Imagem ilustrativa da imagem Áquila é laboratório de pós-terremoto
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Áquila foi cenário de desastre em 2009, quando tremores deixaram 308 mortos



Áquila - Os moradores das cidades italianas destruídas pelo terremoto da última quarta-feira (24) podem esticar o olhar um pouco adiante, através das montanhas, até a cidade de Áquila e enxergar nela a imagem do que poderá ser o seu futuro. O tremor desta semana deixou ao menos 278 mortos e cerca de 2,5 mil desabrigados, de acordo com a informação atualizada nesta sexta-feira (26).
Áquila, a 50 quilômetros dali, foi o cenário de seu próprio desastre em 2009, quando tremores deixaram 308 mortos. Essa cidade é, também, laboratório das recentes estratégias do governo italiano para terremotos. As autoridades construíram novos bairros para acolher os desabrigados. Mas, apesar do investimento, cerca de 8,3 mil pessoas ainda vivem em acomodações temporárias, à espera de que os lares sejam reconstruídos. Graziano Delrio, ministro de Infraestrutura, afirmou ao jornal italiano "Corriere della Sera" que o governo pode optar por reerguer as construções desmoronadas, em vez de providenciar novas casas aos moradores desalojados. "Nossa cidade é nossa história", disse. Mas a decisão final, segundo Delrio, será de cada prefeitura.
O governo italiano já anunciou um fundo de 50 milhões de euros (R$ 180 milhões) para a crise atual. O país está em estado de emergência, e realiza a partir desta sexta-feira funerais das vítimas. A reportagem visitou regiões de Áquila construídas após o terremoto de 2009. Em Bazzano, por exemplo, há 21 quarteirões erguidos em três meses, depois da destruição. Com estrutura metálica, colunas adaptadas a tremores e paredes de gesso, essas casas são resistentes à atividade sísmica. "Nesta semana, a construção só mexia de um lado para o outro", afirmou Fabrizio Mariani, de 52 anos.
Mariani morou em um hotel enquanto esperava o seu novo lar. Hoje, prefere que a antiga casa não seja reconstruída. "Aqui é mais seguro."
Houve ao menos 40 réplicas durante a manhã desta sexta-feira, e mais de 920 desde o primeiro terremoto. A reportagem testemunhou diversas delas.

CONSTRUÇÃO
O centro histórico de Áquila estava deserto na manhã desta sexta. O céu era marcado pelos braços dos guindastes em movimento. Fachadas se escondiam por detrás dos tapumes e dos andaimes.
Na praça principal, Carmine Parisse, de 31 anos, passava o dia no guichê de turismo. Aos visitantes que se aproximassem, ele não teria muito o que dizer. No mapa, só podia assinalar duas entre as construções centenárias da cidade. A maior parte segue interditada, e diversas ruas estão fechadas a pedestres.
Sua casa, nas imediações, foi danificada em 2009. Ao contrário de Mariani, porém, sua família teve o lar reconstruído pelo governo. Uma conta corrente foi aberta para esse intento, em que as autoridades depositaram 80 mil euros (R$ 290 mil hoje).
Parisse se recorda da força do tremor daquele ano, mas diz também que, ao contrário do terremoto desta semana, a região teve diversos avisos durante os meses anteriores. Assim, a população já tinha algum conhecimento do que poderia em breve acontecer.
É a mesma memória de Daniele Bendandi, de 62 anos, que a reportagem encontrou em Amatrice - uma das cidades mais devastadas na quarta-feira. Nascido em Áquila, e testemunha do tremor de 2009, ele se voluntariou para ajudar sobreviventes a lidar com o trauma. Ele e sua mulher ofereciam apoio psicológico e planejavam organizar uma trupe de médicos palhaços. "É como podemos ajudar."