Sem água para beber, cozinhar ou tomar banho, os moradores do Jardim São Jorge e do Aparecidinha, na zona norte de Londrina, estão se virando como podem. Há mais de 72 horas na seca, quem mora na região precisa contar com a ajuda de familiares ou vizinhos. Apesar do calor, o banho ficou em segundo plano, já que prioridade é a água para beber e cozinhar.

Com o desabastecimento desde o início da tarde de quinta-feira (1°) por conta de um rompimento completo da rede em um trecho de uma obra na Avenida Saul Elkind, a Sanepar garantiu que a situação deve ser normalizada até às 21 horas deste domingo (4).

Moradora há quatro anos do São Jorge, Maria José Martins da Cunha, 63, conta que ela e o marido estão sem água desde às 12 horas de quinta-feira. Quando perceberam que a vazão começou a ficar mais fraca, eles encheram dois galões de 20 litros cada. Essa água, segundo ela, garantiu o banho “de caneca” dos dois até este sábado (3), quando os galões esvaziaram. Para beber, ela precisou contar com o apoio do filho, que trouxe algumas garrafas de 500ml, já que ela estava sem condições de comprar.

Economizando da forma que dá, ela conta que neste sábado buscou marmitas de voluntários que fazem a entrega no assentamento para não gastar o pouco de água que ainda restava: “não dá nem para fazer comida sem água”. Já neste domingo, o almoço foi pão. “Pessoas de idade, como eu o meu esposo, não aguentam buscar água”, explica, relatando que os dois têm problemas na coluna.

Segundo ela, a informação que eles receberam da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) é de que o abastecimento de água só seria normalizado na próxima terça-feira (6), o que motivou os moradores a organizarem duas manifestações cobrando a normalização do serviço, que contou com a presença de policiais.

Maria José Martins da Cunha afirma que a água chegou a voltar em algumas casas, mas acabou logo na sequência; em outras, o que está saindo da torneira é lama. “Na minha não veio nem barro”, lamenta, afirmando que ela e o marido tem uma caixa d’água, mas que não conseguiram instalar por conta dos problemas de saúde, assim como não tem condições financeiras de pagar para algum profissional fazer o serviço, já que sobrevivem de benefícios assistencialistas.

“[Essa falta d’água] é um descaso com o pobre. Pobre só tem vez na hora de votar”, afirma, complementando que, se tivessem carro, eles iriam até o cemitério pedir água. “A gente trabalha a vida inteira e chega a época em que a gente está necessitando de, pelo menos, um banho decente, o básico”, ressalta.

A copeira Tamires Serafim, 36, mora no São Jorge junto com os três filhos, de 3, 9 e 15 anos, e explica que a água chegou a voltar na casa dela por cerca de 10 minutos neste domingo, mas que logo foi cortada novamente. Nesses minutos, ela conta que aproveitou para dar banho nos filhos, que voltam para a escola nesta segunda-feira (05), e lavar a louça acumulada desde quinta-feira.

Ela explica que, após o trabalho, passava todos os dias na casa da mãe para encher quatro garrafas pet de dois litros cada. Para o banho, segundo ela, a solução encontrada pela família foi todo mundo tomar banho na mesma água, que ficava separada em um balde.

Para piorar a situação, ela ressalta que machucou o pé no trabalho e vai precisar colocar gesso, sendo que agora vai ter que contar com a bondade dos vizinhos, já que não consegue nem levantar da cama.

Nos últimos dias, ela admite que a casa ficou com um cheiro desagradável. Além da louça que ficou acumulada, eles não estavam dando descarga no vaso sanitário. “Tudo a gente já paga, então a água é nosso direito.”

“Eles tinham que dar mais atenção para a gente, dos assentamentos, porque a gente já não tem uma condição digna de moradia, então o mínimo é a água”, cobra, ressaltando que a falta d’água pode, inclusive, trazer problemas para a saúde, já que a limpeza da casa fica comprometida, atraindo insetos, como moscas. “É muito constrangedor.”

OUTRO LADO

Por meio da assessoria de imprensa, a concessionária informou que o abastecimento na região foi causado por conta de um rompimento completo da rede durante a execução de uma obra na Avenida Saul Elkind na quinta-feira. A empresa disse que o problema foi resolvido no mesmo dia, mas que a entrada de lama e terra na tubulação deixou o abastecimento intermitente na região. Um novo vazamento encontrado na rede neste domingo, entre os reservatórios Norte e Vivi Xavier, agravou o problema. Entretanto, a empresa disse que o vazamento também já foi consertado e garantiu que o abastecimento de toda a região deve ser normalizado até às 21 horas deste domingo.