O caminhoneiro Emilio Wunsch critica a proximidade entre as praças de pedágio no Paraná, condição que ele não observa em outros Estados
O caminhoneiro Emilio Wunsch critica a proximidade entre as praças de pedágio no Paraná, condição que ele não observa em outros Estados | Foto: Ricardo Chicarelli



Um dia depois da Agepar (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná) homologar o aumento nas tarifas de pedágio do Estado, a FOLHA percorreu o trecho de duas praças – a de Jataizinho e a de Arapongas – para ouvir motoristas. Todos demonstraram descontentamento com os valores e atual contrato. Representantes de entidades ligadas à produção e ao transporte também estão insatisfeitos. A partir de sexta-feira (1º), os preços nas 27 praças terão um reajuste que varia de 2,75% a 8,06%, considerando adicionais não previstos aos contratos.

O trecho com o maior custo continuará sendo o de Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina), que passará dos atuais R$ 21 para R$ 22. "Não é o pedágio em si o problema, mas o preço. É algo surreal para um via de cerca de 46 quilômetros. Tinha que ser mais barato, pois da maneira que é e pelo serviço oferecido é um 'assalto' e fora da realidade", classificou um auditor aposentado de Ourinhos (SP), que preferiu manter o anonimato.

Avisada pela reportagem sobre o aumento, a vendedora Cristina dos Santos mostrou surpresa. "Mesmo que seja algo que esperamos todos os anos, nunca é bom. Já não era barato. Estamos em um período de crise e o que gastamos em trechos pedagiados aumenta muito o custo da viagem. Venho de Jaú (SP) e a maior parte do meu custo na viagem foi por conta do pedágio do Paraná, e para dirigir em pista simples", afirmou a londrinense.

O alto custo do pedágio de Jataizinho, que é administrado pela Triunfo, faz com que motoristas busquem caminhos alternativos para evitar o pagamento. Perto das cancelas da praça do município, uma estrada rural serve como "rota de fuga". "Procuro ao máximo não ter que pegar este pedágio. O custo não condiz com a qualidade", criticou o vendedor Renato Natal da Luz. Ele informou que por mês chega a gastar de R$ 380 e R$ 400 com o pedágio.

Renato Natal da Luz sempre tenta desviar do pedágio de Jataizinho, mas, mesmo assim, acaba gastando cerca de R$ 400 por mês
Renato Natal da Luz sempre tenta desviar do pedágio de Jataizinho, mas, mesmo assim, acaba gastando cerca de R$ 400 por mês | Foto: Ricardo Chicarelli



ARAPONGAS
Na praça de pedágio de Arapongas, a taxa cobrada a partir de sexta-feira será de R$ 8,90, valor R$ 0,70 maior. Para os motoristas, apesar do valor ser baixo em comparação a outras localidades, ainda é caro. "É muito dinheiro para termos diversos quilômetros com buraco e oscilação na pista. Para nós que moramos na cidade é ainda pior, pois sempre precisamos passar por aqui", reclamou o coureiro Admilson Oliveira. "Próximo à praça de pedágio a pista ainda é boa, porém, quanto mais distante, mais vai diminuindo a qualidade", apontou o lavador de carros Marcos Roberto.

Para o caminhoneiro Emilio Wunsch, a proximidade entre as cobranças de pedágios nos 2.700 quilômetros que compõem o Anel de Integração do Estado é outro fator negativo. "Viajo muito pelos Estados do Sul do Brasil e considero a extensão menor comparado a Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso faz com que se pague mais e com grandes diferenças de preços", disse. Seis concessionárias são responsáveis por administrar as rodovias estaduais e federais do Paraná.

NOVO MODELO
O secretário executivo do Conselho de Infraestrutura da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), João Arthur Mohr, entende que os reajustes anuais, por ser contratuais, são devidos, porém, lamentou que as tarifas estejam acima de outros Estados, e por culpa dos atual contrato, que vence em 2021. "O nosso contrato tem erros do passado e isso reflete agora. Quando foi feito tínhamos uma elevada taxa Selic, que baliza todos os financiamentos; não tínhamos experiência neste tipo de assunto, o que fez com que as concessionários buscassem uma margem maior de segurança nas tarifas; e não houve concorrência na licitação."

