Marlon Pascoal e JP Albuquerque: alternativa mais rápida e prática para o transporte de documentos e objetos
Marlon Pascoal e JP Albuquerque: alternativa mais rápida e prática para o transporte de documentos e objetos | Foto: Marcos Zanutto



Quando o empresário Marlon Pascoal foi fazer um "mochilão" e precisou do RG, que tinha ficado em Londrina, foram várias as ligações até que ele conseguiu que o documento fosse remetido por transportadora até Campo Grande (MS). Era final de semana, o empresário estava com pressa e, então foi preciso uma van levar a carteira de identidade até Corumbá, onde ele estava. O serviço ficou caro.

São situações como essa que fizeram ele e seu sócio, JP Albuquerque, a pensar em uma alternativa mais rápida e prática para o problema de transporte de documentos e objetos. E a solução está nas estradas: sempre há viajantes indo para diversas direções, e com um espaço sobrando no porta-malas, ou no porta-luvas. Por que então não utilizar esse espaço para fazer o envio de objetos? Ganham os dois lados: quem tem uma encomenda para enviar consegue um meio muitas vezes mais rápido e barato de fazê-lo e quem faz a entrega acaba ganhando um subsídio para a sua viagem.

Assim, Pascoal e Albuquerque criaram o "Cabenocarro", aplicativo de "entregas colaborativas" que conecta pessoas que precisam enviar encomendas e viajantes que farão o mesmo caminho. O valor do serviço é calculado pelo aplicativo com base nas dimensões do objeto e da distância do trajeto, mas os sócios estimam que as entregas sejam, em média, 60% mais baratas.

O aplicativo oferece seguro para objetos de até R$ 2 mil. Para se tornar um "viajante" do aplicativo, o usuário precisa informar dados pessoais, enviar uma foto do documento pessoal (CNH) e vincular seu perfil ao Facebook e a um número de celular. Aos usuários, também cabe avaliar os viajantes. Assim, é possível saber quem faz um bom trabalho ou não.

Segundo Pascoal, as entregas colaborativas são algo que já aconteciam de maneira "informal", através de grupos nas redes sociais, por exemplo. "Queríamos só formalizar e jogar em uma plataforma." Além de mais rápida e barata em alguns casos, a entrega colaborativa diminui o volume de carros nas ruas e, consequentemente, a poluição e o consumo de combustível.

Em uma semana, o app londrinense conquistou cerca de 200 usuários. Um deles é Bruno Palhano, que tem uma empresa de assistência técnica da marca Apple. Regularmente, ele precisa fazer o envio de placas de iPhone e Macbook para uma terceirizada em Curitiba. Enviar pelo serviço postal demoraria 24 horas, sendo que pelo app as entregas costumam chegar no mesmo dia. Como o serviço oferece seguro, Palhano diz ficar despreocupado quanto a extravios, por exemplo. "Se fosse para extraviar, iria extraviar de qualquer jeito."

ÚLTIMA MILHA
A "entrega colaborativa" vem também preencher uma grande lacuna das empresas no setor de transporte de produtos, que é chamada de "última milha" - o trecho entre o Centro de Distribuição da companhia e a casa do cliente. "Usamos a colaboração entre pessoas, que é a nova economia colaborativa, cadastrando pessoas de bem que podem ganhar dinheiro otimizando sua rota habitual", afirma João Paulo Camargo, CEO da EuEntrego, aplicativo de entregas colaborativas.

Para ele, o transporte entre cidades já possui, muitas vezes, uma "malha madura", o que não acontece na última milha. "Se você olhar para a cidade como um todo, sempre tem alguém indo para a mesma direção." O valor do frete, no fim, fica em média 15% mais barato, afirma o CEO.

Empresas já usam serviço

Uma das empresas que utilizam o serviço de entrega colaborativa dentro do perímetro urbano é a Natura. A rede de entregadores mais bem cotada do aplicativo utilizado pela companhia é acionada para realizar a entrega das caixas das consultoras e de pedidos feitos pelo site no bairro paulistano de Vila Madalena. Segundo Flávio Amaral de Freitas, gerente de Transporte da Natura, o serviço ainda está em fase de testes, mas o índice de efetividade (entregas bem-sucedidas) desde que a marca começou a utilizar o serviço é de 99,5%. O tempo de entrega também diminuiu, passando de um dia para algumas horas, ressalta o gerente.

De acordo com Freitas, o aplicativo trouxe a solução para um problema enfrentado pela empresa, que mantém contratos com uma empresa de transporte terceirizada para a realização de entregas sazonais. "Precisamos ter um volume contratado de veículos muito grande para atender um ciclo (um mês), e acabamos tendo excesso de capacidade." Com a entrega colaborativa, a Natura pode solicitar o serviço de acordo com sua demanda a custos similares.

Além disso, para o gerente de Transporte, o serviço tem "sinergia" com questões que a Natura considera importantes, como a diminuição da emissão de gás carbônico, utilizando para as suas entregas rotas que o entregador já iria fazer, e a oferta de oportunidade para pessoas que procuram uma renda extra.

Aplicativos têm desafio da confiabilidade

As empresas de entrega colaborativa têm pela frente o desafio de provar que os clientes podem confiar no serviço, opina Henrique Gambaro, coordenador do curso de Logística da Unopar. "Tem aspectos que devemos resguardar em relação à qualidade do serviço. Um deles é o aspecto legal. Tem que ver quem está prestando o serviço e quem é o responsável. No momento que peço uma entrega, ela tem que chegar."

Além disso, as empresas precisam garantir que a encomenda chegará ao destino em bom estado. Como os motoristas ou viajantes dos serviços colaborativos não têm vínculo empregatício, pode ser mais difícil convencer os clientes de que haverá comprometimento com a entrega, diz o professor. "Essas empresas ainda têm que provar que funciona, que têm responsabilidade e que, quando houver problemas, isso não vai trazer prejuízo para o cliente, que é a grande vítima. Mas isso só com tempo e serviço."