Na Represa Capivara, em Primeiro de Maio, ocupantes de barcos circulam sem vestir os coletes
Na Represa Capivara, em Primeiro de Maio, ocupantes de barcos circulam sem vestir os coletes | Foto: Gustavo Carneiro



As águas da represa da Usina Hidrelétrica Canoas 2, em Andirá (Norte Pioneiro), estavam tranquilas na tarde ensolarada da última quinta-feira (14). Um grupo de sete pessoas que participavam de uma confraternização em um rancho resolveu passear de barco pela represa localizada no rio Paranapanema. Dos sete ocupantes da pequena embarcação, quatro eram crianças. No meio do percurso, o barco de alumínio virou após bater com violência em um tronco submerso. Dois homens, de 51 e 55 anos, que estavam no barco, socorreram outras pessoas que se afogavam, mas desapareceram nas águas da represa. Os corpos foram encontrados no dia seguinte.

Apesar de as circunstâncias do acidente ainda não serem divulgadas oficialmente, os ocupantes do barco não utilizavam coletes salva-vidas na hora do acidente. O dia que era para ser de lazer se transformou em pesadelo para as famílias envolvidas na tragédia. A Marinha do Brasil abriu um inquérito para apurar o caso, que ficará sob responsabilidade da Delegacia Fluvial de Presidente Epitácio (SP). A princípio, a Marinha tem prazo de 90 dias para concluir o inquérito, mas existe possibilidade de prorrogação.

Recentemente, dois grandes naufrágios, um no Pará e outro na Bahia, deixaram ao menos 39 mortos. O primeiro ocorreu na noite de 22 de agosto, entre os municípios de Porto de Moz e Senador José Porfírio, no Pará. O barco de madeira que levava 48 ocupantes havia saído de Santarém com destino a uma localidade próxima à Usina Hidrelétrica de Belo Monte e afundou. Dezoito pessoas morreram. De acordo com o órgão de fiscalização do governo paraense, a embarcação não estava legalizada para fazer o transporte de passageiros, pois não estava registrada.

Dois dias depois, uma lancha que carregava 124 pessoas virou na Baía de Todos os Santos, na Bahia, após sair do município de Vera Cruz. As autoridades confirmaram 21 mortes. Um dos sobreviventes contou que a lancha foi atingida por fortes ondas durante uma tempestade. A lancha era uma das mais antigas que faziam o trajeto na Grande Salvador. De acordo com a Marinha, muitos naufrágios e outros acidentes com embarcações são decorrentes da imprudência e do desrespeito às leis.

Darcy da Cunha Dalbon, capitão-tenente da Delegacia Fluvial da Marinha em Guaíra (Oeste), explica que, apesar de recomendado, o uso do colete salva-vidas só é obrigatório em motos aquáticas. Para lanchas e demais embarcações, o equipamento pode ser levado próximo ao passageiro ou tripulante, com exceção para menores de 12 anos, que devem fazer uso durante toda a viagem. "Apesar de a lei não exigir que a pessoa esteja vestida com o colete, o uso em embarcações é altamente recomendado", aconselha.

Dalbon explica que a primeira questão que deve ser levada em conta antes da navegação são as condições climáticas. "É preciso consultar a previsão do tempo para evitar tragédias. Recentemente, socorremos um grupo de pessoas que ficaram isoladas por uma noite em uma ilha durante uma tempestade. A sorte deles é que eles não tentaram sair de lá. Navegar com condições meteorológicas adversas é sempre um risco", alerta.

Para quem vai contratar os serviços de embarcações, o militar recomenda que o passageiro verifique se todos os equipamentos exigidos por lei estão disponíveis. "O primeiro e mais importante é o colete. Deve ter ao menos um para cada ocupante. Em embarcações maiores, é preciso verificar a presença do extintor de incêndio, âncora, boia circular com cordas, e uma lanterna", lista. A falta do colete é a infração mais comum. Outra condição exigida pela Marinha é a carteira de habilitação para a condução de embarcações, que tem validade de dez anos na maioria dos casos.

Fiscalização é deficitária
A fiscalização constante poderia ajudar a coibir os abusos e imprudências nos balneários da região, no entanto, o serviço é deficitário. A Delegacia de Guaíra, por exemplo, tem uma equipe volante para atender desde Mercedes (Oeste) até Carlópolis (Norte Pioneiro), num total de 600 quilômetros entre um extremo e outro do Estado. "Estamos sempre deslocando equipes para fazer a fiscalização, já que somos o único órgão habilitado para o serviço, mas se trata de uma região muito extensa, encontramos dificuldades", admite.

A reportagem da FOLHA esteve recentemente na Represa Capivara, em Primeiro de Maio (Região Metropolitana de Londrina). Na região próxima ao Terminal Turístico Paranatur, alguns ocupantes de barcos e lanchas circulavam sem vestir os coletes. "Realmente é mais seguro se estiver equipado, mas o barco tinha os coletes. Está tudo dentro da lei", disse um trabalhador que utiliza o transporte diariamente e preferiu não identificar.

Valdomiro Leopoldo de Paulo, 66, é pescador experiente da região. Ele conta que se preocupa quando vê turistas sem coletes em passeios de barco. "Já vi muitas tragédias por aqui. A gente nunca quer que aquilo se repita. Para isso todo mundo tem que fazer a sua parte e se proteger, né?", adverte. (C.F.)