O trecho sul da avenida (entre a JK e a Inglaterra) foi o que mais cresceu, se modernizou e tem atraído a atenção de investidores
O trecho sul da avenida (entre a JK e a Inglaterra) foi o que mais cresceu, se modernizou e tem atraído a atenção de investidores | Foto: Gina Mardones



Uma das primeiras e mais conhecidas avenidas de Londrina, a Duque de Caxias, deve ser repaginada em breve. A via rápida, a única que a faz a ligação direta entre as regiões norte e sul da cidade, será parcialmente duplicada. A obra integra as intervenções necessárias para a implantação do novo sistema de transporte coletivo de Londrina, o Superbus. Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul), os projetos complementares da duplicação do trecho de 1,8 mil metros, da Leste-Oeste até a BR-369, que prevê desapropriação na parte frontal de mais de 80 lotes, devem ser concluídos e entregues ao Município em janeiro de 2018.

A obra é prevista desde a década de 1950. A gerente de projetos urbanísticos e edificações do Ippul, Amanda Salvioni Sisti, diz que a Prefeitura fará o inventário de cada edificação desapropriada. O objetivo é registrar as construções existentes antes da demolição. "Naquela região, existem construções antigas, ali era a rota que ligava a cidade até o distrito do Heimtal, muito importante para os pioneiros", justifica. A documentação será feita por meio de fotos, planta dos imóveis, estilo e período da construção, arquiteto responsável, entre outras informações. A especialista destaca a importância da obra para a mobilidade urbana e melhoria do sistema viário de Londrina.

A gerente de projetos viários do Ippul, Cristiane Biazzono, explica que o projeto do Superbus prevê uma série de intervenções além do alargamento de vias, como a criação de ciclovias, substituição dos pontos de ônibus, construção de viaduto, ampliação de terminais. "Entre os seis corredores selecionados com mais passageiros e mais linhas de ônibus está a Avenida Duque de Caxias", aponta. A obra de duplicação será realizada no trecho entre a Leste-Oeste e a BR-369 para que seja possível o encaixe com outra avenida, a Lúcia Helena Gonçalves Viana, que já é duplicada. Cristiane afirma que o projeto é complexo e compreende desapropriações na face leste, drenagem, pavimentação, iluminação, arborização. Os projetos executivos já estão prontos e os complementares devem ser concluídos até janeiro.

As intervenções serão financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. Mas, para que a Prefeitura de Londrina possa licitar a obra, é necessário, primeiro, ter a liberação dos recursos pela Caixa Econômica Federal e, para isso, ainda não há prazo. Cristiane confirma que existe a previsão de duplicação da Duque de Caxias até a Avenida JK, mas as quadras que passam pela Vila Casoni foram escolhidas como prioritárias. "Isso não significa que o outro trecho não será executado", pondera. Da Leste-Oeste até a JK, a faixa de ônibus será mantida e a previsão é de acabar com o estacionamento em horários determinados, como ocorre hoje.

FALTA OUSADIA
Para o arquiteto, urbanista e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Fausto Lima, falta ousadia para a Prefeitura. Ele critica a execução parcial do projeto de duplicação, com a exclusão do trecho entre a Leste-Oeste e a JK. "O que está previsto, mais uma vez, é fazer os projetos pela metade, como costuma ocorrer em Londrina. As coisas são feitas no afogadilho e sempre com a preocupação de que tem de custar pouco", argumenta. Para ele, falta gestão do Plano Diretor e uma fiscalização mais eficaz pela Câmara de Vereadores. Ainda de acordo com a avaliação do especialista, a duplicação completa, da BR-369 até a JK, resultaria numa valorização dos imóveis localizados na avenida. Hoje, por conta da depreciação, eles não são atrativos para os investidores. "O espaço fica congelado pela perspectiva de desapropriação e vai se deteriorando", completa.

Outro problema, segundo o urbanista, é que a Duque é uma via de apenas 28 metros de largura. "Não atende às necessidades da cidade moderna", justifica. Lima diz que o ideal seria realizar as intervenções necessárias com a participação dos poderes público e privado. O Município assumiria a desapropriação, e a iniciativa privada ficaria responsável pela construção em troca de incentivos, por exemplo. É o modelo conhecido como PPPs – Parcerias Público-Privadas – que ainda esbarra na burocracia e falta de conhecimento em Londrina. Um dos argumentos do Ippul para justificar a execução parcial da obra de duplicação da Duque é de que existe o interesse de preservação de fachadas, consideradas históricas. Para isso, não há projeto específico. No entanto, o professor da UEL diz que a primeira atitude deveria ser caracterizar os espaços históricos, estudar o que é patrimônio e realmente relevante para ser preservado. Ele ressalta que a avenida não possui nenhuma edificação tombada.

UMA VIA DE TRÊS FACES
A Avenida Duque de Caxias faz parte do plano inicial da cidade Londrina. No passado, segundo o urbanista Fausto Lima, ela era conhecida como a Estrada do Heimtal. Mais tarde, passou a fazer a ligação entre Londrina até Tamarana e os distritos da região sul. "Ela sempre foi importante para a cidade, mas relegada a segundo plano, porque tinha um comércio pesado", afirma o estudioso.

No trecho abaixo da Leste-Oeste, que deve ser duplicado em breve, havia, antigamente, uma estrada de ferro e pequenas indústrias. Da Leste-Oeste até a JK, concentravam-se a maioria dos atacadistas em um comércio mais organizado. Entre a JK e a Avenida Inglaterra, a via abrigava máquinas de arroz e de café e até um mangueirão de porco e uma farinheira. "Na parte sul, o rural e o urbano se misturavam", lembra.

