Programação de oficinas foi definida pelos próprios alunos
Programação de oficinas foi definida pelos próprios alunos | Foto: Fotos: Marcos Zanutto
Responsabilidade pela faxina é dividida entre os participantes da ocupação
Responsabilidade pela faxina é dividida entre os participantes da ocupação



A segunda-feira (24) marcou o 12º dia de ocupação no Colégio Estadual Roseli Piotto Roehrig, no Conjunto José Giordano. A escola foi a primeira da zona norte de Londrina a ser ocupada pelos estudantes secundaristas. No dia tumultuado, em que a Justiça concedeu reintegração de posse de seis colégios ocupados em Londrina, o dia foi de tranquilidade na escola. Os cerca de 30 estudantes que dormem no colégio preparavam a programação para a terceira semana de ocupação.

As dezenas de pares de chinelos amontoados na entrada do refeitório anunciavam a grande faxina. Mas as atividades começaram bem mais cedo. Por volta das 8 horas, o dia começou com o café da manhã, basicamente de bolachas de água e sal e pão com salsichas, tudo doado pela comunidade. Como os estudantes não têm acesso à cozinha, nem ao setor administrativo, tudo é improvisado. A comida é preparada em um fogão instalado no meio do refeitório. Ao lado, as louças são empilhadas sobre alguns bancos.

As tarefas são dividas em três comissões: cozinha, limpeza e segurança. Enquanto os dois primeiros grupos se incumbem de preparar as refeições e manter o lugar limpo, o terceiro fica responsável pelas rondas e por registrar o nome de todos que entram na ocupação: "Como o colégio está sob nossa responsabilidade, somos muito rigorosos nas permissões de entrada", comentou a estudante G., de 17 anos. Uma das mais velhas do grupo, ela coordena as atividades. "Não temos liderança nenhuma e todo mundo se respeita. De vez em quando, é claro, surge algum atrito. É normal", contou.

Segundo G., a primeira coisa que o grêmio estudantil fez foi ler os documentos, as propostas e os motivos da greve. "Aqui no colégio todos sabem pelo que estão lutando. Ninguém está sendo manipulado, ou indo na onda de outros", comentou a vestibulanda, que está de olho em uma vaga para o curso de Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). "Sou contra pessoas ocuparem e não saberem o motivo pelo qual estão ali, sobre o que está sendo proposto. Tem que ir pela própria cabeça", completou A., de 15 anos, aluna do 1º ano.

A. contou à reportagem que tem uma inclinação política à direita, mas que não concorda com o conteúdo da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 nem com a medida provisória que define a reforma do ensino médio. "Não é porque sou de direita que tenho que concordar com isso. Aqui tem pessoas de diferentes orientações políticas, o que derruba essa visão que somos manipulados por partidos políticos. As ocupações não são partidárias, elas são dos estudantes", defende.

Na escola os estudantes não têm medo de admitir que aprenderam muitas coisas, entre elas que as louças não se lavam sozinha. "Não vou mentir e dizer que eu era um exemplo em casa. Aqui eu aprendi o trabalho que dá fazer uma faxina. Aprendi a dar mais valor no trabalho das tias que limpam a escola. Elas são só três para limpar isso tudo. A gente em dez quase não dá conta", analisou R., aluna do 2º ano. "Cara, eu nunca mais vou riscar uma carteira na minha vida. Senti na pele o trabalho que dá pra limpar", acrescentou J., de 16 anos. "Você já desentupiu uma patente? É nojento", disse um deles, seguido de coro de gargalhada dos outros estudantes.

Dentro da programação alternativa, os alunos destacam as oficinas de dança, teatro, cuidados com a horta, além dos aulões de português, física e química. "A estrutura do ensino médio precisa melhorar, mas não como o governo quer. As aulas tradicionais são importantes, mas nessas atividades, como a dança e o teatro, nós aprendemos muito, de forma lúdica. Isso não pode ser tirado da gente, como querem fazer com a disciplina de arte e outras tão importantes", reclamou R.

Outro ponto destacado pelos estudantes é a união. "Muita gente aqui nem se cumprimentava. Hoje somos todos amigos, amigos de estudantes de outras escolas. Quem diria que uma ocupação como essa uniria estudantes do centro e da periferia por uma mesma causa?", apontou G. "Todo o tempo que estamos aqui estamos deixando o celular de lado, para a conversa olho do olho. São muitos benefícios que muitos se recusam a ver."

Após o dia de atividades, os alunos se recolhem para as salas usadas como dormitórios. "Meninos pra um lado e meninas pra outro", destacou uma aluna, dizendo que ali não tem bagunça. "Temos sempre uma pessoa maior de idade durante as noites, geralmente um pai ou mãe de aluno. Por volta das 23 horas, as luzes começam a se apagar para começar tudo de novo no dia seguinte. Os estudantes não sabem por quanto tempo a rotina vai perdurar, mas eles garantem que seguem firmes por melhorias no ensino.