O discurso de que a cultura é um elemento fundamental no crescimento e na identidade de uma comunidade, desempenhando um papel crucial no fortalecimento do turismo e na promoção da educação em municípios ao redor do mundo é conhecido de todos. No âmago de qualquer sociedade, a cultura não apenas enriquece a vida dos residentes, mas também atrai visitantes, impulsiona a economia e aprimora o sistema educacional. Basta ver que o turismo de eventos tem representado nas últimas décadas - uma das mais promissoras atividades econômicas mundiais, geradora de postos de trabalho e de divisas. O turismo gera atividades indiretas que atingem os mais variados setores da economia, desde a indústria até a agricultura.

Temos uma classe média que busca prestígio cultural em fotos de “museus e festivais europeus”. Esta mesma classe social que apoia e divulga a arte patrocinada por políticas públicas fortes e centenárias fora do Brasil, não quer isto no Brasil. Aqui ela luta para acabar com as poucas iniciativas e chama artista de vagabundo.

Há alguns dias para entrar no ano eleitoral começamos a observar um aumento na atividade política e nas medidas adotadas pelos políticos para atrair eleitores. Algumas práticas eleitoreiras, buscando apoio popular, outras suspeitas. Destaco duas matérias e uma nota na Folha de Londrina para refletirmos: "Vereadores querem tirar R$ 3,2 milhões do Promic para aplicar em outras áreas"e "Prefeitura de Londrina repassa R$ 8,4 milhões a Londrisul de reequilíbrio econômico-financeiro referente a 2021".

Mas o que tem a ver cultura, educação, saúde e segurança? E por que países com índice cultural alto têm mais segurança, saúde, educação e economia forte?

Na primeira matéria vemos o populismo travestido de preocupação com áreas como educação, segurança e saúde. Populismo apoiado na ignorância, porque todos sabemos que a cultura é transdisciplinar, e ela acaba por tangenciar várias áreas. Em tópicos para ficar claro:

Educação: a arte e cultura atuam estimulando a criatividade e pensamento crítico. Incentivam alunos a desenvolverem habilidades que resultam em pensamento que foge ao lugar comum, facilitando a resolução de problemas e a inovação. Isso não apenas fortalece o senso de identidade, mas também promove a tolerância, a empatia e o respeito pela diversidade. Os projetos do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) têm como obrigatoriedade a contrapartida social para escolas e comunidades carentes.

Segurança: o fortalecimento de identidades coletivas através da promoção da coesão social. Fortalecendo os laços sociais e reduzindo conflitos em comunidades diversas. A arte como expressão ajuda no autocontrole emocional produzindo cidadãos mais equilibrados. Através dos seus programas, o Promic leva atividades artístico-culturais, oferecendo alternativas construtivas para jovens em comunidades vulneráveis. Mantendo-os em atividades positivas e afastando-os de comportamento de risco. Mães que têm seus filhos em programas como oficinas de música, teatro ou dança são testemunhas destas mudanças. É preciso ouvi-las.

Saúde: a arte é usada como uma forma de terapia em diversas áreas, como musicoterapia, arteterapia e dançaterapia para ajudar na recuperação física e mental. O Promic através das contrapartidas de seus projetos aprovados leva oficinas educativas e recreativas para diversos segmentos como escolas, centros de idosos, hospitais. O desenvolvimento sócio emocional e a saúde mental são diretamente melhorados pela arte. A participação em atividades culturais e artísticas ajuda a fortalecer a autoestima, a empatia e a inteligência emocional.

Economia, turismo e desenvolvimento: a diversidade de manifestações culturais não apenas enriquece a alma dos cidadãos, mas fomenta o turismo, leva o nome da cidade em âmbito nacional e proporciona enriquecimento do comercio local com a chegada dos turistas. Como é o caso de Paraty que com um único festival se projetou nacionalmente como cidade da literatura. Londrina tem mais de 15 festivais consolidados que acontecem há mais de cinco anos. No entanto, e apesar da nota no jornal dizer que cada 1 real investido nas festividades do Natal retorna 10 reais para o município, os outros festivais sequer são mencionados. Ou seja, sabemos da riqueza, não é algo que se precise catequizar.

Através da preservação e promoção de seu patrimônio cultural, os municípios podem desenvolver uma indústria turística robusta, gerando empregos, aumentando a renda local e fortalecendo a infraestrutura. O investimento na cultura é essencial para o desenvolvimento sustentável de um município. Ao reconhecer e apoiar a diversidade cultural local, os governos e comunidades podem colher os frutos de uma sociedade mais rica, inclusiva e vibrante. A cultura não é apenas um aspecto estético, mas sim um elemento-chave que impulsiona o turismo, enriquece a educação e fortalece os laços entre as pessoas, construindo um futuro mais promissor para todos.



P.S.": após a finalização deste texto fomos surpreendidos com outra manchete negativa: “Deputado esquece de incluir emenda e Londrina fica sem verba para o Teatro Municipal em 2024".


Edra Moraes é escritora, multiartista e produtora cultural em Londrina