Um jogo virtual é motivo de preocupação em várias partes do Brasil. Conhecido como Baleia Azul, o viral é disputado pelas redes sociais e propõe 50 desafios macabros a jovens e adolescentes, como registrar fotos assistindo filmes de terror, automutilação, ficar doente e, na etapa final, tirar a própria vida. O jogo surgiu na Rússia, em 2015, e está associado a uma série de suicídios ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

No Paraná, as autoridades estão em alerta com a situação. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que já foram identificados nove casos suspeitos de adolescentes que cumpriram desafios do jogo e deram entrada nos serviços de saúde com sinais de automutilação e outros ferimentos. São sete ocorrências em Curitiba e duas na região de Campo Mourão (Centro-Oeste). Outros casos são investigados.

Um determinação foi enviada a hospitais, prontos-socorros e unidades de saúde nesta quarta-feira (19) solicita que os profissionais redobrem atenção a ocorrências de automutilação e uso inadequado de medicamentos por parte de crianças e adolescentes. Uma nota técnica também está sendo elaborada pela secretaria para orientar a conduta dos servidores da área de saúde frente a este tipo de situação.

Segundo Juliano Schmidt Gevaerd, superintendente de Atenção à Saúde da Sesa, os recentes casos registrados no Paraná são vistos pelo poder público com preocupação. "Estamos adotando medidas para que primeiro sejam difundidas informações e orientações sobre o contexto. Os funcionários de saúde também estão sendo instruídos para que façam o atendimento e posteriormente registrem o caso", explicou.

Uma reunião com a Secretaria de Educação está programada para esta quinta-feira (20), inclusive com a presença de representantes do Ministério Público (MP), para traçar estratégias para combate à prática com alunos da rede pública.

Gevaerd afirmou que pais e familiares devem ficar atentos às redes sociais e às atitudes dos filhos para prevenirem situações mais graves. "Existem alguns sinais que os familiares devem ficar atentos como o isolamento social, o uso de roupas incomuns, verbalização no sentido de querer morrer, a mostra de desapego a objetos ou pessoas, o desinteresse e o medo repentino", informou.

Por meio da Agência Estadual de Notícias, o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita, anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar casos de jovens que procuraram assistência hospitalar nos últimos dias por conta de atos de automutilação. Os trabalhos envolvem o Núcleo de Proteção a Criança e ao Adolescente Vítimas de Crime (Nucria), que vai fazer o primeiro atendimento, o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber) e o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). A formalização de inquéritos ficará a cargo da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). "O trabalho da polícia é identificar e responsabilizar indivíduos que possam estar recrutando jovens e administrando jogos por redes sociais, incitando ao suicídio", disse.

LONDRINA
Em Londrina, não houve registros de casos suspeitos de jovens que tenham participado do jogo. De acordo com o secretário municipal da Saúde, Felipe Machado, os servidores já foram comunicados sobre os últimos ocorridos no Estado em relação ao jogo. Além disso, ações educativas estão programadas para as unidades básicas de saúde e o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Infantil. "É uma situação nova e estamos agindo com foco na prevenção para que Londrina não registe casos deste tipo", garantiu.

Organizadores apostam na impunidade, diz especialista
Numa rápida busca no Facebook é possível encontrar grupos que se autointitulam Baleia Azul. Em apenas um deles, há mais de 30 mil participantes. Quem não cumpre os desafios postados pelo "curador" pode ser excluído do jogo.

Especializado em Direito Digital e Crimes Cibernéticos, o advogado Fernando Peres explicou que tanto os responsáveis por criar os grupos e administrá-los quanto aqueles que ajudam na difusão cometem crimes como apologia ao suicídio, falsidade ideológica e ameaça, entre outros. Ele também alertou para a falta de conscientização de quem se propõe a participar. "É importante que as pessoas prestem atenção nas informações que são jogadas na internet, pois elas são perigosas", advertiu.

Para Peres, o fato destes organizadores acreditarem que o ambiente virtual é marcado pela impunidade colabora para que continuem a incentivar ações como a observada no jogo Baleia Azul. "Essas pessoas deixam rastros. Sempre que acessamos as redes sociais deixamos informações de acesso e, com a quebra do sigilo, é possível descobrir o IP do computador que estas pessoas estavam usando e consequentemente se consegue chegar até o endereço, as identificando", explicou. Ele também orientou que caso alguém receba o convite para fazer parte destes grupos, ou que seja ameaçado por "curadores", procure a polícia para registrar boletim de ocorrência. (P.M.)