Manifestantes anunciaram que ficariam no Centro Cívico até obter respostas das autoridades
Manifestantes anunciaram que ficariam no Centro Cívico até obter respostas das autoridades | Foto: Gustavo Caneiro



Cerca de 40 moradores do Residencial Flores do Campo (zona norte) se instalaram no gramado em frente à Prefeitura de Londrina, na tarde desta quarta (20), para cobrar uma posição das autoridades sobre o futuro das 400 famílias que há quase um ano ocupam 1,2 mil imóveis inacabados do Programa Minha Casa Minha Vida. Os manifestantes chegaram ao Centro Cívico em um ônibus por volta das 16 horas e já armaram as primeiras barracas. Eles garantiram que pretendiam permanecer acampados até conseguirem uma resposta oficial.

O protesto ocorre um dia depois de uma operação policial conturbada no Flores do Campo. O repositor de mercadorias João Vitor Rafael, 20, considerou a ação da Polícia Militar na ocupação, na noite de terça (19), uma forma de pressão para que os moradores deixem o residencial. "Ontem [terça] a polícia visitou a comunidade e agiu com muita violência, com agressões verbais e psicológicas. Não aguentamos mais. Queremos uma resposta do prefeito, se ele pensa em fazer reintegração de posse. Onde ele vai colocar as 400 famílias? Morar é um direito constitucional. Daqui não arredamos o pé até termos uma resposta concreta", disse.

A dona de casa Ingrid Corrêa da Silva, 27, contou que decidiu se mudar para a ocupação após o marido deixar de pagar a pensão para o filho. "Ou eu ia para lá ou ficava no olho da rua com uma criança. Com certeza, se tivesse uma alternativa, não iria para a ocupação, mas neste caso não tive escolha", disse. Sandra Morais Campos, 21, disse não ver a hora de que a situação seja regularizada. "Se não for lá, que seja em algum outro lugar, mas temos o direito de uma moradia", cobrou.

O padre Luiz Dirceu Fumagalli acompanhou o protesto e considerou "justo e legítimo que as pessoas que se encontram nesta situação tenham a iniciativa de buscar seus direitos". O padre lembrou que, em um ano, nada foi feito para reverter a situação. "De nada adianta tirar esse pessoal de lá se não houver planejamento para o término das obras. Enquanto isso, todos devem ser tratados com respeito", posicionou-se.

No início da noite, a Guarda Municipal conversou com os manifestantes, que garantiram se tratar de um protesto pacífico. "Vamos permanecer acampados aqui sem causar problemas. Nossa única intenção é chamar a atenção das autoridades para o nosso drama", garantiu Rafael. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que ninguém atenderia os manifestantes porque a resolução do problema foge da alçada do município.

O presidente da Cohab-Ld (Companhia de Habitação de Londrina), Marcelo Cortez, disse que a ação de reintegração de posse é de autoria da Caixa Econômica Federal. "Não nos cabe qualquer definição sobre o assunto, que só poderá ser resolvido em esfera federal, por meio da Caixa. Nossa única responsabilidade é de definir as famílias contempladas, procedimento que deve se dar por meio de sorteio, quando a fila é maior que as unidades disponíveis", expôs.

Segundo Cortez, cerca de 68 mil famílias estão na fila de espera por uma casa na Cohab-Ld. Ele apresentou outro dado alarmante. Entre janeiro de 2013 e dezembro de 2017, o número de pessoas em ocupações irregulares em Londrina passou de 915 para 3.500. "Aprovamos recentemente uma lei que dá subsídios para loteadoras que construam unidades habitacionais para pessoas de baixa renda para diminuir a fila da Cohab. Além disso, estamos trabalhando em terrenos próprios para gerar mais moradias", listou.

A reportagem tentou contato com a superintendência da Caixa Econômica Federal, mas, pelo adiantado da hora, ninguém atendeu as ligações. No dia 29 deste mês, a ocupação no Residencial Flores do Campo completa um ano. Cortez lamentou que a ocupação tem travado o município em novas contratações do Minha Casa Minha Vida, mas acredita que a ocupação não pode ser criminalizada. "Se as pessoas que ocuparam os imóveis forem beneficiadas, isso certamente estimulará outras ocupações. Mas não acho que eles devam ser punidos. É justo que eles possam seguir na fila por uma casa. Mas como já disse, isso foge à ingerência do município", reforçou.

Moradores da ocupação criticaram a ação dos policiais militares no residencial
Moradores da ocupação criticaram a ação dos policiais militares no residencial | Foto: Anderson Coelho



Operação policial termina em confusão
Uma operação da PM (Polícia Militar) terminou em confusão na noite de terça-feira (19) no Residencial Flores do Campo. Moradores contaram que os policiais chegaram por volta das 19 horas em várias viaturas percorrendo as ruas do bairro em alta velocidade. Após uma confusão, a PM retornou com reforço em 11 viaturas, cinco motos, além do Pelotão de Choque.

Uma moradora disse que tentou alertar os militares quanto ao risco de atropelamento de crianças, mas foi ofendida. "As crianças estão acostumadas a brincar na rua. Com as viaturas correndo muito, fui pedir, com educação, pra eles tomarem cuidado. Um deles me xingou e me mandou pegar as crianças e entrar logo pra dentro de casa", contou.

Ela mostrou uma munição não letal não deflagrada que, segundo ela, foi deixada pelos policiais. "O que aconteceu aqui hoje [terça] foi assustador. Nós já estamos acostumados com a presença da polícia, mas dessa vez passou de todos os limites. Estão todos assustados, principalmente as crianças", contou outro morador. Por medo, nenhum dos entrevistados quis se identificar.

O comandante da 4ª Companhia Independente da Polícia Militar, major Nelson Villa, informou que uma equipe fazia uma operação de rotina quando foi surpreendida por alguns moradores que cercaram a viatura fazendo ameaças com pedras e paus. "Quando as viaturas chegaram, alguns indivíduos já alertaram a chegada dos policiais com fogos de artifício. O fato é que algumas pessoas ali não têm interesse que a PM faça o patrulhamento no local e isso não podemos admitir", disse.

Villa negou ter havido qualquer excesso policial. "Hoje, qualquer pessoa tem um celular com câmera. Se tivesse ocorrido algum abuso, com certeza teria sido registrado", comentou. Ainda segundo o major, dois quadros de motos roubados foram encontrados em uma casa. Pela página no Facebook "Ocupação Flores do Campo", pessoas ligadas à ocupação contestaram a versão do oficial.

"A maioria das pessoas é formada por gente de bem. Nós estamos fazendo operações cada vez mais constante para que eles se acostumem com a presença da polícia. Nosso foco é impedir a ação dos criminosos", frisou Villa. (C.F.)