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Nostalgia é um sentimento forte presente no mundo dos videogames. Em tempos em que os consoles de última geração surpreendem com toda a sua tecnologia e gráficos ultrarrealistas, têm muita gente atrás do que é antigo - fez sucesso no passado - que marcou a infância e trás boas lembranças das décadas de 1970 a 1990.

Além da busca pelos consoles originais da época, que muitas vezes estão empoeirados e escondidos num canto de casa e podem valer uma fortuna entre colecionadores, muitas empresas resolveram facilitar esse processo para os fãs e relançam no mercado alguns videogames que bombaram em tempos passados, em alguns casos bem similares ao que se tinha na época. Outros, nem tanto.

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No ano passado, quem fez um "frisson" entre os gamers foi a japonesa Nintendo, com o lançamento do Nintendo 8 bits, o famoso "Nintendinho", que chegou com o nome de NES Classic Edition, uma réplica menor quase idêntica ao original, lançado no Japão em 1983 e dois anos depois nos EUA. A versão veio com 30 jogos na memória e entrada HDMI, deixando os fãs malucos. O sucesso foi tão grande que a empresa já anunciou o SNES Mini, o Super Nintendo, que chega em setembro com 20 jogos na memória e tem até game inédito não lançado na época, o Star Fox 2.

Outras empresas foram no embalo do mercado, como a Tectoy, que relançou este ano o Mega Drive com entrada para cartucho, cartão SD e 22 jogos na memória. A empresa viajou ainda mais no tempo e trouxe o Atari Flashback 7, baseado no inesquecível Atari 2600, com 101 jogos na memória, games clássicos como Frogger e Space Invaders (veja mais no box). A AT Games também recriou o Atari.

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Procura grande
O empresário Gabriel Modenuti trabalha com consoles novos e antigos na Koopa Troopa Games, em Londrina. Ele relata que vendeu 15 consoles relançados pela Nintendo, além de algumas unidades do Atari e Genesis, ambos da AT Games. "Já tem gente procurando o SNES Mini para reservar. A procura é grande desses novos consoles, nem tanto dos colecionadores que preferem geralmente os produtos lançados na época, mas de pessoas saudosistas, que querem jogar de novo, na televisão com entrada HDMI, mostrar para os filhos e não tem muito tempo para procurar pelas antiguidades."

Colecionadores como o advogado e músico Thiago Ridolfi também veem como maior vantagem dos relançamentos a entrada HDMI, dispensando a necessidade de o jogador ter que dispor de uma TV tubo, por exemplo.

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Mas nem tudo são flores nesses relançamentos. Modenuti aponta que existem muitas empresas oportunistas, que acabam colocando no mercado produtos de péssima qualidade. "Desde o acabamento do console, que é mal feito, até o áudio e a emulação dos jogos são ruins quando se trata de certas marcas. O consumidor precisa ficar atento. A Nintendo, por exemplo, trouxe produtos de qualidade, caprichados, que acabaram chamando atenção inclusive dos colecionadores."

Modenuti acredita que tudo que for lançado nesta "pegada retrô" e chegar com qualidade sempre terá público interessado. "Acredito inclusive que outras empresas, como a Sony, vão começar a pensar neste mercado. Quem sabe eles não voltam com um Playstation 1 e outros jogos antigos, como já fizeram com o Crash Bandicoot e outros remasters que agora estão na moda".

O idealizador da Brasil Game Show (BGS), Marcelo Tavares, relata que além do fator "nostalgia", outro ponto que chama atenção nesses relançamentos é que se tratam de jogos mais lúdicos e acessíveis. "Os blockbusters de hoje geralmente são muito complexos e isso limita quem só jogou games no passado", relata ele, que também é colecionador, com mais de 350 consoles e 4 mil jogos.

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Colecionadores também ficam de olho em novidades
Quando o papo é videogame, o advogado e músico Thiago Ridolfi conhece bem o assunto. Uma paixão que vem de infância – principalmente pela Nintendo – que faz com que ele se tornasse um colecionador. São 18 consoles, dos antigos aos atuais, e dezenas de jogos de tudo quanto é plataforma.

