As máquinas fizeram o trabalho à luz do dia, enquanto uma pequena multidão assistia, incluindo agentes do Comitê de Segurança Suprema (CSS) - encarregado de manter a ordem na Líbia pós-Kadafi -, que não fizeram nada para conter a destruição. Em poucas horas, o mausoléu de 500 anos de Sidi Adb as-Salam al-Asmar e uma biblioteca adjacente, em Zliten, estavam arrasados. Sidi foi um santo da seita muçulmana sufista, considerada herética pelos conservadores.

Isto foi no dia 25. No dia seguinte, encorajados pelo êxito da operação, os salafistas, corrente radical que prega a "purificação" do Islã, repetiram a cena perto do centro de Trípoli, destruindo o santuário sufista de Al-Shaab al-Dahman. Eles seguiam uma fatwa (decreto religioso) do clérigo saudita Mohamed al-Madkhalee, ordenando a dessacralização de todos os santuários venerados pelos sufistas.

Panfletos circulam nas universidades ordenando que as alunas não usem roupas apertadas e cubram a cabeça. Madkhalee ensina que uma moça não pode ter aulas nem de religião de um professor que não seja seu parente, e nem mesmo de véu, pois "com um olhar ela pode seduzi-lo".

Aparentemente os salafistas resolveram pôr o decreto em prática após sua derrota nas eleições para o Congresso Nacional, há um mês, nas quais nenhum grupo radical elegeu representantes, e a Irmandade Muçulmana, que tem uma agenda próxima à deles, obteve apenas 17 das 120 cadeiras (outras 80 foram destinadas a independentes). A Aliança das Forças Nacionais, liderada pelo ex-primeiro-ministro interino Mahmud Jibril, que se declara um religioso moderado, venceu com 39 cadeiras.