A Polícia Civil de Londrina prendeu ontem, às 11 horas, um suspeito de participar do esquema de ''carros salvados''. Assim são chamados veículos destruídos, com perda total, que são revendidos para reaproveitamento dos documentos legais. O comerciante Jorge Antônio Macri, 30 anos, teve a prisão decretada pela juiza da 4 Vara Criminal de Londrina e foi encaminhado para o 3º Distrito Policial (DP), na zona oeste, onde foi autuado por receptação, falsificação de documento público e estelionato.
Um esquema nacional de carros salvados veio à tona há cerca de três semanas, após denúncias veiculadas em reportagens de televisão, que apontaram a existência de mais de trezentas lojas de carros salvados apenas na Grande São Paulo. Em Londrina, o crime já vinha sendo investigado. Há cerca de um mês, a polícia chegou até uma Parati cinza, ano 2001, que teria sido comprada de Macri e trazia um motor roubado. O proprietário alegou desconhecer que o veículo, que tinha chassi e placas adulterados, fosse irregular.
Durante vistoria à loja de Macri um comércio de acessórios para automóveis a polícia encontrou peças da Parati original, com a mesma numeração apresentada no carro adulterado. Também foram encontrados carimbos falsificados de um cartório de Londrina. O tabelião de notas do cartório esteve ontem no 3ºDP e afirmou que no ano passado já havia sido vítima de falsificações, ''possivelmente da mesma quadrilha''. De acordo com a polícia, a loja de Macri não tinha alvará de funcionamento nem qualquer documentação fiscal. Funcionários da empresa disseram que Macri comprou a loja há cerca de 60 dias.
O comerciante preso, que não quis falar com a reportagem da Folha, relatou à polícia que o veículo foi adquirido na loja de veículos Nova Arnaut, na Vila Guilhermina, em São Paulo. Trata-se, justamente, de uma das empresas apresentadas em reportagens de televisão como sendo ponto de carros salvados. A procedência do veículo ainda não foi confirmada pela polícia.
Além dos revendedores, o esquema criminoso envolve as seguradoras de veículos. São elas que revendem as carcaças de carros destruídos e os documentos originais, o que é proibido segundo o Código de Trânsito Brasileiro. Uma resolução de 1998 aponta que, sempre que um veículo for retirado de circulação com laudo de perda total, é obrigatório dar baixa no Registro Nacional de Veículos (Renavam). Essa responsabilidade fica a cargo da seguradora já que, para receber indenização, o motorista é obrigado a entregar à empresa o que restou do carro mais os documentos.
Em vez de dar baixa, no entanto, as seguradoras envolvidas no esquema repassam o registro para ladrões de veículos. Estes roubam carros idênticos (mesmo ano, cor, modelo) aos que tiveram perda total, adulteram placas e chassis, e colocam os veículos em circulação como se fossem os originais, ''legalizados''.
O Instituto de Criminalística está realizando perícia na Parati encontrada em Londrina. Macri será encaminhado para o 2º Distrito Policial, onde permanecerá preso.