Londrina - ''Não tenho liberdade.'' É assim que o cadeirante Wilson Gonçalves, de 54 anos, resume sua sina. Como ele, outros deficientes físicos reclamam da falta de acessibilidade em Londrina. De acordo com levantamento divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), apenas 15% dos domicílios em Londrina possuem rampas de acessibilidade nas proximidades.
No Paraná a situação é ainda pior: só 9% dos domicílios têm rampa de acesso no entorno. Nas principais cidades do Estado o quadro é o seguinte: Maringá (17%), Curitiba (12%), Cascavel (10%), Ponta Grossa (4%) e Guarapuava (3%). A média brasileira é de apenas 5% de residências com rampas próximas.
O estudante de jornalismo Cléber Pereira Carvalho, 32, sofre diariamente com a falta de rampas e com calçadas em más condições. ''Vou pela rua, na contramão, para poder ver os carros vindo de frente'', contou ele, que vive no Conjunto João Paz (Zona Norte). Quando passa por ruas de sentido único, é obrigado a se arriscar entre os carros. ''Até evito sair muito de casa.''
Gonçalves diz que também pensa muito antes ir para a rua. ''Todo lugar que vou não tem rampa. Não tem rampa em ponto de ônibus, não tem banheiro para deficiente. A gente fica travado. Já caí para todo lado, na calçada, na rua. Aí tem que pedir ajuda'', lamentou.
O secretário especial de Acessibilidade e de Pessoa com Deficiência da Prefeitura de Londrina, José Giuliangeli de Castro, admite que ''15% (de rampas) ainda é muito pouco''. ''Mas não basta ter rampa, tem que ter inclinação adequada'', alertou.
Segundo Castro, 300 rampas foram construídas na cidade nos últimos dois anos. ''Os 15% comparados com os 5% do País são um sinal de que estamos caminhando. Em breve será feita reforma no Terminal Urbano, vamos adaptar as rampas. O plano diretor aprovado no ano passado também prevê que até 22 de novembro todo o quadrilátero central tem que estar adaptado.''
Enquanto as melhorias na acessibilidade não passam de projeto, quem depende de cadeira de rodas precisa de muito esforço para enfrentar obstáculos a cada esquina. É o caso do desempregado Fernando Bernardo da Silva, 27. Paraplégico há sete anos, desde que foi atingido por um disparo de arma de fogo, o morador de Cambém vem diariamente a Londrina em busca do sustento. Trabalha como guardador de carros na Praça do Aleijadinho, no Jardim Londrilar (Área Central). E para circular por ali, precisa empinar a cadeira para alcançar a calçada, uma vez que no local não há rampas de acesso. ''Ando principalmente na rua, porque as calçadas são ruins. Se bem que até na rua está difícil'', lamentou.