Mohr defende que a administração continue com o setor privado, mas com um novo modelo. "Estamos com uma economia menos instável, mais experientes e precisamos criar concorrência, além de debater com a população. Tudo isso pode fazer com que tenhamos um contrato moderno, com tarifas na metade do preço dos atuais e obras em dobro." Segundo ele, as concessionárias vão entregar ao final do contrato 32% de quilômetros de rodovias duplicadas. "Com um contrato diferente teríamos 60% do que é administrado", pontuou.

A Fiep, junto com outras 20 entidades da sociedade civil, começará a realizar, a partir de 2019, audiências públicas nas 40 maiores cidades do Paraná para debater um novo formato de contrato. "Assim é possível captar as necessidades de obras de cada região, o teto máximo para a tarifa e o melhor lugar para a praça de pedágio. É uma forma de dar transparência", explicou. Em 2018, será feito um levantamento técnico sobre a situação das estradas e necessidade de obras.

O Comando Nacional do Transporte, que foi o responsável pelas paralisações de caminhoneiros em mais de cem pontos de estradas brasileiras em 2015 e 2016, classificou o aumento como "abuso", mas disse que não haverá protestos. "Infelizmente, o que resta aos transportadores é aceitar mais esse abuso. Temos tentado fazer com que a categoria passe a cumprir a jornada de trabalho determinada pela lei, o que certamente faria com que aumentasse os valores de frete, mas infelizmente somos a única categoria que briga para trabalhar mais. Em media 16 horas por dia de jornada", declarou Ivar Luiz Schmidt, líder do movimento.

Na edição desta terça-feira (29) da FOLHA, o Sindicato dos Caminhoneiros de Londrina e o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar) também mostraram descontentamento com os novos valores do pedágio paranaense e com o contrato de concessão.

ABCR: concessionárias investiram R$ 1 bilhão em 2016

Na mesma data em que a Agepar autorizou o reajuste anual do pedágio nas 27 praças do Estado, a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) divulgou o montante de investimentos das seis empresas em 2017: R$ 1,04 bilhão foi investido nas estradas paranaenses, segundo nota encaminhada à imprensa.

"Em um ano difícil o investimento das concessões movimentou o Estado, empregos foram gerados e a infraestrutura melhorada, o que contribui e muito para alavancar o retorno à estabilidade econômica", declarou João Chiminazzo Neto, diretor regional da ABCR.

Ao todo foram 37 frentes de trabalho espalhadas pelo Estado. Houve obras de duplicação na BR-376, entre Ponta Grossa e Apucarana e entre Paranavaí e Mandaguaçu; e nas PR-317 e BR-158, entre Floresta e Campo Mourão. Na BR-277, que corta o Paraná, foram dez pontos de obras, entre duplicações, terceiras faixas, acessos, marginais entre outros.

"Muitas pessoas visualizam apenas as obras de duplicação, mas as concessionárias investem muito em outras intervenções que facilitam muito a vida do usuário e passam despercebidas. As obras de restauração e manutenção da rodovia são um exemplo", afirmou o diretor na nota. Somando as seis empresas, foram aproximadamente 2.700 trabalhadores nessas obras.

População se mobiliza em Arapongas contra cobrança

Após o anúncio do reajuste das tarifas, a Câmara Municipal de Arapongas agendou uma reunião para discutir, mais uma vez, a construção de uma via marginal para ligar Arapongas a Rolândia. O vereador João Ardigo (PSB), de Rolândia, que participa do movimento Tarifa Zero – criado para pedir a isenção da cobrança no pedágio da BR-369 – disse o grupo fará um protesto nos próximos dias por ser totalmente contrária ao reajuste.

"Nosso questionamento é com relação ao motivo deste reajuste, pois a rodovia é quase toda duplicada e não tem nenhum tipo de problema. Desta forma, iremos fazer um protesto contra a concessionária nos próximos dias para mostrar nosso descontentamento com a situação", afirmou o parlamentar.

O movimento Tarifa Zero foi criado para pedir a isenção para os moradores de Arapongas e Rolândia ou a manutenção do desvio pela Estrada do Ceboleiro, uma via de terra que liga a área rural de Arapongas e Rolândia.

A estrada foi fechada pela concessionária Viapar e chegou a ser reaberta pelos próprios motoristas. Porém, o local foi fechado definitivamente após um acordo entre a Prefeitura de Arapongas e a Viapar, que concedeu descontos aos araponguenses que comprovaram que utilizam a praça de pedágio, diariamente, para estudo ou trabalho. O município de Rolândia não foi beneficiado com os descontos, que chegam a 80% do valor. (André Bueno/Grupo FOLHA)