"Temos casos de crianças que moravam perto de um rio e que desapareceram. Depois foram encontradas mortas", diz a delegada Iara Laurek Dechiche
"Temos casos de crianças que moravam perto de um rio e que desapareceram. Depois foram encontradas mortas", diz a delegada Iara Laurek Dechiche | Foto: Marcos Zanutto



"Todos os dias desaparece uma criança no Paraná." A afirmação é da delegada-chefe do Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas), Iara Laurek Dechiche. Ela esteve em Londrina para participar de uma reunião pública convocada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara de Vereadores. Durante o encontro, Dechiche ressaltou os trabalhos desenvolvidos pela equipe do Sicride, em Curitiba. A delegacia é a única do Brasil criada para apurar o desaparecimento de crianças de zero a 12 anos incompletos.
Além da delegada, a equipe composta por uma escrivã, 12 investigadores, duas psicólogas, um artista forense e dois estagiários já solucionou todos os 37 casos oficializados neste ano. As ações são desenvolvidas com o apoio de policiais civis e militares, guardas municipais e bombeiros. Grande parte dos casos, segundo a delegada, é solucionada rapidamente. Ainda assim, os pais devem permanecer em alerta.
"Não desgrude das crianças pequenas. Leve as crianças na escola, tenha a certeza de que elas estão na escola e não deixe qualquer pessoa ir buscá-las. Quando for ao shopping, fique sempre de olho e mesmo em casa. Temos casos de crianças que moravam perto de um rio e que desapareceram. Depois foram encontradas mortas", aconselhou.
O Sicride foi implantado em 1995 para centralizar as investigações após uma série de desaparecimentos de crianças registrados no Sul do País. A equipe reuniu dados e identificou que uma quadrilha ligada ao tráfico de pessoas atuava na região. A delegada não soube informar a quantidade de casos solucionados desde então. Alguns desaparecimentos são motivados por desentendimentos familiares, agressão e abuso sexual. Atualmente, há 26 casos em investigação no Paraná.
Um deles é o do menino Edson Rodrigo Batista da Silva, que desapareceu aos seis anos durante a ExpoLondrina realizada em 1992. Em entrevista à reportagem da FOLHA em dezembro do ano passado, a mãe Vera Lúcia da Silva descreveu a dor da espera pelo filho. "Tiraram um pedaço da gente. Um pedaço muito valioso. […] Acredito que se o meu filho estiver vivo, um dia ele volta para mim. […] Ele não saía sozinho. Estávamos trabalhando e ele me disse que ia buscar um porquinho para por moedas, que estavam distribuindo. Ele me mostrou um amiguinho que ia acompanhá-lo e disse que já voltava. E não voltou mais. […] Não tiro aquele dia da cabeça, o pessoal das barracas procurando por tudo", disse a mãe à repórter Aline Machado Parodi.
Em caso de desaparecimento, os pais ou responsáveis não precisam aguardar para registrar o Boletim de Ocorrência. É necessário procurar a Guarda Municipal, a Polícia Militar ou a Polícia Civil. Uma fotografia recente da criança também deve ser anexada ao Boletim de Ocorrência para auxiliar as buscas. "Chegam muitos casos também no Conselho Tutelar, principalmente, de adolescentes que fogem por causa de conflitos na família. O Conselho também é um parceiro junto com a rede para divulgar esses casos", lembrou a conselheira tutelar da Região Oeste de Londrina, Juliana Moreno.

ALERTA
A equipe do Sicride também realiza trabalho de prevenção por meio do projeto "Crianças em Alerta". A proposta, já implantada em Curitiba, busca conscientizar alunos das escolas municipais sobre os perigos de uma simples conversa com estranhos. A intenção é desenvolver o projeto em Londrina com o apoio da Secretaria Municipal de Educação.
"Vamos com uma equipe de policiais nossos e com psicólogos. Exibimos filmes, distribuímos nosso material e conversamos com as crianças. […] Alertamos sobre o perigo que elas correm de aceitar alguma coisa de uma pessoa estranha. Por mais bonito que seja o carro que está ali e por mais que a criança tenha vontade de dar uma volta naquele carro lembramos que ela pode correr risco", destacou a delegada do Sicride, Iara Laurek Dechiche.

Confira dicas do Sicride para reforçar a segurança das crianças:



O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, vereador Junior Santos Rosa, deve se reunir com o prefeito Marcelo Belinati na manhã desta quinta-feira (25) para oficializar o pedido de implantação do projeto nas escolas municipais de Londrina. A capacitação dos profissionais será feita com o apoio do Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente).