Roma - Itália - ''O dia esperado chegou: João Paulo II é Beato''. Essas foram as palavras do Papa Bento XVI, ao presidir na Praça São Pedro, no Vaticano, a missa de beatificação de Karol Wojtyla, passados seis anos e 29 dias de sua morte. A tristeza do funeral, entretanto, deu lugar, desta vez, à alegria, à satisfação de ver reconhecido ''o perfume de santidade'' que já pairava desde o seu funeral, como afirmou o papa Ratzinger em sua homilia, ontem de manhã.
A maré humana que invadiu Roma naquela ocasião, voltou ainda mais numerosa para a beatificação. Em poucos minutos, a reportagem da FOLHA encontrou turistas de praticamente todos os Estados brasileiros: do Pará ao Rio Grande do Sul. Na bagagem, lembranças e histórias de como João Paulo II marcou a vida de cada um. A brasiliense Maria Veríssima Oliveira recorda que deve ao papa polonês seu regresso ao catolicismo, que sempre foi tradição na sua família: ''Quando ele visitou Brasília, pude olhá-lo nos olhos e então compreendi o quanto era especial.''
O olhar ''penetrante'' também é a característica destacada pelo curitibano Manoel Roque Tavares. Recém-aposentado depois de mais de 20 anos a serviço do Vaticano, Manoel encontrou pessoalmente o pontífice inúmeras vezes: ''Para mim, ele não era somente o Sumo Pontífice, mas um pai santo. Ele olhava para os nossos olhos, porque para ele cada pessoa era importante''.
Essa capacidade de transcender a Igreja, de inverter sistemas políticos e econômicos que pareciam irreversíveis, foi o aspecto ressaltado pelos membros da Comunidade Doce Mãe de Deus. Atualmente em missão em Gassin, no sul da França, o grupo passou a noite ao relento, nos arredores do Vaticano, só para homenagear o Papa Wojtyla.: ''Ele foi um exemplo de força para o mundo inteiro.''
Quem enfrentou uma verdadeira maratona para assistir de perto à cerimônia foi a paulista Regiane Cristina de Oliveira, que mora perto de Roma, e passou a noite em fila, em pé, só conseguindo entrar na Praça São Pedro às 6 da manhã: ''Mas por esse papa vale a pena'', garantiu. É o que pensa também Vânia Moro, de Londrina, que chegou pouco antes de a missa começar, e teve que acompanhar a beatificação de longe. ''Estou muito emocionada, pois ele foi um grande mestre''.
Agora falta mais um passo para a santidade de João Paulo II. Para a passagem de beato a santo, é necessário o reconhecimento de um segundo milagre ocorrido por intercessão do candidato. A propósito, o prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, garante que o Vaticano está trabalhando com os dois princípios adotados até aqui: ''rapidez e rigor''. E acrescenta que são inúmeros os casos de supostos milagres comunicados ao Vaticano de todas as partes do mundo, inclusive do Brasil.