Especial para a Folha,
de Cascavel
Funcionário do Instituto Médico Legal de Guarapuava disse ontem, por telefone, que foi concluído o laudo sobre a morte dos dois sem-terra na Fazenda Pinhal Ralo, em Rio Bonito do Iguaçu (125 quilômetros a leste de Cascavel/PR) e que, pela interpretação, eles foram executados com tiros à queima-roupa. Vanderlei das Neves, de 16 anos, recebeu cinco tiros no peito e barriga, e José Alves dos Santos, de 34 anos, quatro tiros na cabeça. O laudo estaria assinado pelo legista Edson Burck Warpechowski.
Pelos exames, a maioria dos projéteis perfurou os corpos dos lavradores de baixo para cima. O laudo também mostra que a mão do garoto foi dilacerada, podendo-se deduzir que tentava defender-se dos tiros. O corpo dele também tinha marcas de pólvora, comprovando que os disparos foram à queima-roupa.
Os corpos de Vanderlei e José foram enterrados na tarde de ontem sob protestos. O clima entre os acampados era de grande revolta, mas a manifestação, observada à distância por policiais militares de Guarapuava, foi pacífica. A polícia temia confronto entre os sem-terra e seguranças da fazenda, apontados pelos lavradores como autores do assassinato.



Delegado avalia:
conflito interno,
com caçadores ou
com seguranças


Os sem-terra foram mortos em emboscada a 3 quilômetros da sede do acampamento, quando vistoriavam uma lavoura de milho, junto com outros companheiros. Os lavradores sobreviventes disseram que não portavam armas. Os agressores estavam escondidos, segundo eles, no mato e saíram atirando. José Alves e Vanderlei foram alvejados pelos primeiros tiros e caíram. Outro sem-terra, José Ferreira da Silva, 38 anos, levou um tiro de raspão na cabeça mas conseguiu escapar com vida.
O delegado Brasiliano Ferreira Mello ainda não havia recebido o laudo até o final da tarde de ontem. Segundo o delegado, não foram encontrados animais silvestres mortos próximos aos corpos dos trabalhadores, alegação da empresa Giacomet-Marodin ao supor que os sem-terra teriam sido mortos por caçadores.
O inquérito será feito por Mello e pelo delegado de Laranjeiras do Sul, Sebastião Ramos. Eles pretendem ouvir as testemunhas dos sem-terra e a chefia do pessoal que faz a segurança da fazenda. Segundo Mello, as mortes ocorreram na divisa entre a área que foi desapropriada e o reflorestamento da empresa. O delegado ainda não afastou nenhuma hipótese para as mortes: conflito entre os próprios sem-terra, entre eles e caçadores ou com os seguranças.
O pai do rapaz morto, José das Neves, que também estava no local do tiroteio, disse que não teve como defender Vanderlei. ‘‘Ele foi o primeiro em que eles atiraram, numa distância de dois metros’’, afirmou. Ele afirmou que reconheceu três dos atiradores. Segundo o pai do rapaz, os assassinos seriam de Quedas do Iguaçu (PR). ‘‘Estavam vestidos com o uniforme de seguranças da fazenda’’, acusou. José Ferreira da Silva, que foi ferido na cabeça, disse que não viu muita coisa. ‘‘Vim para o acampamento e aqui soube que os companheiros tinham morrido lᒒ. (Colaborou Evandro Fadel/Agência Estado).