homem.