Atuar no combate aos distintos casos de violência em meio ao vasto território rural de Londrina tem sido um desafio histórico para as forças de segurança pública. Questões como a distância de deslocamento da cidade até o campo, a condição de estradas rurais e até mesmo a dificuldade de comunicação de uma ocorrência criminosa por parte da vítima são alguns dos maiores desafios.

Unidos em torno de uma ideia rascunhada há mais de 15 anos, ainda em 2007, produtores rurais e outros moradores da região conseguiram com autoridades estaduais e municipais tirar um projeto do papel. A meta é dar mais dinamismo à resolução de questões de segurança pública nas áreas rurais de Londrina e do município vizinho de Tamarana.

A iniciativa em questão é a criação do Conselho de Segurança Rural Sul de Londrina. A entrega da carta constitutiva dos membros do Conseg ocorreu no último dia 7. Além de agricultores e empresários, a entidade tem como integrantes natos a Guarda Municipal (GM) de Londrina, a Polícia Civil (PC) e a Polícia Militar (PM).

“POSTE INTELIGENTE”

Uma das pretensões mais ambiciosas do novo conselho é conectar a zona rural por meio de uma ação batizada de “Olho Vivo”. O intuito é espalhar “postes inteligentes” que, alimentados por energia solar, teriam conexão direta com as forças de segurança, fariam o videomonitoramento das redondezas e colaborariam em dados como a coleta de condições meteorológicas.

“Levamos essa proposta para a Londrina Iluminação para verificar se isso é viável baseado na experiência que a gente tem hoje com os totens na área urbana. Em uma área rural, se isso for possível, você pode ter uma câmera que vai controlar a passagem de veículos por aquele local, identificar através de placas e a gente construir informações para a tomada de decisões”, detalhou o secretário de Defesa Social de Londrina, coronel Pedro Ramos.

Para o chefe da GM, se a proposta der certo, será “fundamental” para facilitar o trabalho das equipes em campo. “Não é só o homem e a viatura, mas você pode usar sistemas de câmeras, alarmes, aplicativos de pânico, que em apenas um botão a pessoa pode avisar a nossa central.”

“Segurança pública não é uma coisa só de polícia, é de toda a sociedade [...] Essa proposta do Conseg Rural é antiga, quando eu estava na ativa da Polícia Militar, em contato com a liderança rural daquele momento, que era o Ronaldo Siena [hoje secretário do Ambiente de Londrina]”, relembrou Ramos.

“FAZER OS PRODUTORES PARTICIPAR”

Reunião do Conseg na última segunda-feira (6): união de forças tirou do papel projeto de mais de 15 anos atrás
Reunião do Conseg na última segunda-feira (6): união de forças tirou do papel projeto de mais de 15 anos atrás | Foto: Lucas Marcondes

A presidência do conselho nos próximos dois anos caberá ao empresário e produtor rural Paulo Hara. “Em primeiro lugar, temos que fazer os produtores participar [...] Primeiro, formar os líderes de distritos [rurais] e comunidades, fazer um treinamento de como acompanhar, cobrar, ver dentro da comunidade o que vai ser preciso para eles para a gente fazer projetos juntos”, vislumbrou o londrinense.

Antes de se tornar oficial, segundo Hara, o Conseg já se mobilizou para contribuir com equipamentos necessários para a instalação da nova sede da Patrulha Rural da PM, às margens da PR-445, no acesso ao Patrimônio Selva. A estrutura está em funcionamento desde julho deste ano.

“Como não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, isso vai ser facilitado por conta do Conseg. As pessoas virão até nós pelo Conseg para que possamos cada vez mais ouvir a população da área rural”, comentou o comandante do 5º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Marcos Tordoro. A unidade da PM é responsável pela área rural de Londrina e seus distritos, além de Tamarana.

O coordenador estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança, coronel Chehade Elias Geha, chamou atenção para o ineditismo da ação – além de Londrina, há no Paraná outro Conseg recentemente criado, em Toledo. Para ele, esse pontapé inicial pode incentivar outras regiões a instituir grupos semelhantes.

“A segurança pública tem que ser vista de forma horizontal, onde todos participam [...] Para o governo [estadual], o Conseg está para realizar política pública de segurança. Não precisa nem registrar em cartório e nem tirar CNPJ. Com a carta constitutiva, onde existe o reconhecimento do estado e da Secretaria de Segurança Pública para esses colaboradores, é o suficiente”, explicou Geha.

Ao discursar no evento do dia 7, ele pediu ainda que o telefone 181 seja mais divulgado para a população pelo Conseg e os órgãos públicos. O canal de disque-denúncia em nível estadual é voltado para o relato anônimo de todo tipo de situação criminosa, seja ela acontecendo naquele momento ou não. “A função social do Conseg é a aproximação da comunidade com as forças de segurança”, salientou o coordenador em entrevista.