Santo Antônio da Platina - A extração ilegal de pedras do Morro do Sabão, em Santo Antônio da Platina, parece ser um problema ainda distante de ser solucionado. A área com cerca de 10 hectares pertence ao município e é considerada de preservação ambiental, porém, segundo os moradores, nem mesmo a própria prefeitura respeita a determinação judicial que proíbe a prática considerada criminosa. Ontem no início da tarde, enquanto a equipe de reportagem ouvia moradores da localidade, uma retroescavadeira e um caminhão da prefeitura de Santo Antônio da Platina foram flagrados extraindo pedras no local. O motorista do caminhão, que não quis se identificar, disse que a ordem para a retirada do material tinha vindo do Departamento de Obras da Prefeitura.
Mais do que um crime em uma área de preservação, a quantidade de material retirado do local diariamente preocupa várias famílias que moram na encosta. Eles temem pela possibilidade real de um desmoronamento. Há exatamente um ano, o trator de uma empresa privada do setor da construção civil que operava de forma ilegal na área perdeu o freio e invadiu a residência da dona de casa Maria Lenice Balbino de Souza, 55 anos, que só não morreu graças à agilidade do filho, Rafael Balbino de Souza, 19 anos, que ao perceber a máquina desgovernada vindo em direção a sua mãe conseguiu empurrar a moradora tirando-a do caminho. Entretanto, a casa da família ficou com a estrutura completamente comprometida, e só não desmoronou porque parte do telhado ficou apoiado sobre a retroescavadeira.
O imóvel fica localizado na rua Amazonas, no bairro Álvaro de Abreu, local considerado um dos pontos mais críticos do morro, onde mais de dois hectares da área já desapareceram com exploração ilegal. "Corremos o risco de um novo acidente se repetir com máquinas e caminhões que trabalham todos os dias no local, e até mesmo das pedras atingirem nossa casa, pois sempre vemos deslizamentos na encosta e a impressão é de que o morro vai cair", disse Maria Lenice.
Segundo Rafael Souza, todos os dias são retirados, em média, 15 caminhões carregados de pedras do local. "É só ficar sentado aqui na frente de casa para ver a quantidade de pedra retirada do morro sem qualquer impedimento, principalmente em caminhões da prefeitura. Qualquer um pode chegar aqui a hora que bem entender e retirar a quantidade de material que quiser. Se a prefeitura que é a responsável pela área não está preocupada com o meio ambiente, imagine as demais pessoas!", avaliou o morador.

DENÚNCIA FRUSTRADA
Minutos antes do flagrante, a secretária da Agricultura e do Meio Ambiente de Santo Antônio da Platina, Eliani Simões, tinha sido ouvida por telefone e negou que maquinários da prefeitura estivessem retirando pedras do local. Ela reforçou que essa prática é comum "por empresas particulares que agem de forma ilegal". A secretária admitiu a existência de crime ambiental no local, mas disse que o município não teria como manter uma equipe de segurança para evitar a extração mineral. Eliani informou que está sendo elaborado um plano de recuperação ambiental na área para 2016 e que o espaço será todo cercado.
Ainda na conversa por telefone a secretária passou um número de telefone (43/3558-2026) para que a população pudesse denunciar os crimes, e o município tivesse como autuar e punir os responsáveis. Entretanto, a equipe de reportagem tentou ligar por diversas vezes e ninguém atendeu as ligações. Nem mesmo a secretária voltou a atender seu celular até o fechamento desta edição.
A Polícia Ambiental informou que a prefeitura de Santo Antônio da Platina já foi notificada diversas vezes por crimes ambientais praticados no Morro do Sabão, e informou que o município não possui autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), além da licença ambiental necessária fornecida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para extrair pedras do local. De acordo com o soldado Iran Siqueira, o espaço se tornou Área de Proteção Ambiental Municipal e a prefeitura pode responder criminalmente por extração irregular de minério.