Londrina teve um aumento de 12,3% no número de homicídios dolosos (com intenção de matar) no ano passado em relação a 2022, indica um levantamento divulgado na semana passada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp). Na contramão da maioria das grandes cidades paranaenses, onde houve menos mortes violentas, Londrina teve 73 casos em 2023, contra 65 no ano anterior. Já os casos de roubo seguem em queda desde 2020. Em 2023, a redução foi de 32,3% em relação a 2022.

Das 21 cidades mais populosas do estado, 13 tiveram menos homicídios em 2023, com uma redução média de 13%. Londrina, Cambé, Umuarama, Apucarana, Guarapuava, Colombo e Paranaguá tiveram mais casos (Piraquara se manteve com 19 registros). Com as 73 mortes do ano passado, Londrina repete o número de 2020, que caiu significativamente para 55 no ano seguinte.

Um aumento no número de mortes violentas representa uma maior presença do crime organizado e do tráfico de drogas em determinadas áreas, diz o delegado Amarantino Ribeiro, chefe da 10ª SDP, responsável pela região. No último dia 7, seis pessoas morreram durante uma ação da Polícia Militar no Jardim Felicidade, na zona norte. Segundo a PM, elas tinham envolvimento com o tráfico e ligação com um grupo que chegou a estabelecer um “tribunal do crime”.

“Estamos com um problema com disputa do tráfico de drogas na área norte e as ações têm sido destinadas para lá. Sempre há uma instabilidade no mundo do tráfico quando alguém tenta invadir um território ou quando morre um líder, é natural alguém querer assumir”, afirma o delegado. O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Civil. “Estamos apurando, são pessoas que tinham passagem e envolvimento em diversos delitos”. A PM apreendeu cerca de 900 gramas de maconha, cocaína e crack.

PLANO DE SEGURANÇA

No segundo semestre do ano passado, foi traçado um plano de segurança para 20 municípios da região. Desde então, foram feitas 64 ações conjuntas, entre a Polícia Civil, a PM e a Guarda Municipal, em áreas conflagradas pelo tráfico, diz o delegado. “Isso não se reduz de uma hora para outra. Nossa expectativa é que em 2024 tenhamos menos homicídios, porque estamos no pico de disputa na zona norte. À medida que vamos prendendo, a tendência é de diminuição”.

Segundo Ribeiro, só 20% dos casos de homicídios são crimes passionais ou originados por brigas ou desentendimentos pessoais. “Tem os casos passionais e de briga de bar, mas em torno de 80% das mortes são relacionadas a um criminoso matando um criminoso, em uma disputa pelo tráfico de drogas, ou por cobrança de dívidas do tráfico”.

Para Cezar Bueno Lima, sociólogo e professor do programa de Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, as forças de segurança no país não têm conseguido combater o crime organizado. “É possível que o aumento do número de crimes de homicídio, em confronto ou não com a polícia, esteja vinculado à existência e consolidação de facções criminosas na região. No Brasil, o aparato estatal de repressão e controle do crime não tem sido capaz de debelar a existência e expansão dos grupos vinculados à indústria de controle do crime no país.”

O professor avalia que é preciso repensar o modelo de segurança no país, principalmente em relação às drogas. “A sociedade e as forças políticas democráticas precisam repensar o ímpeto das políticas proibicionistas, a resposta punitiva e encarceradora em relação às drogas. Diversos estudos e pesquisas, dentro e fora do Brasil, evidenciam que as políticas proibicionistas criam mais problemas que soluções neste campo.”

Londrina teve ainda dois casos de feminicídio em 2023 (nos três anos anteriores, houve uma ocorrência por ano) e nenhum latrocínio (roubo seguido de morte) foi registrado na cidade no ano passado (foram dois casos em 2020, um em 2021 e dois em 2022). O estudo foi feito pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatísticas (Cape) da Sesp, com apoio do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Roubos caem pelo quarto ano seguido

O número de roubos vem caindo ano a ano em Londrina, de acordo com a base de dados da Sesp. No ano passado foram 654 boletins de ocorrência, uma redução de 32,3% em relação aos 967 registros de 2022. Em 2020 foram 1.555 casos, e em 2021, 1.189. A queda geral nos últimos quatro anos foi de 58% desse tipo de crime na cidade. De 2022 para 2023, o número de roubos caiu 7,6% em todo o estado.

Segundo o delegado Amarantino Ribeiro, a atuação conjunta entre as forças de segurança, o banco de dados da Sesp e mais policiais foram fundamentais para reduzir o índice em Londrina. “Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Municipal têm suas fontes de informações, mas também estamos ligados à Sesp, com uma mesma base de dados. Temos recursos para saber onde esse tipo de crime ocorre com mais frequência, com análises dos locais e dos horários”, afirma. “A Polícia Civil fez um aporte razoável de servidores. No setor de furtos e roubos temos três delegados com equipes completas”.

O tráfico também se alimenta de roubos e pequenos furtos, diz o delegado. Um dos focos é na receptação, principalmente de fios elétricos. “O usuário de drogas pesadas como o crack comumente vai para a rua e faz esses pequenos furtos como forma de manter o vício. Pode ser um tênis, uma bicicleta ou frios elétricos. No caso de fios elétricos ainda temos o problema de postos de saúde ou de empresas que ficam sem energia”. Ele incentiva a população a fazer denúncias anônimas por meio do número 187.