Brasília - O ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho gritou frases como "Aqui é Bolsonaro!" e "Petistas vão morrer" antes de matar o guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (Oeste), de acordo com parecer técnico encomendado pela assistência de acusação. O crime ocorreu em 9 de julho de 2022.

O documento, de 61 páginas, será usado pelo assistente de acusação Daniel Godoy Junior para embasar a tese de que o crime teve motivação política, argumento negado pela defesa de Guaranho, que afirma que a morte de Arruda foi motivada por uma "discussão de 5ª série". O júri popular está marcado para começar nesta quinta-feira (4).

O parecer, produzido pelo laboratório Análise de Credibilidade, teve como base as gravações feitas pela câmera de segurança do local onde era realizada a festa de 50 anos de Arruda, que tinha como tema o PT. O material se baseia na leitura labial de Guaranho a partir das interações com o guarda municipal, antes do crime e quando retornou ao evento.

Em um primeiro momento, o ex-policial penal grita "Aqui é Bolsonaro! Bolsonaro, porra! Petralha." A segunda análise ocorre quando Guaranho volta à festa e grita "Petistas vão morrer! Pra baixo, pra baixo, pra baixo!", de acordo com o parecer.

O laboratório disse não ter usado informações prestadas nos depoimentos para elaborar o parecer e afirmou que, para identificar o que foi dito, também recorreu à análise da "situação comunicativa, além do estudo da análise corporal e das microexpressões faciais, com o objetivo de sobrepujar a qualidade limitada da imagem e acrescentando informações para além das identificadas através da leitura labial."

"Desta forma, foi possível identificar a verbalização dos sons vocálicos, a parte dos sons consonantais, as expressões faciais de raiva e a postura intimidatória", conclui o documento.

Para Godoy, os laudos realizados pelo Instituto de Criminalística e o lado complementar confeccionado pelo laboratório "demonstram a robustez e de forma bastante farta a existência de provas com relação à motivação política do crime".

"O que se espera agora é que, na sessão do júri, isso venha à tona para desmontar de forma definitiva a tentativa de produção de fake news de forma a empalidecer o resultado do trabalho realizado até aqui pelo Ministério Público e pela assistência de acusação."

Novo advogado do ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, Samir Mattar Assad nega motivação política na morte do guarda municipal.

Assad diz ter sido procurado por familiares do réu após a saída do Escritório Dalledone e Advogados Associados, em 19 de março.

Segundo ele, a diferença desse caso para os demais é o tempo exíguo de estudo, "tirando essa narrativa que foi introduzida [de motivação política]".

Na avaliação dele, "foi uma discussão que internamente a gente até fala que é uma discussão de 5ª série." "Eles discutem de forma banal por uma besteira, e tem a agressão do senhor Marcelo, que acaba gerando todo esse conflito", afirma Assad.

O advogado estima que o julgamento deva durar dois dias e critica o acordo anunciado pela AGU (Advocacia-Geral da União) segundo o qual a União fica obrigada a pagar uma indenização de R$ 1,7 milhão à família de Arruda.

"Você vai ver que não existem precedentes nesse sentido. E por outro lado, é precipitado você fazer esse tipo de acordo com uma causa que não foi julgada."

Em 19 de março deste ano, Guaranho foi demitido pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, no contexto de um Processo Administrativo Disciplinar instaurado na época do crime para apurar a atuação do agente, então servidor da penitenciária federal de Catanduvas (Oeste).