São Paulo - Um incêndio de grandes proporções em uma pensão na região central de Porto Alegre provocou a morte de dez pessoas na madrugada desta sexta-feira (26). Outras seis pessoas foram resgatadas pelos bombeiros e levadas para atendimento médico.

O prédio de três andares, na avenida Farrapos, pegou fogo no meio da madrugada. O incêndio chegou a ser controlado, mas as chamas voltaram a tomar conta do imóvel por volta das 5h. Os corpos foram encontrados durante a varredura nos bombeiros no local.

Uma pensão funcionava no local em situação irregular, sem alvará e plano de segurança. O incêndio ocorreu perto de um posto de combustíveis, o que assustou ainda mais moradores vizinhos ao prédio e motoristas que passavam pelo local.

O prédio ficou completamente destruído. Segundo os bombeiros, os corpos das vítimas foram encontrados carbonizados. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), se manifestou em suas redes sociais dizendo que a morte de pessoas no incêndio "consterna profundamente".

Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou tristeza e preocupação diante do número de mortos no incêndio. Segundo ele, o estabelecimento acolhia pessoas em situação de vulnerabilidade na capital gaúcha. "Minha solidariedade às famílias e aos amigos que perderam seus entes”, postou.

SOBREVIVENTES

"O fogo começou quando eu estava quase dormindo e pegou fogo no colchão, num quarto que não tinha ninguém. Aí eu só me lembro que começou a correria. Foi questão de minutos para o fogo tomar conta", conta Breno Rivera Rodrigues, 29, um dos sobreviventes do incêndio.

Rodrigues morava na Pousada Garoa há mais de um ano. Ele conta que, quando as chamas começaram, estava no seu quarto no segundo andar, um espaço de "2 metros por 3", separado dos vizinhos por uma divisória de madeira.

Segundo ele, as vítimas são em maioria idosos que não conseguiram sair do prédio de quatro andares. Os peritos ainda apuram o que teria provocado as chamas, e a Defesa Civil diz que trabalha com a hipótese de incêndio criminoso.

De acordo com informações da Defesa Civil, corpos foram retirados inteiramente carbonizados, e a suspeita é de que a maioria estivesse dormindo. "Se eu não tivesse acordado, acho que nem estaria aqui. Eu só quero agradecer a Deus", diz o sobrevivente.

Tiago de Almeida de Sousa, 35, também morava no segundo andar e sobreviveu ao incêndio. No final da manhã ele ainda relatava ardência nas mãos e nos braços pelo contato com as chamas. Também tinha um galo na cabeça e escoriações de quedas que sofreu ao tentar escapar.

"Eu estava deitado, quase pegando sono. Um rapaz do outro lado começou a gritar, a gente pensou que era briga. A hora que eu abri a porta, estava pegando fogo em tudo. Estava já com fumaça, não dava para enxergar nada. Só sei que tive que ser correndo e caí no chão, e meio que engatinhando saí para a rua", conta.

Um amigo, com quem trabalhava em uma serralheria próxima, não conseguiu sair e morreu. "Morava do lado do meu quarto."

Marco Aurélio de Souza também era morador da Pousada Garoa, mas do prédio exatamente ao lado do incendiado, que não foi atingido diretamente pelo fogo. Na manhã desta sexta, todos os moradores dos imóveis vizinhos à pensão foram removidos do local e aguardavam encaminhamento.

Segundo Souza, a condição do prédio em que morava era a mesma do edifício ao lado. Com estrutura de madeira e fiação elétrica à vista, ele relata que havia infestações de ratos, baratas e percevejos nas pensões.

"Tu vai acessar a cozinha e o banheiro, é barata por tudo. Se tu não botar uma tampa na panela, não consegue fazer comida. É uma condição desumana", disse ele.

Os três homem têm histórico de viver em situação de rua e pagavam o aluguel da pousada -anunciado por R$ 550 ao mês- com um voucher que recebiam de um programa da Prefeitura de Porto Alegre.

Segundo informações, a Prefeitura de Porto Alegre tem contrato de R$ 2,7 mi com a pensão. Aditivo de contrato foi assinado em dezembro de 2023. O documento, ao qual o UOL teve acesso, mostra que o novo contrato era válido por 12 meses e a empresa receberia R$ 225.448,33 por mês. O prefeito Sebastião Melo informou que documentos do convênio serão analisados.

INVESTIGAÇÕES

Agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) monitoram e orientam o trânsito no entorno da ocorrência. Em nota, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul informou que a investigação está a cargo da 17ª delegacia de polícia, coordenada pelo delegado Daniel Ordahi.

“As diligências estão sendo tomadas e acompanhadas junto ao corpo de bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar e Instituto Geral de Perícias. Estão sendo aguardados os relatórios técnicos e resultados das demais apurações investigativas.”(Com Agência Brasil)