Os brasileiros querem um aparelho premium, mas não querem (e/ou não podem) pagar a mais por isso. Pesquisa da Motorola revela que 85% desejam um smartphone com características de aparelhos top de linha, mas 72% não pagariam o preço de um produto dessa categoria. Talvez seja por isso que o segmento dos smartphones intermediários – com preços entre R$ 1.000 e R$1.999, segundo a fabricante, represente 70% do mercado brasileiro. Essa faixa de mercado é altamente valorizada pelas fabricantes de smartphones no Brasil, que investem em lançamentos e novos "features" nos aparelhos intermediários.

Na semana passada, a Motorola lançou a quinta geração da sua linha de produtos do segmento, a linha G, composta pelo Moto G5 e o Moto G5 Plus. Após pesquisa realizada no Brasil e em outros oito países do mundo, a fabricante chegou à conclusão que os consumidores – os mesmos que querem um smartphone premium sem pagar a mais por isso - prezam por um smartphone com bateria de longa duração, tecnologia de carregamento rápido, boa resolução de tela, câmera de qualidade e estrutura externa de metal. E então, quis imprimir essas características em seu novo aparelho da linha intermediária, ofertando-o ao preço de R$ 999 (Moto G5) e R$ 1.499 (Moto G5 Plus). A Motorola atribui boa parte de seu sucesso no mercado à linha G. Até a terça-feira anterior ao lançamento realizado na região Sul na semana passada (dia 14), a fabricante havia vendido mais de 22 milhões de unidades dos aparelhos da linha, considerados os "mais vendidos da história" da companhia.

Nova geração da linha Moto G aposta em novas características como bateria de longa duração, carregamento rápido e acabamento metálico
Nova geração da linha Moto G aposta em novas características como bateria de longa duração, carregamento rápido e acabamento metálico



Para o gerente da área de Telecom da consultoria Gfk, Igor Teixeira, o segmento de intermediários no Brasil é ainda mais relevante porque o subsídio dos consumidores nos planos pós-pagos nas operadoras é menor que em países mais desenvolvidos. "No Brasil, graças à maior competitividade entre as operadoras devido à portabilidade de linhas, desbloqueio de aparelhos obrigatório e a fidelização contratual de apenas um ano, por um lado temos mais flexibilidade para mudar de operadora. Mas, por outro, temos menos motivos para que a operadora coloque subsídio no preço do aparelho. Nos Estados unidos, por exemplo, um cliente de uma operadora pode comprar um iPhone por 1 dólar, mas terá contrato de 2 anos e não poderá portar o mesmo número caso mude de operadora. Além disso, o aparelho pode vir bloqueado."

Samsung J7 Prime tem sensor biométrico, câmera dianteira de 8 MP e proteção Gorilla Glass
Samsung J7 Prime tem sensor biométrico, câmera dianteira de 8 MP e proteção Gorilla Glass



A Gfk considera o segmento de intermediários aquele com aparelhos de R$ 500 a R$ 999. No ano passado, quando o dólar chegou aos R$ 4, essa faixa se estendeu até os R$ 1.299. É um segmento, segundo a consultoria, que tem muitos competidores, embora o número de lançamentos tenha diminuído desde 2015. "Cada fabricante hoje aposta em apenas 3 ou 4 modelos nesta faixa, enquanto no passado eram mais de 10 por marca", diz Teixeira. "Desde o sucesso do Moto G da Motorola, alguns anos atrás, os fabricantes perceberam que é melhor focar em poucos produtos consolidando volumes na produção e consolidando investimentos de marketing. Com isso a LG lançou o K10 e a Samsung lançou a linha J."

O LG K10 Power possui capacidade de bateria de 4.400mAh e câmera frontal com lente grande angular
O LG K10 Power possui capacidade de bateria de 4.400mAh e câmera frontal com lente grande angular | Foto: Fotos: Divulgação



Com a competitividade em alta no segmento de intermediários, as fabricantes investem em melhores especificações e novas funcionalidades. Desde o ano passado, conforme lembra Teixeira, "algumas coisas mudaram no aparelho desse segmento (intermediário)". "As câmeras frontais eram de 2MP e hoje são pelo menos de 5MP e a traseira mudou de 8MP para 13MP. O armazenamento também aumentou de 8GB para 16Gb e agora começa a aumentar a oferta de aparelhos com 32GB com os lançamentos de 2017. As baterias também aumentaram de capacidade para permitir mais autonomia sem recarregar o aparelho."

Imagem ilustrativa da imagem Intermediários com características de 'premium'



Consumidor está mais exigente
"Temos tido sucesso com um conceito que o Brasil não conhecia que é trazer ao intermediário ‘features’ de Premium", comentou o gerente de Produto da Motorola Brasil, Renato Arradi. Na nova geração do Moto G, a Motorola apostou em bateria de maior duração - 2.800 mAh no Moto G5 e 3.000 mAh no Moto G5 Plus -, e carregador mais rápido - 10 W no G5 e "TurboPower" no Moto G5 Plus, com seis horas de uso em até 15 minutos de carregamento. Diferente das gerações anteriores, a G5 tem aparelhos com acabamento metálico em alumínio nas cores ouro e platinum.

Os modelos também vêm com sensor de impressão digital para desbloqueio e câmera de 13 MP (Moto G5) e 12 MP com tecnologia Dual Autofocus Pixel (Moto G5 Plus). A tela é de 5" (G5) e 5,2" (G5 Plus), o processador octa-core de 1,4 GHz (G5) e de 2,0 GHz (G5 Plus) e o armazenamento de 32GB expansível para 128 GB. A memória RAM é de 2 GB.

Para Marcelo Santos, gerente de produto de Mobile da LG, a crise fez que o consumidor passasse a optar por um aparelho na faixa de preço que ele têm à disposição, mas sem abrir mão de boas especificações. "Cada vez mais, principalmente em época de crise, o dinheiro do consumidor vale mais e o que ele tem à disposição para gastar é o tíquete médio que vai de R$ 900 a R$ 1.000. Desde que o consumidor percebe o valor que terá disponível para gastar, ele analisa as especificações, a usabilidade e o design (dos aparelhos) e se vê que vale a pena, vai comprar."

Por isso, para o gerente, a faixa entre R$ 700 e R$ 1.500 é "onde todo mundo quer jogar e competir". No ano passado, a fabricante entrou nesse mercado com a linha K e, em 2017, lança a nova família da linha apostando em novas tecnologias como câmera frontal com "wide-selfie", bateria de longa duração, caneta inteligente (Smart Pen Pro) e sensor digital no "Smart Button Pro".

Na visão do gerente de Produto da divisão de Dispositivos Móveis da Samsung Brasil, Renato Citrini, o consumidor brasileiro já está em seu terceiro ou até quarto smartphone e ficou mais exigente. Segundo ele, a linha de intermediários da Samsung, a linha J, já traz "características de super premium". Exemplos são vidro resistente, acabamento em metal, leitor biométrico e câmera de alta qualidade. A linha J é a que o fabricante tem a maior variedade de modelos, com preços que variam de R$ 500 a R$ 1.500, diz Citrini.(M.F.C.)