"Queremos justiça." A frase entoada por muitas vozes ganhou força na boca de pessoas que conheciam, trabalhavam ou se comoveram com a morte trágica da empresária Cláudia da Luz Maceu, 45, conhecida como Cláudia Ferraz. Morta a facadas pelo noivo, Arthur Henrique Rockenbach, 30, no dia 7 de fevereiro, a cabeleireira deixou três filhos e muitos sonhos para trás. Pedindo justiça por ela e tantas outras mulheres, uma manifestação foi organizada no início da tarde desta segunda-feira (19) em frente ao salão de beleza da vítima, na rua Goiás.

"Nós ficaremos em cima até o dia da condenação dele e ficaremos em cima para que ele cumpra toda a condenação", afirma Michele Piccoli, uma das organizadoras do movimento. Segundo ela, a partir do momento em que os homens que cometem feminicídio passarem a cumprir a pena, os crimes vão diminuir.

"É fácil matar a mulher, eles ficam dois anos presos e saem por bom comportamento, então está muito fácil para eles. A gente não aguenta mais", reforçou. A manifestação começou por volta do meio-dia em frente ao salão da vítima e seguiria até a CCL (Casa de Custódia de Londrina), onde Rockembach está preso.

A terapeuta sistêmica esclarece que uma das reivindicações do grupo é que o autor do crime seja transferido para Curitiba. "A gente sabe das posses da família dele e, para ele, está muito cômodo e confortável estar em Londrina", aponta.

"Nós sabemos que ele cometeu esse crime porque quis e não por estar fora de si. Ele cometeu [o crime] porque queria matar a Cláudia", opinou, complementando que o assassinato foi premeditado, já que havia gasolina no local do crime.

Na última sexta-feira (16), o MP (Ministério Público) denunciou Arthur Rockenbach pelos crimes de homicídio qualificado e por fraude processual tentada, já que ele teria a intenção de colocar fogo na residência.

Trabalhando com atendimento a mulheres vítimas de violência há 15 anos, Érica Chagas apontou que o caso pode trazer mudança na vida de muitas mulheres. “Que elas tenham coragem e procurem ajuda porque tem como sair da violência", reforçou.

A principal dificuldade, segundo Chagas, ainda é o fato de que as mulheres não enxergam que estão sofrendo violência, seja ela de qualquer tipo, já que elas são “culpadas” pelos parceiros e, dessa forma, não conseguem procurar ajuda.

Ivonete Moraes da Silva, 59, trabalha há seis anos no salão de Ferraz, que ela definiu como uma pessoa que, além de patroa, era companheira e amiga. “Você chegava e ela sempre dava um bom dia sorrindo e com uma alegria de viver que contagiava a gente, a Cláudia era isso”, relembrou emocionada.

Após a tragédia, Moraes afirma que está "sem chão". “Será que nós, mulheres, não temos o direito de dizer que queremos ser felizes, que queremos ter família? Onde estão os nossos direitos?”, questionou, ressaltando que quando uma mulher morre assassinada, todas “morrem um pouco”.

AGILIDADE NO PROCESSO

Representando a família de Cláudia Ferraz, o advogado Mário Barbosa ressaltou a importância de o processo ter sido concluído em dez dias, como determina o Código de Processo Penal para réus que estão presos. “[A agilidade] colabora para todo o processo, colabora para combater o sentimento de injustiça que paira na sociedade e colabora também para os familiares da vítima”, afirmou.

Segundo ele, as provas colhidas ao longo da investigação desconstroem a versão de que o crime teria sido em legítima defesa. “A intenção do réu era colocar fogo [na casa] para tentar ocultar o crime que praticou e, por isso, [ele foi denunciado pelo MP] também por fraude processual”, aponta.

Barbosa reforça que a acusação acredita que o crime foi premeditado não só pelo fato de ter gasolina no local, mas também pelo relato de amigos da vítima de que Rockenbach estava prometendo uma “surpresa” para Ferraz. “A gente acredita que essa surpresa, infelizmente, era esse crime bárbaro que seria cometido”, pontuou.

CONTAMINAÇÃO DO LOCAL DO CRIME

Mauro Martins, advogado de defesa de Rockenbach, explica que os próximos passos envolvem a análise de documentos e laudos do local do crime, assim como do depoimento de testemunhas ouvidas durante a investigação. Além disso, segundo ele, um celular teria sido retirado do local por familiares da vítima, sendo que teria sido devolvido apenas 7 dias após a data do crime.

“Não sabemos até agora uma justificativa plausível para que esse celular fosse retirado do local, não sabemos por qual motivo não foi entregue à Polícia Militar que atendeu a ocorrência, não sabemos por que não foi entregue à Polícia Científica e não sabemos por que não foi entregue ao delegado de plantão que atendeu o flagrante”, reforçou, complementando que, na visão dele, houve "alteração e contaminação do local do crime" e que alguns questionamentos serão apresentados à Justiça junto à resposta de acusação.

Martins destacou que Rockenbach relata que teria recebido uma notificação no celular e a vítima queria saber do que se tratava, sendo que uma discussão teria sido iniciada a partir daí. “Ele fala que ela foi e pegou uma faca e tentou cortá-lo, aí ele tentou tomar a faca dela”, apontou. O advogado também alegou que o seu cliente teria tomado dois comprimidos de um medicamento para insônia e ingeriu vinho, e que, por isso, se lembra de poucos detalhes do fato.