São Paulo Se o Papa João Paulo II quisesse impor sua vontade, madre Teresa de Calcutá seria canonizada hoje sem passar pelo estágio da beatificação. Seria uma exceção, um capricho pessoal do papa, que pretenderia assim proclamar de vez a santidade heróica de uma mulher que conheceu de perto. Ontem, reunido com seus cardeais no Vaticano, o papa disse que madre Teresa era um ''exemplo emblemático'' de como a Igreja deveria ser. Ele cedeu, porém, aos argumentos do prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, o cardeal português José Saraiva Martins, que o aconselhou a seguir os trâmites da burocracia, incluindo a exigência de mais um milagre.
Mas, se não pegou um atalho, João Paulo II acelerou o processo. Madre Teresa de Calcutá recebe hoje título e honras de beata apenas seis anos após sua morte, em 5 de setembro de 1997. De origem albanesa seu nome de batismo era Gonxha Agnes , ela nasceu em 26 de agosto de 1910 na cidade de Skopje, capital da República da Macedônia, na antiga Iugoslávia. Era a caçula dos cinco filhos de Nikola e Drane Bojaxhiu, uma família pobre que enfrentou muitas dificuldades quando a mãe ficou viúva.
Em setembro de 1928, Gonxha foi para o convento das Irmãs de Loreto, na Irlanda, onde recebeu o nome de Maria Teresa. Queria ser missionária e, apenas dois meses depois, partiu para a Índia. Ficou dois anos em Calcutá e daí foi transferida para a cidade de Entally, como professora de um colégio de moças. Sua vida deu uma guinada em setembro de 1946, quando recebeu uma ''inspiração'' durante um retiro espiritual, uma visão que jamais relatou em detalhes.
''Venha, seja a minha luz'', teria ouvido de Jesus, que lhe pediu para fundar uma comunidade religiosa, a Congregação das Missionárias da Caridade, que se dedicaria ao serviço ''dos mais pobres entre os pobres''. Após dois anos de reflexão, em agosto de 1948 madre Teresa vestiu uma túnica branca bordada de azul e voltou a Calcutá, onde se alojou no convento das Pequenas Irmãs dos Pobres. Quatro meses depois, começou a trabalhar na periferia da cidade que se incorporaria a seu nome. Em 1979, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ficou famosa, conhecida no mundo inteiro. Figura baixinha e frágil, era uma mulher de vontade e coragem. ''A vida e a obra de madre Teresa foram testemunho da alegria de amar, da grandeza e da dignidade de cada ser humano, do valor das pequenas coisas feitas com fidelidade e amor e do valor incomparável da amizade com Deus'', diz o texto de um perfil biográfico publicado pelo Vaticano para a cerimônia de beatificação.
Conhecida e muito respeitada, embora controvertida, era uma mulher humilde, que não gostava de publicidade, mas aceitava a fama em proveito da obra.