NATAL - Pelo menos 20 pessoas foram mortas no espaço de algumas horas, entre anteontem e ontem, por um ex-atirador de elite do Exército, armado com uma pistola automática e um revólver calibre 38 com silenciador. Ao ser cercado por um tropa de 50 policiais enquanto mantinha dois reféns sob seu poder, Genildo Ferreira de França, 27 anos, acabou sendo morto. As mortes em série aconteceram no povoado de Santo Antonio dos Barreiros, município de São Gonçalo do Amarante, a 15
quilômetros de Natal, no Rio Grande do Norte.
Vestindo de calça jeans, camisa branca e colete camuflado, o ex-soldado começou sua ação macabra na tarde da quarta-feira, tomando como refém a jovem Valderice Ribeiro. À noite, matou a mulher e outros familiares. Durante a madrugada, França telefonou para a polícia confessando os crimes. Um sargento e um soldado foram enviados a sua casa para fazer a prisão e ao chegar foram assassinados por França.
Entre as vítimas do assassino estão a ex-mulher e o atual marido dela, um motorista de táxi, além de várias outras pessoas cuja relação com o criminoso não é clara. Segundo relatos da polícia local, alguns dos mortos seriam apenas pessoas que o atirador encontrou pela frente. Outras versões são de que o ex-soldado, num misto de premeditação e loucura, tinha uma lista de nomes de pessoas ‘‘marcadas para morrer’’ no bolso. Ele teria enlouquecido devido à morte recente de um filho, por atropelamento. A polícia não pôde confirmar o motivo do ataque.
Depois de assassinar familiares e a ex-mulher, França passou a disparar contra quem cruzava o seu caminho. O comerciante Fernando Correia, 42 anos, foi morto dentro do seu caminhão, quando subia uma ladeira no povoado. França surgiu na frente do veículo e acertou o motorista na cabeça. O ajudante do caminhoneiro, Nonato dos Santos Silva, 22 anos, conseguiu escapar dos disparos. Dirigindo o automóvel Pálio (táxi) do marido da ex-mulher, já morto, o ex-soldado continuou atirando em quem passasse, durante toda a manhã. Ele encheu o carro de caixas de munição, água e alimentos, e só parou de dirigir quando a gasolina acabou. Ágil, o assassino conseguiu escapar do primeiro cerco que a Polícia Militar armou, nas proximidades de uma fábrica de cerâmica. França rastejou pelo mato alguns quilômetros, em meio a um capinzal e muita lama. Para dificultar o trabalho da polícia, o helicóptero do governo do Estado estava em pane e não conseguiu sobrevoar a área. Enquanto isso, por volta do meio-dia, chegavam ao Ginásio de Esportes da cidade mais cinco corpos de vítimas do atirador.
Especialista em tiro, Genildo acertou quase todas as vítimas na cabeça. Na fuga pelo matagal, ele levou duas reféns: uma criança de 5 anos e a jovem Valderice Ribeiro. A polícia investiga qual o papel da jovem no caso, pois teria ajudado França a escrever uma carta justificando seus atos.
Cerca de 50 policiais participaram da caçada ao ex-soldado. ‘‘Em 26 anos de polícia nunca vi nada parecido’’, disse o coronel Josemar Tavares, da Tropa de Choque da PM. No cerco final, em um lamaçal de difícil acesso, França ainda feriu dois militares.
Valderice assegura que França atirou contra o próprio peito antes de ser metralhado pelos homens da PM. A polícia não confirmou a informação.
O serial killer estava escondido por trás de uma árvore, trazia uma garrafa de refrigerante de dois litros cheia de água e uma sacola de alimentos. ‘‘Não havia condições para fazê-lo prisioneiro’’, garantiu o coronel Tavares. Depois de morto, a polícia verificou que França ainda possuía um pente de balas no bolso.
No final da tarde de ontem, o delegado Sérgio Leocádio procurava mais corpos de vítimas do ex-soldado, que estariam espalhados em uma estrada de barro próxima ao município de Ceará-Mirim.