São Paulo - Pelo menos cinco presos políticos foram libertados na Venezuela após o ditador Nicolás Maduro assinar, na última terça-feira (17), um acordo com a oposição para realizar eleições presidenciais competitivas e passíveis de monitoramento por observadores internacionais em 2024.

Entre os libertados na noite desta quarta-feira (18) estão o ex-deputado Juan Requesens e o jornalista e ativista Roland Carreño.

"O mais importante agora é avançar e agradecer a todos os que tornaram isso possível. Não tenho palavras", afirmou Requesens em frente à sua residência, onde cumpria pena de oito anos de prisão domiciliar. "Agora a única coisa que quero fazer, além de ver vocês, é visitar meus pais", completou o político, aplaudido por apoiadores.

O político foi condenado por conspiração pela ditadura após dois drones explodirem perto de um palanque onde Maduro participava de um evento com militares, em 4 de agosto de 2018, em Caracas. As autoridades acusaram o então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de planejar o ataque em colaboração com Estados Unidos e Peru.

Requesens foi detido três dias depois ao lado de mais 30 pessoas, incluindo um vereador que morreu sob custódia do serviço de inteligência depois de cair do décimo andar de uma das sedes do organismo.

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"Estou um pouco atordoado porque, depois de três anos de tanta espera, de tanta angústia, a liberdade chegar neste momento me enche de esperança de que a liberdade da Venezuela também chegará", disse Carreño ao sair da prisão El Helicoide - construção projetada para ser um shopping que virou o centro de detenção dos presos políticos no país, que denunciam tortura sistemática no local.

Carreño era coordenador do partido Vontade Popular - o mesmo de Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela hoje exilado nos EUA - e foi detido em outubro de 2020, acusado de atuar como "operador financeiro de planos terroristas" contra o regime de Maduro.

Os outros libertados são Marco Garcés Carapaica (estudante universitário detido em 2020 por ser abordado no mesmo veículo em que estava um veterano da Marinha americana, Matthew John Heath), Mariana Barreto (presa por protestar, em 2019, contra irregularidades no fornecimento de gasolina no Estado de Trujillo) e Eurinel Rincón (ex-secretária no ministério da Defesa acusada de traição à pátria e vazamento de informações depois de aparecer em uma foto ao lado de Gilber Caro, político da oposição).

Apesar das libertações, ainda há muitos opositores da ditadura em celas do país. Até 10 de outubro, a Venezuela tinha 273 presos políticos, segundo a ONG Foro Penal.

Na terça (17), o regime e a oposição assinaram um acordo político que faz parte das negociações iniciadas em agosto de 2021 para tentar retomar a normalidade democrática do país. A mesa foi reativada depois de quase um ano de paralisação - período em que Maduro subiu o tom contra opositores, vetou observadores internacionais no pleito e tornou os principais nomes críticos ao regime inabilitados para exercer cargos públicos.

A volta à corrida eleitoral desses políticos ainda não está certa. "Se você cometeu um crime e foi condenado por este crime, não pode ser candidato. Se foi inabilitado administrativamente, também não pode", afirmou na terça o chefe da delegação do regime e um dos principais nomes do chavismo, Jorge Rodríguez.

Um dos destaques do acordo firmado na ilha caribenha de Barbados é o comprometimento em celebrar as eleições presidenciais no segundo semestre de 2024 com a presença de observadores estrangeiros. Como contrapartida, os EUA suspenderam por seis meses as sanções a petróleo, gás e ouro da Venezuela impostas em 2019.

O Departamento de Estado americano deu até novembro deste ano para o regime reintegrar os candidatos à corrida eleitoral e começar a libertar "todos os cidadãos americanos e presos políticos venezuelanos detidos injustamente".