Até hoje, a avenida parece dividida entre três faces, cada uma com uma característica própria. O trecho sul foi o que mais se modernizou. Hoje, ele abriga, além da sede da Prefeitura Municipal, Fórum e Câmara de Vereadores, escola, faculdade, supermercado, agências bancárias e diversos outros serviços. O espaço cresceu tanto que atraiu a atenção de investidores.

A Vectra Construtora entregou, há cerca de dois anos, no trecho entre as ruas General Horta Barbosa e Henrique Dias, três torres residenciais, com 240 apartamentos e 17 lojas comerciais. O coordenador de comunicação da empresa, Fábio Augusto Mansano, diz que uma das ferramentas de marketing para a venda das unidades foi a tranquilidade do bairro residencial, localização estratégica e infraestrutura completa oferecida pela Duque.

"Sempre acreditamos no potencial da avenida e o empreendimento teve uma comercialização muito rápida", afirma. Segundo Mansano, mesmo durante a grave crise econômica, os espaços comerciais não ficaram desocupados. E o perfil de moradores é bastante diversificado, vai de funcionários públicos até pessoas da terceira idade. Mansano acrescenta que, como a Duque é uma avenida de ligação, muitos escolheram morar ali pela facilidade de acesso a outras regiões da cidade.

O engenheiro Angelo Favoreto, dono da Favoreto Construtora, também resolveu apostar em uma das principais ruas de comércio de Londrina. Em abril de 2018, a empresa entregará na avenida o empreendimento Duque Hall, localizado junto ao cruzamento com a Avenida Bandeirantes. "Quando pensamos em um prédio comercial, levamos em conta o centro cívico e os médicos. Tanto que vendemos muitas salas para médicos e advogados", conta. O prédio tem sete andares e possui plantas modulares, com áreas privativas entre 46 e 88 metros quadrados e uma vaga de garagem.

Ao todo, o empreendimento possui 105 salas comerciais, mas apenas 15 unidades ainda estão disponíveis para venda. "A região estava carente de um prédio comercial", analisa o empresário. Segundo ele, um dos diferenciais da construção será o estacionamento rotativo para clientes.

COMO REVITALIZAR O TRECHO ANTIGO
Com a modernização do trecho sul e a duplicação da face norte da Avenida Duque de Caxias, apenas uma parte da via permanecerá com as características históricas e a maioria das fachadas antigas. Para o arquiteto e conselheiro estadual do CAU-PR (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná) na região de Londrina, André Sell, no trecho entre a Leste-Oeste e a JK seria interessante, do ponto de vista histórico e turístico, realizar um estudo para tombamento ou mesmo incentivo da conservação das fachadas mais características da época da formação da cidade. "É preciso convidar as pessoas a andar pela avenida", opina.

O arquiteto aponta a necessidade de elaboração de um projeto urbanístico para o espaço. Uma sugestão seria revitalizar as calçadas, postes e fiações, criar estacionamentos a 45 graus, ter um núcleo histórico misturado com construções mais modernas e, para isso, contar com a iniciativa privada. Sell diz que, para um bom resultado, o ideal seria discutir a proposta com todos os envolvidos, desde os proprietários dos imóveis e lojistas, até técnicos da Prefeitura, representantes do CAU, do Ceal (Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina), professores da área de urbanismo. "Londrina tem profissionais muito competentes", afirma.

Enquanto as ideias permanecem apenas no papel, alguns lojistas da Duque trabalham para deixar os espaços comerciais mais atrativos aos clientes. Um dos sócios da Prolar, empresa estabelecida em um terreno de 700 metros quadrados desde a década de 1970, Fernando Luiz Guerzoni, diz que em 2018 vai investir na ampliação da loja nos fundos para criar um espaço maior de estacionamento na frente. Para ele, um projeto de revitalização, como ocorreu na Rua Sergipe, seria interessante. Porém, a dificuldade estaria na adesão de todos os lojistas. "Os imóveis ficaram muito baratos aqui e atraiu comércios menores, e fica difícil para os pequenos investir", justifica.

O proprietário da Waleron Refrigeração e Waleron Máquinas de Costura Industriais, Waldemar Maran, investiu na revitalização das fachadas. Ele possui comércio desde 1965 na Duque de Caxias. Para Maran, a duplicação é a melhor solução para reavivar o comércio no trecho, que entrou em declínio principalmente após a exclusão das vagas de estacionamento, agora ocupadas pela faixa exclusiva para ônibus do transporte coletivo. Um levantamento realizado pelos comerciantes do trecho apontou que, no início de 2017, havia 70 imóveis fechados.

Como tentativa de minimizar o problema, agravado ainda mais pela crise econômica, um grupo de lojistas apresentou à Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) uma proposta de mudar a faixa de ônibus para a Rua Uruguai, duas quadras abaixo, mas a possibilidade foi avaliada e descartada. O gerente de transportes da CMTU, Wilson de Jesus, justifica que a Duque de Caxias é um dos principais corredores da cidade no sentido norte-sul. Segundo ele, 14 linhas de ônibus trafegam pela avenida e seria inviável levar toda essa demanda para uma rua residencial, onde passa apenas uma linha.

"Afastar os ônibus da Duque seria ainda mais prejudicial quando se fala em mobilidade urbana, aumentaria o deslocamento das pessoas e diminuiria a visibilidade da avenida", avalia Jesus. O gerente de transportes argumenta que o transporte coletivo serve como indutor da economia e cita o exemplo da Rua Sergipe. "Os comerciantes decidiram manter os ônibus e retirar os estacionamentos porque entenderam que os clientes do transporte eram comuns aos do comércio", afirma. Ainda de acordo com Jesus, a faixa exclusiva para ônibus, com uma extensão de 1,5 quilômetro, permitiu um ganho de 12 minutos, em média, por viagem. "Temos que pensar o transporte de forma eficiente", pontua.