Nesta onda das empresas retomarem os produtos do passado, Ridolfi adquiriu um NES Classic Edition e já fez a compra antecipada do SNES Mini, que chega no final de setembro, ambos da Nintendo. "As pessoas buscam essa nostalgia e as empresas perceberam isso. A vantagem é que tudo é oficial, com os jogos licenciados e até a embalagem relembrando o passado. Eu só não vejo os jovens de agora com essa paixão, porque tudo é muito nostálgico".

O empresário do ramo de games Gabriel Modenuti diz que onda retrô sempre terá procura, mas desde que haja qualidade
O empresário do ramo de games Gabriel Modenuti diz que onda retrô sempre terá procura, mas desde que haja qualidade



Um ponto vantajoso para Thiago desses relançamentos, comparado com os videogames da época, é que eles vêm com entrada HDMI, uma facilidade maior para jogar nas TVs atuais. "O jogador não precisa ir atrás de uma TV de tubo para jogar. Outro ponto importante em alguns lançamentos é o apelo ao colecionismo. A Nintendo mesmo segurou a produção das unidades do NES Mini e logo se tornou uma raridade, com valores muito elevados. Sumiu do mercado e o que saiu a US$ 60 hoje já é comercializado a US$ 500".

Outro fator interessante citado por Thiago é que talvez esses relançamentos mexam nos valores do mercado de colecionismo. "É uma pergunta que ainda não sabemos responder. Mas existe a possibilidade dessa invasão de relançamentos acabem abaixando o preço de alguns produtos, que agora podem ser encontrados com maior facilidade". (V.L.)

Tectoy: aposta no passado projeta futuro mais promissor
Os jogadores mais "old school", quando puxam na memória as décadas de 1980 e 1990, certamente irão se lembrar da Tectoy. A empresa brasileira foi um sucesso absoluto quando trouxe para o Brasil a produção e reprodução oficial dos consoles da Sega, o Master System e, posteriormente, Mega Drive. Nesta época, quem comandava o mercado eram Sega e Nintendo, duas gigantes japonesas numa briga que muita gente sente falta.

Em 2017, a Tectoy completou 30 anos no mercado e, depois de tempos meio esquecida, resolveu retornar com a produção dos consoles antigos. Além do Master System e o Atari, sem dúvida o mais aguardado pelos fãs foi o Mega Drive, que veio com entrada para cartucho, o famoso joystick 3 botões, 22 jogos na memória e até a caixa muito similar ao do console da época.

O colecionador Thiago Ridolfi: "A vantagem é que tudo é oficial, com os jogos licenciados e até a embalagem relembrando o passado"
O colecionador Thiago Ridolfi: "A vantagem é que tudo é oficial, com os jogos licenciados e até a embalagem relembrando o passado"



O head de Marketing e e-commerce da Tectoy, Victor Raful, explica que três linhas de pensamento guiaram o caminho da empresa para trazer esses ícones do passado de volta: os 30 anos da marca, a opinião dos fãs e um olhar introspectivo para dentro da empresa e entender que a resposta para muitas das questões estavam em seu próprio DNA. "A Tectoy faz parte da cultura pop e ainda representa a indústria nacional de games. Não temos a pretensão de concorrer com grandes players do mercado, mas sim de preencher um nicho que não estava sendo trabalhado oficialmente no Brasil, que era o de consoles retrôs. Com o advento da cultura game/geek que cresce e se consolida, resgatar o DNA da Tectoy faz todo o sentido".

A estratégia deu certo e a repercussão foi enorme. Raful acredita que a empresa ainda tem seu espaço, já que as propostas dos consoles atuais e os retrôs são bem distintas. "Hoje a diversidade é muito bem aceita e as pessoas querem saber mais sobre muitos assuntos e, principalmente, querem algo de valor. O nosso videogame é diferente dos consoles (atuais), pois proporciona uma nova experiência para o público e que pode ser partilhada até com a família, nas quais se constituem pelos pais que eram o nosso público alvo dos anos 1980 e 1990. Com uma característica mais simplista e dinâmica, jogar o 8 e 16 bits pode ser ainda muito marcante".

Todo esse feedback deu um fôlego novo para a empresa, que resgatando o passado projeta um futuro mais promissor. "A Tectoy não é somente games, mas também entretenimento eletrônico e brinquedos. Novos projetos estão sendo pensados, estamos trabalhando muito com as licenças e direitos. Afinal, não podemos parar nos 30 anos". (V.L.)