Quase cinco anos e cinco meses depois, os sete acusados pela morte do jogador Daniel Corrêa Freitas e a família da vítima ficarão frente a frente no júri popular que começa, nesta segunda-feira (18), no Fórum de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo do atleta, na época com 24 anos, foi encontrado por um morador na região rural da cidade, na manhã de 27 de outubro de 2018.

A expectativa é que o julgamento dure alguns dias, pela complexidade do caso e número de envolvidos. Cerca de 40 testemunhas foram arroladas e 15 advogados, entre defesa e acusação, atuam no processo.

“Será um júri difícil, trabalhoso. A família do Daniel está em Curitiba para acompanhar esse júri. Será um trabalho árduo da acusação para que a gente consiga ao final uma condenação exemplar para esses criminosos. Estamos otimistas, porque as provas são robustas, o trabalho foi feito com dedicação e aguardamos justiça no fim dos trabalhos do júri”, disse à FOLHA o advogado Nilton Ribeiro, assistente de acusação que representa a família de Daniel.

Dos sete réus, apenas dois permanecem na prisão: Eduardo Henrique Ribeiro da Silva, que havia conseguido liberdade provisória em outubro de 2019, mas foi detido em flagrante por roubo em 2020; e Edison Brittes Junior, conhecido como Juninho Riqueza, que confessou ter cometido o crime e segue na cadeia desde a época do assassinato.

Respondem em liberdade: Cristiana Brittes e Allana Brittes, esposa e filha de Edison; Ygor King; David William Vollero Silva; e Evellyn Brisola Perusso, que nunca foi presa.

Entre os crimes que serão analisados pelo júri estão homicídio qualificado e triplamente qualificado, ocultação do cadáver, corrupção de menor, fraude processual e coação no curso do processo.

“Estamos nos preparativos finais do julgamento, um processo que levou em torno de cinco anos. Tivemos várias batalhas, por exemplo, na primeira sentença a Cristiana foi impronunciada, a juíza achou que ela não tinha que ir para júri. Depois, a acusação recorreu e conseguiu em segunda instância trazer a Cristiana para júri. Hoje, todos os acusados estão pronunciados, ou seja, todos irão nesta segunda-feira para o júri”, considerou Nilton Ribeiro.

Procurada pela reportagem da FOLHA, a banca de advogados que defende a família Brittes, representada pelo escritório de Elias Mattar Assad, informou que só irá se pronunciar no júri.

TROCA DE JUÍZES

Durante os mais de cinco anos, o caso passou pelas mãos de cinco juízes. Thiago Flôres Carvalho será o responsável por comandar o julgamento, após os outros quatro magistrados alegarem motivo de foro íntimo para abandonar a ação.

Flôres Carvalho é conhecido por ser um juiz linha dura. Ele foi designado no fim de novembro e não demorou para fazer o processo andar.

Formado em direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), em 2008, o magistrado também é graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Antes de ser juiz, atuou como promotor do Ministério Público.

O CRIME

Com passagens pelo São Paulo e Coritiba, Daniel Corrêa Freitas era convidado da festa de aniversário da amiga Allana Brittes, filha de Edison Brittes Junior, em uma casa noturna de Curitiba. Após a balada, o jogador aceitou o convite para esticar a comemoração na casa da Família Brittes, junto de outras dez pessoas, em São José dos Pinhais.

Segundo a Polícia Civil, o conflito com Edison teria sido motivado por fotos e áudios enviados por Daniel em um grupo de amigos no WhatsApp. Nas mensagens, o jogador se vangloriava por estar na cama deitado ao lado de Cristiana Brittes, esposa do dono da casa.

De acordo com a investigação, ao saber das mensagens, o empresário deu início ao espancamento de Daniel e teve a ajuda de outros convidados da festa. O jogador só sairia da casa dentro do porta-malas de um carro. Foram 11 quilômetros de distância até a plantação de pinus, onde o corpo foi encontrado por um morador na manhã de 27 de outubro de 2018.

Conforme os laudos da Polícia Científica, Daniel foi parcialmente decapitado e teve o pênis decepado, com participação direta de Edison, Ygor, Eduardo e David.

A investigação afirma ainda que, dois dias depois do crime, Edison se encontrou com os outros seis envolvidos em um shopping para combinar a versão que seria dada à polícia. A história não convenceu e o empresário acabou confessando o assassinato e sendo preso na mesma semana. Durante os mais de cinco anos, a defesa tentou vários recursos para que ele deixasse a prisão, mas nenhum foi acatado.