Jacarezinho – O setor sucroalcooleiro começa o ano de 2014 com uma perspectiva sombria na região. É que a crise conjuntural (prolongada), que afeta as usinas de açúcar e álcool em todo o País, poderá trazer sérias consequências à economia do Norte Pioneiro, agravando ainda mais a situação financeira das empresas e aumentando, em consequência, os índices de desemprego.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fabricação de Álcool de Jacarezinho e Região, José Ramos Vasconcelos, diz que a situação "é muito crítica" e que poderá se agravar ainda mais se não forem tomadas algumas "medidas urgentes" em âmbito governamental.
Vasconcelos afirma que, em mais de 20 anos à frente do sindicato, nunca viu nada semelhante. Ele explica que das seis usinas produtoras de açúcar e álcool na região, apenas duas estão com a situação financeira sob controle e as demais passam por sérias dificuldades.
De acordo com o presidente do sindicato, uma das usinas está em fase de recuperação judicial e outra entrando com o mesmo pedido na Justiça, sem falar da Casquel Agrícola e Industrial, de Cambará, que está desativada há quatro anos e com mais de mil ex-funcionários na expectativa de receber seus direitos trabalhistas.
Para Vasconcelos, o possível fechamento de mais uma ou duas usinas representaria o "caos social" na região. "As usinas estão sem crédito e sem dinheiro e, desta maneira, a situação pode ficar caótica daqui um ou dois anos. Se aqui já é considerado o ramal da fome, o que poderá acontecer se forem fechadas mais usinas?", pergunta.
Vasconcelos encaminhou um documento com estas informações recentemente ao Ministério Público do Paraná, à Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Economia Solidária, e à Casa Civil da Presidência da República.

Bolsa
Segundo ele, a situação é tão desesperadora que os trabalhadores do setor vão passar o período de entressafra (entre janeiro e março) na dependência de receber os recursos do Bolsa Qualificação Profissional para sobreviver. O programa é uma espécie de variação do seguro-desemprego e gera uma renda média de R$ 1.000 para o trabalhador afastado de suas atividades.

Defasagem de preço
O superintendente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), José Adriano da Silva Dias, atribui a crise na produção de açúcar e álcool em todo o País "à falta de uma política do governo para o setor". Segundo ele, a causa é o subsídio do governo federal aos "combustíveis fósseis", que são os derivados do petróleo. "Não adianta você subsidiar a gasolina em detrimento dos demais itens da economia. Quando você subsidia o combustível fóssil, você tem que subsidiar o renovável, tem que subsidiar tudo. As medidas não podem ser tomadas pela metade", afirma.
Como o preço do etanol está atrelado ao preço da gasolina, o setor sucroalcooleiro acaba sendo prejudicado pela defasagem de preço, que segundo o superintendente da Alcopar chega a 20%. O subsídio do governo à gasolina vem desde março de 2005. "O etanol tem um teto (percentual de preço) em comparação com a gasolina. Se a gasolina for reajustada aos parâmetros do mercado internacional, o problema está resolvido", afirma.

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