Preservar a memória da história da democracia no Brasil. Essa é a proposta do Museu da Democracia que deve ser inaugurado nos próximos meses em Curitiba. O Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (iDeclatra) e a prefeitura da cidade, por meio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), estão prestes a firmar um convênio para criar o espaço.

A previsão é de que o Museu da Democracia seja instalado no antigo prédio dos Correios, uma edificação de 1934, em estilo art déco, ao lado da Praça Santos Andrade e do edifício histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no centro de Curitiba.

“A Prefeitura de Curitiba e os Correios assinarão um Termo de Cessão de Uso, que está em análise. Após a transferência do prédio para o Município, será firmado um convênio entre município e iDeclatra, com interveniência da FCC, para início dos trabalhos”, respondeu a FCC à FOLHA.

Segundo a presidente do iDeclatra e ex-vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, essa medida é necessária porque o prédio pertence a um órgão público e não pode ser cedido para uma empresa privada.

“Devemos assinar nesse próximo mês o acordo. Ele é bem complexo porque esse imóvel que será cedido é dos Correios, uma empresa pública, e não pode ser cedido para uma empresa privada como é o instituto, embora sem fins lucrativos. Então, será cedido para a Prefeitura de Curitiba com o objetivo expresso de implementar o Museu da Democracia”, explicou a presidente em entrevista à FOLHA.

O MUSEU

O projeto do Museu da Democracia existe desde 2022 e surgiu com a ideia de reforçar para as pessoas a importância da defesa desse regime político. O acervo será composto por materiais históricos do período de redemocratização do Brasil. Com o movimento das Diretas Já nos anos 80 e o primeiro comício das “Diretas Já” no Brasil, que ocorreu na capital paranaense em 12 de janeiro de 1984 e reuniu cerca de 50 mil pessoas.

“O Museu da Democracia ele vem na esteira de acontecimentos do país a partir dos movimentos das Diretas Já, na fase de redemocratização do Brasil. É a partir deste momento que nós vamos contar essa história”, contou Mirian.

Conforme a FCC, o acordo entre prefeitura e instituto será um “testemunho do compromisso da cidade com a preservação e promoção dos valores democráticos”.

“O propósito do Museu da Democracia é educar e informar a população sobre os últimos quarenta anos de história do Brasil, é de suma importância não apenas para Curitiba, mas para todo o país. Ao destacar os avanços e retrocessos da democracia brasileira, o futuro Museu não apenas celebra as conquistas, como o movimento das Diretas Já, que teve início nas ruas de Curitiba, mas também lança luz sobre desafios contínuos que enfrentamos como sociedade”, ressaltou a FCC em nota.

Mirian Gonçalves reforça que o projeto também foi apresentado para a ministra da Cultura Margareth Menezes e, desde então, ganha novos apoiadores.

“Ninguém fala, pelo menos não conscientemente, eu não quero essa democracia. Sempre que se trata de memória, você tenta evitar erros passados e cometer novos acertos. Então, é um museu em construção, da mesma maneira que é a democracia”, afirmou Mirian.

Para a presidente do iDeclatra, as recentes tentativas de golpe, em 8 de janeiro do ano passado, demonstram a necessidade de debater assuntos relacionados à democracia.

“Se for recuperar a história, nós temos vários golpes, várias tentativas, várias manipulações da população. São esses pequenos ataques à democracia, que a tornam tão frágil. A única maneira de fortalecer é que as pessoas entendam que cada um constrói um pouquinho dessa fortaleza. Para isso, é preciso que as pessoas entendam e se deixem conquistar pela democracia. Nossa ideia é trabalhar com a juventude e dar oportunidades de conhecimento”, considerou.

Quem tiver fotos, vídeos ou histórias que possam contribuir com o acervo do museu pode entrar em contato pelo Instagram no @ideclatra.

“O Museu da Democracia não só enriquece a experiência cultural da cidade, mas também serve como um farol para o país, reafirmando a importância da participação cívica e do engajamento democrático para a construção de um futuro mais justo e inclusivo”, concluiu a Fundação Cultural de Curitiba.