Fatores como crise financeira, desemprego e cenário político conturbado influenciam no aumento dos casos de depressão
Fatores como crise financeira, desemprego e cenário político conturbado influenciam no aumento dos casos de depressão | Foto: Shutterstock



O Brasil tem a maior taxa de pessoas com depressão na América Latina e uma média que supera os índices mundiais. Dados publicados nesta quinta-feira (23) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 322 milhões de pessoas pelo mundo sofrem de depressão, 18% a mais do que há dez anos. O número representa 4,4% da população do planeta.

No caso do Brasil, a OMS estima que 5,8% da população nacional sejam afetados pela depressão. A taxa média supera a de Cuba, com 5,5%, a do Paraguai, com 5,2%, além das de Chile e Uruguai, com 5%. Para o psiquiatra e vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ) na Região Norte do Estado, Júlio César Nogueira Dutra, os dados são alarmantes e consolidam a realidade vivida pelos especialistas nos consultórios. "Os números chamam a atenção para este grave problema. A depressão não é tristeza nem frescura, mas sim uma doença séria", alertou.

Dutra observa que a imagem de que o brasileiro é um povo alegre precisa ser vista com ressalvas. "O brasileiro é, sim, um povo alegre, mas extremamente sentimental. Ele se apega muito e, quando ocorre uma frustração, tem dificuldades de lidar com isso", argumentou. Segundo ele, o clima predominante quente do País é uma vantagem em relação a países mais frios, onde as taxas de pessoas com depressão são ainda maiores. "O sol e o clima quente são fatores que ajudam as pessoas na recuperação da doença", disse.

O psiquiatra lembra que questões como crise financeira, desemprego e cenário político conturbado também influenciam no aumento dos casos de depressão. "Quando discutimos esses dados, todo o cenário social deve ser observado", avaliou. Dutra aponta ainda questões de comportamento ligadas à tecnologia que contribuem para agravar o quadro. "Hoje vivemos a era das redes sociais. Todos conectados, mas ninguém próximo. Muitas vezes um familiar está precisando de atenção e a pessoa está fechada em si, buscando ganhar mais curtidas, ou mais dinheiro", criticou.

Segundo Dutra, os transtornos mentais são responsáveis por 20% de todas as doenças que acometem a população mundial. No caso global, as mulheres são as principais afetadas, com 5,1% delas com depressão. Entre os homens, a taxa é de 3,6%. Em números absolutos, metade dos 322 milhões de vítimas da doença vivem na Ásia. "Quando se trata de depressão, as mulheres estão mais suscetíveis, pois são mais sentimentais. Já a ansiedade atinge igualmente os dois sexos", explicou.

De acordo com a OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo, em cerca de 7,5%. Ela é também a principal causa de mortes por suicídio, com cerca de 800 mil casos por ano.

ANSIEDADE
Além da depressão, a entidade indica que, pelo mundo, 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade, uma média de 3,6%. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005.

Uma vez mais, o Brasil lidera na América Latina, com 9,3% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade. A taxa, porém, é três vezes superior à média mundial. Os índices brasileiros também superam de forma substancial as taxas identificadas nos demais países da região. No Paraguai, a taxa é de 7,6%, contra 6,5% no Chile e 6,4% no Uruguai.

Em números absolutos, o Sudeste Asiático é a região que mais registra casos de transtornos de ansiedade: 60 milhões, 23% do total mundial. No segundo lugar vêm as Américas, com 57,2 milhões e 21% do total.

No total, a OMS ainda estima que, a cada ano, as consequências dos transtornos mentais gerem uma perda de US$ 1 trilhão no mundo.(Com Agência Estado)