Jovens esperam a abertura dos portões em frente ao Colégio Vicente Rijo
Jovens esperam a abertura dos portões em frente ao Colégio Vicente Rijo | Foto: Fotos:Gustavo Carneiro



Cerca de 4,5 milhões de estudantes, dos 6,7 inscritos de todo o Brasil, realizaram neste domingo, 5, o primeiro dia do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2017. De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e Ministério da Educação, o número de abstenção foi de 30,2%. Este é o maior índice desde 2009, quando 37,7% não compareceram ao primeiro dia de prova. No Paraná, 287.828 pessoas se inscreveram, sendo a grande maioria entre 17 e 18 anos.
Este ano foi marcado por mudanças no exame que, pela primeira vez, foi dividido em dois domingos seguidos ao invés de um único fim de semana. Outra alteração foi quanto a personalização das provas, que contaram com nome e número de inscrição de cada participante. Para evitar fraudes, o Enem deste ano registrou um forte esquema de segurança, com 67 mil detectores em 12.432 locais de aplicação de prova.
No total, 273 pessoas foram eliminadas no primeiro dia, sendo que 264 foram por descumprimento das regras gerais do edital e nove por terem algum equipamento identificado pelos detectores de metal. "A própria divulgação de que estamos utilizando equipamentos que identificam o uso de transmissores deve ter inibido os malfeitores que tentam ir no caminho dessa fraude", disse o ministro da Educação, Mendonça Filho.
Os candidatos tiveram 5h30 para responder a 90 questões de linguagens e códigos e ciências humanas. Também foi aplicada a redação, que teve como tema "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". No próximo domingo, 12, será a vez dos participantes responderem a questões de ciência da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias, com duração máxima de 4h30. O gabarito oficial do Enem será publicado no dia 16 de novembro, no portal do Inep. Já o resultado final sai em janeiro de 2018.

MAIS OBJETIVA
Para vários estudantes, a prova desta edição mostrou-se mais objetiva em comparação aos anos anteriores. "É a segunda vez que faço o Enem e achei esta primeira prova mais simples, porém mais elaborada, o que não fez com que fosse fácil", avaliou o estudante Henrique Alves, 18. Para Rafael Scaramal, 21, o fato de acontecer em dois domingos foi positivo. "Parei de estudar há algum tempo e por isso senti mais dificuldade. O que vi como positivo neste ano é que foi muito menos cansativo do que em outras edições", constatou.
Buscando ingressar no curso de serviço social na UEL(Universidade Estadual de Londrina) com a nota do Enem, Vitória Cunha, 17, gostou da prova. "Muitas questões foram de assuntos que aprendi recentemente no colégio, então isto ajudou. Estudei por conta e me senti tranquila neste primeiro dia, porque tenho muito mais facilidade com humanas", contou. A estudante também afirmou que se surpreendeu com o tema da redação. "Não havia lido nada específico sobre este assunto pois esperava algo mais relacionado à política", completou.

QUESTÕES
A prova cobrou dos candidatos conhecimento sobre fatos importantes da história do Brasil e do mundo. Entre as indagações de ciências humanas estavam a participação da mulher na política brasileira, usina hidrelétrica de Belo Monte, Estado Palestino e história da escravidão. Já em linguagens e códigos foram citados textos e obras de Clarice Lispector, Chico Buarque, Racionais MC e do paranaense Paulo Leminski.
Já a redação contou com quatro textos motivadores distintos. Um deles explicava que a linguagem brasileira de sinais passou a ser considerada a segunda língua oficial do País em 2002. Os candidatos surdos que prestaram a prova compreenderam 2.992 do total de inscritos. (Com Agência Brasil)

'É um tema complexo, mas relevante'
Para professores especializados ouvidos pela FOLHA, o tema da redação do Enem 2017, "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", não surpreendeu por abordar a temática da inclusão, mas por tratar o assunto de forma tão específica. Segundo Flávia Cabral, professora de redação em um curso preparatório, o exame tem mantido a tendência de focar em temas sociais, mas que não necessariamente são aqueles considerados do momento.
"O Enem é uma prova cidadã. Assim como foi com o tema da violência contra a mulher (2015), que foi próximo da Lei Maria da Penha completar dez anos, e o tema da Lei Seca (2013), que aconteceu quase dois anos depois da implantação da lei, a temática inclusão é presente na nossa sociedade e ganhou ainda mais mídia com a aprovação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, em 2015, e com as paralimpíadas de 2016. Por isso o tema inclusão e educação eram esperados e trabalhamos isto durante o ano", apontou Cabral, que é professora do curso e colégio Sigma e supervisora de produção de texto no colégio Universitário
Para a professora de redação e língua portuguesa Vânia Silva, a maior dificuldade dos alunos seria quanto ao repertório de conhecimento sobre a surdez. "É um tema complexo, mas relevante e que vem sendo abordado em concursos. Para o candidato, era importante abordar várias áreas do conhecimento, mostrando domínio da temática. Uma competência do Enem é o seu caráter argumentativo e quanto mais propostas se usa, mais isto pode se tornar um diferencial", elencou. Além de dar aulas de redação e português no colégio Londrinense, ela também é monitora de redação no curso Saber.
De acordo com as profissionais, o conhecimento da Lei Brasileira de Inclusão e da Constituição Federal seria necessário para desenvolver a redação sobre educação e surdez. "Em um primeiro momento a pessoa teria que falar sobre o direito a igualdade, levando isso em consideração no contexto da educação, a partir da perspectiva do surdo", disse Flávia Cabral. "Falar sobre o respeito talvez tenha sido o mote de toda esta temática."
Atenta à questão da inclusão, Vânia Vargas afirma que contextualizar a pessoa com surdez na história também é relevante. "O candidato precisa tomar cuidado com a nomenclatura, porque a própria lei já não trata mais a pessoa portadora de deficiência, mas a pessoa com deficiência", destaca a professora, que perdeu a visão há quatro anos. "Era preciso um olhar de que não basta preparo na questão pedagógica, mas também os alunos, que devem estar preparados para receber alguém diferente deles", sugeriu.

POLÊMICA
A redação do Enem 2017 também esteve em volta de uma polêmica na última semana. A Associação Escola Sem Partido obteve na Justiça decisão que proibiu o Ministério da Educação dar nota zero a redações com teor considerado ofensivo aos direitos humanos. A Procuradoria Geral da República e a Advocacia Geral da União tentaram derrubar a decisão, porém o Supremo Tribunal Federal a manteve.
"Esta situação só gerou nervosimo no candidato, porque não tem como um aluno ficar preocupado com o que pode ou não falar a poucos dias da prova. Entretanto, independente desta decisão, se a pessoa não fizesse uma argumentação coerente, o texto continuaria sendo ruim", afirmou a professora Flávia Cabral. (P.M.)